João Pessoa em alta acende alerta de excesso no turismo

Por Filipe Luna

Booking colocou João Pessoa na trilha do overtourism

Recentemente nomeada como principal tendência de destino para 2025 pelo Time Out Travel, com dados do Booking.com, João Pessoa se prepara para um aumento no fluxo de turistas.

A novidade foi comemorada por vários setores com a expectativa desse boom, que sem dúvidas trará retorno financeiro para atividades ligadas ao turismo. Porém, por outro lado, é palpável o sentimento de ansiedade de quem mora em João Pessoa, e está sentindo a sobrecarga, não apenas na infraestrutura existente, mas também no custo de vida.

Aliado ao contexto do crescimento populacional de 15,3% observado pelo Censo Demográfico de 2022, nesse cenário o pessoense passa a incorporar um termo ao seu vocabulário: o overtourism — a pressão turística que pode sobrecarregar recursos locais, agravar desigualdades e impactar o meio ambiente.

Numa cidade já marcada pelo descompasso entre áreas ocupadas e infraestrutura, os conceitos de sustentabilidade e gestão responsável são cruciais.

Isso não implica em proibir ou inviabilizar a atividade turística, mas sim repensar sua forma e sua escala, para que tenhamos um modelo que dialogue nas dimensões ambientais e sociais com seu entorno, em vez da criação de um Polo Turístico através do desmatamento de 47 hectares de Mata Atlântica.

Para além da questão ambiental, a oferta de unidades habitacionais tende a sofrer ainda mais com a conversão de imóveis em unidades de aluguel de curta duração.

Essa configuração, impulsionada pelo aumento do turismo, reduz a quantidade de residências disponíveis para moradores locais, elevando os preços dos aluguéis e dificultando o acesso à moradia. Gerando um deslocamento da oferta habitacional, priorizando turistas e prejudicando a permanência de famílias que dependem de aluguéis acessíveis.

Contribuindo para o efeito de exclusão dos moradores locais está o fato de que João Pessoa consolidou-se como um destino de baixo custo, atraindo um volume crescente de turistas em busca de preços acessíveis. Porém, esse baixo custo tem sua origem em grande parte na realidade salarial desfavorável.

Dados da RAIS 2022 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que a Paraíba ocupa a última posição nacional em remuneração de trabalho formal, com uma média de R$ 2.837,66, bem abaixo da média nacional de R$ 3.754,80, limitando o poder de compra local. Veja:

É preciso, portanto, pensar a cidade, e de fato o Estado, através de experiências e mecanismos que outros lugares que lidaram com o overtourism, adaptando ao contexto local para a criação de boas práticas de um turismo social e ambientalmente responsável.

Se adotadas de forma participativa, essas práticas podem ajudar João Pessoa a crescer de forma equilibrada e sustentável, assegurando que seu desenvolvimento turístico beneficie a todos.

  • Imagens: Time Out Travel, Google Earth (2005, 2024)

Esquerda precisa reaprender a linguagem do povo

por Fernando Patriota

Foto: Agência Brasil

Com base nos resultados das eleições municipais do primeiro turno, é urgente a necessidade da esquerda brasileira se aproximar mais do povo, principalmente, das correntes religiosas mais pobres, que são constantemente enganadas por charlatões e falsos líderes de pequenas ou grandes igrejas, sobretudo, evangélicas. É preciso ser mais orgânico que teórico. É preciso deixar as teses um pouco de lado e partir para a rua. É preciso reaprender, de fato, a linguagem atual do povo.

A conexão com as classes sociais, especialmente nos momentos em que as crises econômicas e sociais se agravam, é fundamental para que a esquerda se reafirme como a verdadeira voz dos trabalhadores e das minorias, buscando transformar as cidades em espaços mais justos e inclusivos para todos.

Só que as urnas não metem. PSTU, PCB, PCO, PSOL e UP não conseguiram eleger prefeitos. O Psol tentou eleger Boulos, no segundo turno de São Paulo, que seria um banho de água fria no crescimento da ‘direitona’. Enquanto isso, O PSD foi o partido que mais elegeu prefeitos no este ano. Ao todo, foram 888 eleitos, 35% a mais do que na eleição passada. É a primeira vez em 20 anos que o MDB não lidera esse ranking de prefeituras; mas o partido vem em segundo lugar, com 861 prefeitos eleitos, um crescimento de 8% em comparação com 2020. O Progressistas aparece em terceiro lugar, com 772 prefeituras conquistadas.

