Tragédia familiar força mudança para o centro da cidade

Casa da Maestro Osvaldo Evaristo, no Bairro dos Estados, em João Pessoa

Casa da Maestro Osvaldo Evaristo, no Bairro dos Estados, em João Pessoa

Do Conjunto Boa Vista, os Barbosa da Nóbrega mudaram-se para uma casa alugada na Vila Felipeia da Avenida Almeida Barreto, que fica por trás do Mercado Central de João Pessoa. Mudança forçada por uma tragédia familiar.

Menos de três meses depois de perder o marido, Padim Joca, morto por causas naturais, vó Mãe Ina resolveu por conta própria antecipar o reencontro com o meu avô. Ela morava pertinho da gente, numa casa que fazia esquina com o Mercado dos Estados. Sua morte traumatizou a família de tal modo, principalmente minha mãe, que meu pai decidiu vender a casa do Boa Vista e alugar outra.

Escolheu o centro da Capital, talvez em razão da distância das lembranças da presença constante de minha avó lá em casa. Mesmo assim, Dona Aparecida levou no mínimo dois anos para superar a perda da mãe, à qual devia ser a filha mais apegada.

Gostei muito de morar na Vila, especialmente porque tinha na vizinhança uma moça que me despertou bons sentimentos e boas intenções. “Só tinha um problema”, como dizem lá em Bananeiras. O rapaz aqui estava noivo, de aliança e tudo, com outra moça. A quem notificou certo domingo que não poderia comparecer à casa dela, no Bairro dos Expedicionários. Inventou um mal-estar qualquer para poder ir com a vizinha a uma sessão no antigo Cine Municipal.

Não deu certo. A noiva veio checar pessoalmente a doença e tomar conta do doente. Encontrou-me banhado e perfumado no exato momento em que abria o portão para na casa ao lado iniciar um relacionamento que poderia ter acabado aquele noivado. O quase flagrante não me deixou alternativa. Menti descaradamente. Disse que tomara um mijo de santo, remédio milagroso que me interrompeu fictícia diarreia e reabilitou-me para sair de casa e encontrar amigos no Cassino da Lagoa, ali pertinho.

Dei o bolo na outra, claro, mas ela não se contrariou. Usei a mesma ‘diarreia’ para justificar o não comparecimento ao encontro marcado. Ficamos amigos, só amigos e nada mais, como diz aquela canção do Roberto que volta e meia me pego cantando, que na minha cabeça toca feito trilha sonora do episódio.

***

Com o dinheiro da venda da casa do Boa Vista, mais um financiamento complementar, após a Vila Felipeia o Professor Vicente compraria uma casa no Bairro dos Estados, na Rua Maestro Osvaldo Evaristo. Foi a última que compartilhei com pais e irmãos. Da Maestro Osvaldo saí para casar – com a noiva que um dia enganei – e viver na minha casa própria, no Conjunto dos Jornalistas, no Castelo Branco, vizinho ao campus da UFPB em João Pessoa.

Não resisto em anotar o detalhe: ao contrário do que aconteceria se tivesse evoluído o relacionamento com a coleguinha do Liceu Paraibano, que não me aceitou porque já namorava com “o filho de Aciolly”, casei com alguém que não se referia a mim apenas como “o filho do Professor Vicente” ou “filho de Dona Aparecida”, embora ser filho desses dois seja uma das poucas melhores credenciais que posso mostrar.

Capítulos anteriores

No próximo domingo, o penúltimo capítulo da série ‘Mudanças & Moradias’. Enquanto isso, para quem quiser e me conceder a graça de sua leitura, encerro deixando os links das crônicas já publicadas, começando pela última antes desta.

Do vício de fumar à rejeição da menina do Liceu

Na casa de conjunto, no escurinho da mangueira

Na última casa em Bananeiras, a mocinha da casa foge para casar

Feito Gonzaga, também tenho um sítio que anda comigo

Da casa do Campus ao centro da cidade

Mudanças e Moradias. De Bananeiras a João Pessoa

 

É BOM ESCLARECER
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3 Respostas para Tragédia familiar força mudança para o centro da cidade

  1. Everaldo Nóbrega escreveu:

    Gosto de suas crônicas, principalmente das memorialistas, primo! Parabéns!

    Quanto ao meu livro, “O Sol e a Lua – Contos e Crônicas”, estou terminando a revisão (desde aquele tempo que o havia deixado de lado, por falta de tempo) e brevemente lhe passarei os originais dele. Desculpe o atraso.

    Abraço!

  2. Egyto escreveu:

    Muito boas, esses relatos..

  3. Carlos Candeia escreveu:

    Ao tempo em que parabenizo o qualificado jornalista , de quem sou leitor contumaz ; aguardo com ansiedade os dois últimos capítulos .