Já o União Brasil é o quarto colocado no ranking, com 589 prefeitos. Juntos, o PSD, MDB, PP e União Brasil somaram mais de 3000 prefeitos eleitos, o que corresponde a mais da metade dos municípios brasileiros. O PL elegeu 523 prefeitos e PT, 251.

Mesmo com uma fala cheia de absurdos e, muitas vezes, com mentiras fáceis de serem descobertas, o fato é que os partidos de direita, extrema direita e centrão encontraram o caminho dos votos. A realidade do Brasil, marcada por profundas desigualdades sociais e econômicas, exige que os partidos progressistas voltem a focar no diálogo com as comunidades, nos bairros, nas periferias e com os trabalhadores. Os sindicatos é outra força que precisa ser ressuscitada.

Nos últimos anos, parte da população, principalmente os jovens, se sentiu distante de debates políticos que pareciam mais voltados para discussões abstratas ou para disputas internas de poder do que para as questões urgentes do dia a dia, como saúde, educação, moradia, transporte e segurança. Para reconquistar essa confiança e conquistar novos eleitores, a esquerda precisa retomar o contato direto com o povo, ouvindo suas demandas e apresentando soluções concretas e viáveis. Além disso, tem que (re)aprender com o povo.

As eleições são uma oportunidade única para os partidos de esquerda se reaproximarem da população, promovendo candidaturas que estejam verdadeiramente engajadas com os problemas locais e que se comprometam a atuar de forma transparente e participativa. Mais do que nunca, é necessário que a política seja feita de baixo para cima, com o fortalecimento da democracia nas ruas, praças e assembleias populares.

Jazigos doados à Prefeitura ficam nos fundos do Parque das Acácias

Os 600 jazigos privados doados até hoje à Prefeitura da Capital ocupam lotes no Jardim Mangabeira, no bairro do José Américo. As doações possibilitaram enterrar pessoas de baixa renda mortas durante a pandemia da Covid-19 (2020-2021), quando os cemitérios públicos de João Pessoa tiveram sua capacidade e espaços esgotados por tantos enterros. 

O Jardim Mangabeira fica nos fundos do Parque das Acácias, onde descansam para sempre, em sua maioria, membros de famílias abastadas da cidade. Que não precisam nem precisaram pedir túmulo de graça à Prefeitura para enterrar algum parente, ao contrário do que houve com pessoa que solicitou um para o padrasto e não foi atendida.

Entrada do Parque das Acácias

O caso foi revelado aqui com informação de que os jazigos teriam sido comprados pela Prefeitura. Não houve compra, mas doação em contrapartida à permissão que a Prefeitura de João Pessoa concedeu aos donos do Parque das Acácias para instalarem cemitérios e comercializarem serviços funerários na capital, incluindo a venda de jazigos.

“O acordo com a Prefeitura foi celebrado em 1996, na gestão do prefeito Chico Franca”, informou sócio do Parque das Acácias com quem conversei esta semana, acrescentando que no processo ficou garantida “a doação de um percentual (5%) das vagas de jazigos para o município, a ser entregue na medida em que forem construídos”.

Entrada do Jardim Mangabeira

“Até hoje já construímos 12.000 e doamos 600 jazigos de uma gaveta no cemitério Jardim Mangabeira, que fica no mesmo terreno (do Parque das Acácias) no José Américo”, disse o empresário, que prefere não ter seu nome exposto publicamente. Ele informou ainda que a área foi comprada à Plancol, antiga construtora de edifícios na capital.

Respondendo a perguntas do blog, o empresário negou que a Prefeitura tenha cedido alguma área pública ou concedido isenção tributária ao empreendimento em troca da doação dos jazigos. “Pelo contrário, a Prefeitura não paga nem a taxa de manutenção que cobramos de todos os clientes”, observou.

SECRETÁRIO EXPLICA CRITÉRIOS

Conforme prometera na quarta-feira (6), Rodrigo Trigueiro, secretário de Serviços Urbanos da capital, enviou anteontem ao blog os esclarecimentos solicitados sobre critérios de acesso aos jazigos doados à Prefeitura pelo Parque das Acácias. Assim:

  • Em resposta ao questionamento sobre os critérios de escolha do cemitério para o enterro dos mortos durante a pandemia, segundo o Diretor da Divisão de Cemitérios no período ocorreu por escolha dos familiares (entre as opções disponíveis), porém, após todos os cemitérios lotarem, foram todos encaminhados para a área destinada à Prefeitura no Parque das Acácias. Se faz necessário ressaltar que durante meu período à frente da Sedurb jamais me foi solicitado a intervenção visando beneficiar qualquer pessoa.

Trigueiro assumiu o cargo de secretário de Serviços Urbanos da PMJP em 15 de março deste ano. Ocorreu em outubro último o falecimento que gerou a demanda por um dos túmulos doados à Prefeitura pelo Parque das Acácias. No contato inicial com a empresa sobre o assunto, quem me atendeu ao telefone informou o nome de um servidor de Sedurb (que preservo) com quem deveria tratar sobre enterros no cemitério-parque do José Américo.

O número de telefone informado não viabilizou o contato direto com o funcionário indicado, que seria lotado em um setor da Sedurb conhecido como Secaf ou Cecaf. Nenhuma das ligações foi atendida. Assim, também não foi possível identificar a sigla correta do tal setor. Lembrando que até então ainda não era do conhecimento do blog que as doações restringiram-se aos lotes do cemitério mais popular, digamos, do empreendimento doador dos jazigos.

Jardim Mangabeira e Parque das Acácias são cemitérios distintos, bem distintos, apesar de pertencerem a mesma empresa. Daí deduz-se que pelas imagens e tamanhos dos dois é quase impossível afirmar que cabem no primeiro os 12 mil jazigos dos quais saiu a ‘cota’ de 5% reservada à Prefeitura. Possível estimar, de outro lado, que o total de lotes incluiu o segundo, mas nele não repousa corpo algum de quem dependeu da cova pública para se enterrar. 

O espaço continua aberto a explicações, desmentidos, esclarecimentos ou confirmações dos envolvidos.

João Pessoa retrocede em mobilidade sustentável

por Filipe Luna

Na minha trajetória em defesa do transporte ativo, aprendi uma lição dura: é preciso estar sempre vigilante com as conquistas, pois é muito fácil vê-las se transformarem em retrocesso.

Recentemente, João Pessoa perdeu mais de 2 km de ciclovia segregada na Avenida Ruy Carneiro, uma das principais vias da cidade. A mudança ocorre para viabilizar a ampliação de duas para três faixas de rolamento em cada sentido. A faixa da direita foi sinalizada horizontalmente como ciclorrota até a altura do rio Jaguaribe (1,2 km). A partir dali, os ciclistas precisam cruzar as três faixas para acessar uma ciclofaixa junto ao canteiro central. Para isso, 18 árvores foram removidas do canteiro, impactando o conforto térmico da área e atingindo de forma desproporcional quem caminha e pedala 🔗 https://lnkd.in/dz6F22JE.

Outro exemplo é a Av. General Edson Ramalho, em Manaíra, onde 1,6 km de infraestrutura cicloviária também foi convertida em ciclorrota para abrir espaço para mais uma faixa de trânsito. Uma solução pensada para vias locais de até 30km/h, implementada em avenidas de alto fluxo e concentração de linhas de ônibus, sem sinalização vertical adequada, apenas com a pintura no asfalto. Aumentando o conflito entre ciclistas, ônibus e veículos particulares dentro de um contexto recente de fatalidade: uma ciclista perdeu a vida em uma via movimentada sem infraestrutura adequada 🔗 https://lnkd.in/d3a_8rG6.


A cidade lidera o crescimento populacional no Nordeste, segundo o Censo de 2022. Mas as respostas à demanda por mobilidade têm seguido um caminho insustentável. Ao priorizar o espaço para veículos, a cidade incentiva o uso do carro, tornando inviáveis os deslocamentos a pé e de bicicleta. Esse ciclo não só agrava a segurança viária, mas também tem repercussões econômicas e reduz o acesso das camadas mais vulneráveis a oportunidades.

João Pessoa precisa adotar políticas para um crescimento sustentável, aprendendo com erros já vistos em outras capitais e apostando em soluções que priorizem a segurança e a inclusão no trânsito.

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• Filipe Luna é advogado e pesquisador de mobilidade urbana e desenvolvimento urbano no LabRua, com foco na promoção do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS)

Baixa qualidade do ensino em Bananeiras deixa professor indignado

Infográfico gerado da plataforma QEdu

Natural de Bananeiras, professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o zootecnista Antônio Carlos Ferreira de Melo manifestou nesta quinta-feira (7) sua “profunda indignação” diante de informações que expõem graves deficiências e insuficiências do ensino fundamental no município.

“Bananeiras, nos últimos tempos, tem sido exemplo de retrocesso em quase tudo, a começar pelo desastre que vem ocorrendo também no setor da educação de uma cidade que já foi referenciada pelo bom ensino que oferecia a seus nativos, como eu, e a crianças e jovens de outras cidades”, disse Antônio Carlos.

Ele resolveu tornar pública sua decepção baseado em estudo que recebeu na noite ontem (6) de ex-aluno do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN), escola centenária de Bananeiras, mantida pelo governo federal e referência de ensino de qualidade, contrastando com o ministrado nas escolas municipais da cidade.

IDEB POMBAL X BANANEIRAS

O estudo (acessível no intertítulo acima) compara dados educacionais de Pombal e Bananeiras. Mostra que em 2023, nos anos iniciais do fundamental (1º ao 5º ano), o município sertanejo alcançou Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb) de 7,0, enquanto o Ideb de Bananeiras não passou de 4,7 na mesma fase.

“Nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), Pombal apresentou desempenho mais modesto, com um Ideb de 5,5. Bananeiras, por sua vez, apresentou Ideb de 3,6”, acrescenta o documento elaborado pelo ex-aluno de Antônio Carlos, que prefere não se expor porque é secretário de Educação em município do Ceará.

OUTROS DADOS DO ESTUDO

● Em 2023, a taxa de atraso escolar (distorção idade-série) nos anos iniciais do fundamental nas escolas públicas de Pombal foi de 3,9%; em Bananeiras, de 5,2%. Nos anos finais, a diferença entre um e outro município é ainda mais expressiva: 13,6% em Pombal e 31,3% em Bananeiras.

● Outra distância considerável entre Pombal e Bananeiras apontada pelo estudo diz respeito ao rendimento escolar nos anos finais do fundamental. O município sertanejo apresenta taxa de reprovação de 1,3% e 0% de abandono e o brejeiro, taxa de reprovação de 12,7% e 7,1% de abandono.

● Outro dado que chama a atenção remete ao investimento médio de cada município na educação formal de suas crianças e adolescentes nos últimos cinco anos. Em Pombal, R$ 5.496,64 por aluno, o que resultou num Ideb médio de 6,3 nos anos iniciais e 4,9 nos anos finais. Em Bananeiras, que investiu R$ 4.295,74 por aluno, o Ideb médio ficou em 4,7 para os anos iniciais e 3,0 para os anos finais do ensino fundamental.

BASE DE DADOS DO ESTUDO

A avaliação do ensino fundamental oferecido por Pombal e Bananeiras foi feita com base nos dados disponíveis na QEdu, plataforma da Internet onde qualquer pessoa pode extrair informações sobre a educação básica no Brasil, a partir dos indicadores do Ideb levantados em cada município do país. A Educar – Assessoria e Desenvolvimento Educacional – assina o estudo compartilhado pelo professor Antônio Carlos.

 

PMJP nega ter comprado jazigos. Foi doação, garante Sedurb

Imagem meramente ilustrativa. Copiada de parquedasacacias.com.br

A Prefeitura de João Pessoa não comprou jazigos do Parque das Acácias, mas recebeu e liberou, para sepultamento, 600 túmulos doados pelo empreendimento em contrapartida à permissão para operar comercialmente cemitérios privados na cidade.

As doações dos jazigos começaram em 1988, ano em que o Parque das Acácias começou a funcionar, segundo nota da Secretaria de Serviços Urbanos (Sedurb) enviada ao blog nesta quarta-feira (6). Das 600 doações, 200 foram feitas em 2021, durante a pandemia da Covid-19.

Segundo pessoa digna de crédito, recentemente um(a) amigo(a) precisou sepultar parente na capital, soube que a Prefeitura comprara jazigos no cemitério-parque, tentou liberar um, mas não conseguiu. O acesso aos túmulos dependeria de ‘prestígio’ junto ao secretário de Serviços Urbanos.

A Sedurb repele “qualquer insinuação” nesse sentido no esclarecimento que o blog pediu desde segunda-feira (4), mas recebeu somente hoje. E, apesar de demandado para tanto pelo blog, em sua nota o órgão nada explica sobre critérios de acesso aos lotes que a Prefeitura recebeu em doação.

Procurado para se pronunciar sobre esse ponto, o secretário Rodrigo Trigueiro, titular da Sedurb, prometeu levantar a informação e repassá-la nesta quinta-feira (7). “Não estava na Sedurb nessa época, mas posso responder amanhã após consulta à Diretoria de Cemitérios”, justificou.

A NOTA DA SEDURB

A Secretaria de Desenvolvimento Urbano esclarece, em virtude de matéria publicada pelo conceituado jornalista Rubens Nóbrega, nesta terça-feira (5), que, ao contrário do que foi divulgado, a Prefeitura de João Pessoa não comprou jazigos em cemitério particular da Capital.

A doação de jazigos para a administração pública ocorre, na forma de contrapartida, com base em decreto municipal de 18 de dezembro de 1996, que estabelece o repasse da quota de 5% do total de lotes construídos e autorizados a operar.

No ano de 2021, quando foram registrados 1.659 óbitos com causa mortis de Covid-19 na cidade, foi assinado um aditivo referente à doação de 200 jazigos de uma gaveta, no Cemitério Jardim Mangabeira.

No total, 600 jazigos já foram repassados ao Poder Público Municipal pelo empreendimento desde o início de sua operação em 1998 até a presente data.

No ano de 2021, como noticiado em todo o mundo, houve o maior registro de óbitos causados pelo vírus responsável pela pandemia mundial que fez vítimas em todo o Planeta.

A Prefeitura repudia veementemente qualquer insinuação de acesso facilitado por relação particular com o secretário ou qualquer outro servidor público da Sedurb.

PMJP compra jazigos em cemitério privado, mas acesso só teria quem tem acesso a secretário

por Rubens Nóbrega

Foto meramente ilustrativa copiada de parquedasacacias.com.br

Durante a pandemia da covid-19, entre 2020 e 2021 a Prefeitura de João Pessoa comprou lotes no cemitério privado Parque das Acácias, no José Américo. O acesso aos jazigos adquiridos com recursos públicos estaria condicionado, no entanto, a um acesso muito particular do interessado ao secretário Rodrigo Trigueiro, titular da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) da capital.

Desde ontem (4) tento respostas da PMJP a essa denúncia sobre suposto tráfico de influência no atendimento a uma necessidade dramática de qualquer pessoa que precise e não disponha, para enterrar algum familiar, de túmulo perpétuo ou mesmo cova rotativa em qualquer cemitério público da cidade. A informação que me levou a questionar o governo municipal chegou-me nos seguintes termos:

– Recentemente, pessoa conhecida minha precisou de um jazigo para enterrar o padrasto e soube que a Prefeitura da Capital comprara vários no Parque das Acácias, tentou a liberação de um, mas em resposta disseram que precisava ter “conhecimento com o secretário”. A compra foi feita com dinheiro público, mas ninguém sabe se existe algum critério, além do “conhecimento com o secretário”, para conseguir vaga.

Sobre o assunto, inicialmente pedi explicações à Secretaria de Comunicação da PMJP. Ainda sem retorno da Secom 24 horas após a solicitação, nesta terça-feira (5) mantive contato direto com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb). À Assessoria de Imprensa do órgão, encarregado de cemitérios e pretensamente das aquisições no Parque das Acácias, fiz as seguintes perguntas: 1) Procede que a PMJP comprou jazigos no Parque das Acácias? 2) Se sim, quantos e qual o valor de cada lote? 3) Por que comprar ‘vagas’ em cemitério privado? Quem é o secretário responsável?

A resposta à primeira pergunta já me deu o próprio Parque das Acácias. Quem de lá me recebeu ao telefone confirmou que a PMJP realmente adquiriu lotes no cemitério-parque do José Américo ou em unidade similar que seria em Mangabeira ou nas proximidades desse bairro. Já sobre quantidade e valor de jazigos adquiridos e como ter acesso a algum… “Ah, isso é lá com eles, na Secaf (ou Cecaf, possível setor da Sedurb)”, respondeu a pessoa que atendeu a minha ligação e me passou número da Secaf ou Cecaf. Chamou, chamou, chamou e ninguém atendeu.

O espaço continua aberto à Prefeitura de João Pessoa e seus dirigentes ou assessores para explicações, confirmações ou desmentidos. Quando e se chegarem tais esclarecimentos, serão prontamente publicados.

CRM homenageia José Mário Espínola

No encerramento do Mês do Médico, o Conselho Regional de Medicina da Paraíba entregou a Comenda CRM-PB ao Doutor José Mário Espínola (foto). A cerimônia, realizada quinta-feira última (31 de outubro) na sede do órgão, em João Pessoa, marcou o reconhecimento da entidade à contribuição do respeitado cardiologista ao engrandecimento da classe médica paraibana.

A homenagem surpreendeu o homenageado, que dela só tomou conhecimento seis dias antes. Tempo suficiente para redigir agradecimento no qual reafirma seu amor à profissão e gratidão aos familiares, amigos e colegas que o ajudaram a se tornar o cidadão exemplar que é, além do médico querido por seus pacientes e dos mais conceituados entre seus pares.

Adiante, a íntegra do pronunciamento de José Mário Espínola, regular colaborador deste blog, autor de crônicas e artigos que maravilham leitores. As reações aos seus escritos decorrem tanto de leveza e humor como da contundência de críticas oportunas e percucientes que expõe em conteúdos generosamente cedidos à publicação neste espaço.

ASSIM FALOU ZÉ MÁRIO

Cumprimento os conselheiros aqui presentes na pessoa do presidente Bruno Leandro.

Cumprimento os médicos aqui presentes na pessoa de Dra. Ilma Espínola, alergologista e minha esposa, mola propulsora de minha carreira, parceira e sócia por toda a minha vida.

Cumprimento os meus parentes na pessoa de Ana Candida Espínola e Francisco Espínola Junior, meus irmãos.

Cumprimento os meus Ricardo e Ana Laura Espínola e Maria Ilma, meus filhos e minha neta aqui presentes.

Cumprimento os meus pacientes aqui presentes na pessoa da escritora professora Ângela Bezerra de Castro, Dra. Maria Auxiliadora Farias, José Francisco da Nóbrega e Marconi Formiga, aqui presentes.

Meus caros ouvintes,

Quero de saída agradecer a atitude do CRM, capitaneado por seu presidente, Dr. Bruno Leandro, de resgatar pessoas que de algum modo contribuíram para o engrandecimento da classe médica.

O patrono, Dr. Genival Guerra, foi um verdadeiro herói desbravador da medicina na nossa cidade. Nascido em Alagoa Grande, cidade que é um celeiro de bons profissionais médicos, Genival Guerra foi inicialmente um sargento do Parasar, batalhão de heróis da Força Aérea Brasileira, como conta o seu biógrafo e contemporâneo, o acadêmico Ricardo Maia.

Quando cursava o início do curso médico, na segunda metade da década de 1960, ele transpôs os limites da classe de aulas, e levou a Medicina para as ruas de João Pessoa. Nessa época o atendimento era precário, ao alcance apenas das classes mais abastadas. Os que não eram ricos ou não tinham acesso aos Institutos estatais, os chamados “indigentes,” morriam à mingua.

O Padre Zé Coutinho, em sua ampla obra de caridade (deve estar, no mínimo, no céu!), era quem os acolhia em sua igreja. Depois ele construiu um barracão no bairro do Roger. Um dia Genival Guerra visitou esse barracão e se inspirou para normatizar a assistência médica, até então precaríssima.

Genival combinou com o Padre Zé para ampliar as acomodações, separando adultos das crianças, separando, também, os tuberculosos. Criou a COPEAI, a qual passou a inscrever acadêmicos de medicina, para trabalhar no Barracão do Padre Zé como estagiários.

Ali perfilaram gerações de estudantes de medicina, desenvolvendo uma prática médica que se tornou muito útil na vida profissional. Ilma Epínola foi uma dessas acadêmicas.

Permitam-me agora voltar um pouco no tempo, para falar de minha formação profissional. Venho de uma família predominantemente jurídica: pai, avô, irmãos. Pode-se dizer que sou a “ovelha branca” da família!

Acho que comecei a me tornar um bom profissional com os exemplos familiares, pois aprendí com os meus pais a ter caráter, condição sine qua non para ser um bom profissional em qualquer área de atuação.

Ao fazer a opção pela carreira de médico, o fiz com plena liberdade de escolha. Para me tornar um profissional médico, aprendí nas salas da Faculdade de Medicina, nas enfermarias do Hospital Santa Isabel, nos centros cirúrgicos e nos pronto-socorros. Tive os melhores professores da minha época, verdadeiros mestres.

Mas foi na prática diária com os pacientes, já na vida profissional, que me tornei um verdadeiro médico, na acepção da palavra. Considero que todos os pacientes tambem foram meus mestres, pois na prática diária, aprendí com eles algo importante da profissão. E, principalmente, aprendí a como tratá-los.

Ao dar-lhes a devida atenção, seja na anamnese, seja no exame físico, fui evoluindo, burilando, aplicando-lhes a ciência aprendida nos bancos da faculdade. Quando os exames chegavam, complementavam um diagnóstico já praticamente formado. Assim foi a minha Medicina.

Na trajetória de minha vida profissional, cheguei ao CRM pelas mãos do colega e amigo João Modesto Filho. Os postos que aqui galguei devo principalmente a ele e a José Eymard Moraes Medeiros, de quem tenho muitas saudades.

Mas eis que chega a Medicina Moderna. De saída, a anamnese e o exame físico aos poucos vêm sendo substituídos pelos exames laboratoriais, que deixaram de ser complementares e passaram a ditar o diagnóstico. As imensas contribuições da ciência evoluem numa velocidade vertiginosa. E rapidamente aproxima-se a Inteligência Artificial. A princípio uma valiosa promessa de ferramenta para auxiliar o médico, já dá sinais de que, na realidade, está vindo para substitui-lo!

Paralelo a tudo isso, e contrastando absurdamente com a modernização da medicina, a humanidade dá sinais de que está evoluindo para uma nova Era. E são sinais preocupantes: a humanidade parece na realidade involuir para uma nova Idade das Trevas! São muitos e ameaçadores os sinais desta involução. Guerras em pleno século XXI. Intolerância em seu grau máximo, gerando mais do que nunca conflitos. entre nações e dentro delas.

Uma das responsáveis por essa involução é a adesão ao negacionismo por boa parcela da população mundial, sem nada que justifique, difundido por pessoas ignorantes ou mal-intencionadas, tornando as pessoas presas indefesas e fáceis de serem dominadas.

Estamos entrando numa era moderníssima, porém ao mesmo tempo que é muito iluminada, é tambem sombria, cujas luzes, frias e artificiais são tornadas brilhantes apenas para pegar as ingênuas mariposas modernas.

Por seu lado, contrastando com as conquistas tecnológicas, principalmente a internet, médicos parecem retornar à alquimia, ao negarem os avanços positivos da Ciência.

A minha esperança está em saber que nada, repito: nada substituirá a presença humana do médico junto ao paciente! Pois a máquina conseguirá ampliar o diagnóstico, porém jamais substituirá o tratamento, que é exclusivamente humano!

Encerro oferecendo para vocês a seguir uma imagem que me veio à mente, ao me preocupar com o domínio da máquina. Ela reflete um pouco a minha preocupação com o domínio da Inteligencia Artificial, e foi inspirada pelo livro Eu, Robot, obra prima de Isaac Asimov: imaginem este Conselho de Medicina composto por 42 autômatos?!

Deixo com vocês.

Obrigado!

BREVE CURRÍCULO

José Mário Espínola – CRM 2503 PB
Médico cardiologista
Ex-Presidente do CRM da Paraíba
Ex-Corregedor do CRM PB
Foi Auditor da Unimed João Pessoa
Foi Conselheiro do Conselho Fiscal da Unimed João Pessoa
Foi Secretário da Sociedade Paraibana de Cardiologia
Foi Diretor Técnico do Hospital General Edson Ramalho
Enxadrista, cronista, cinéfilo e alvinegro