A BEM DA VERDADE, por Nivaldo Magalhães

Sede da Empaer em Cabedelo (Imagem Google Maps)

A propósito de texto atribuído ao Professor aposentado Antônio Carlos Ferreira de Melo, publicado nesse blog, a bem da verdade venho prestar os seguintes esclarecimentos:

1 – Sem antes apurar as informações, divulga o professor sobre veículos estacionados no pátio da Empaer. Todos serão divididos em lotes para leilão público, porque renovamos a frota com 71 veículos com recursos do MAPA/SAF e um outro com recursos advindos do último leilão de carros inservíveis para os trabalhos da Extensão Rural. Por recomendação do Ministério e do Governo do Estado, sempre que se adquirir novos veículos a mesma quantidade será recolhida para leiloar e os que estiverem em condições de uso são repassados em comodato às Prefeituras Municipais (inclusive a da cidade do professor), Sindicatos, Associações de Produtores Rurais, entre outros.

2 – O professor Antônio Carlos tem conhecimento de tudo isso, mas prefere omitir, porque, na verdade, quer confundir a opinião pública com costumeiras inverdades, quando deveria dizer a verdadeira razão dos ataques ao Governo e a Secretaria da Agricultura e suas vinculadas. Assim vem agindo depois que saiu do Governo e teve seus interesses pessoais contrariados. Ele, à época, me procurou para que a empresa que criou para seu filho fizesse o gerenciamento de Frota de Veículos por satélite. Mas não preencheu os requisitos para a Emater contratar. A partir daí a Emater, que tanto elogiava e a quem gostaria de prestar serviços, passou a ser alvo de suas críticas.

3 – Paciência, Professor! Você, agora, se dependura em uma vergonhosa publicação do Pesquisador da Embrapa Camilo Flamarion em que a única verdade que apresentou está no título “SAUDADES DA EMEPA”, pois, realmente, deve estar com muitas saudades porque a Emepa servia apenas para dar seu expediente, sem qualquer resultado produtivo para Empresa ou para Embrapa. Desafio o Pesquisador a apresentar nos últimos 10 anos uma única pesquisa ou até mesmo uma única ação prática que beneficiou a sociedade paraibana e que justificasse os seus salários.

4 – Mesmo na Pandemia, os dedicados e comprometidos servidores da Empaer vêm desenvolvendo importantes ações em todas as áreas, a exemplo do Projeto Algodão, sendo a Paraíba o único Estado no Brasil junto a FAO/ABC/Embrapa quanto nos países do Mercosul e Haiti.

5 – Estamos desenvolvendo um dos maiores Projetos de Regularização Fundiária do País, entregando nos 21 municípios do Território da Borborema mais de 20 mil títulos de terra, em parceria com MAPA/INCRA e Governo do Estado, através da Empaer, com recursos de mais R$ 8 milhões. Em breve, assinaremos o primeiro de uma série de muitos projetos do Programa Terra Brasil – Crédito Fundiário, através do Empaer, Banco do Brasil e Banco do Nordeste. Este primeiro contemplará 23 famílias, com recursos na ordem de R$ 3 milhões; firmamos parceria, através de Termo de Cooperação Técnica, com mais 200 prefeitos, para melhor levar as Políticas Públicas ao Agricultores, como PAA, PNAE, Pronaf, Garantia Safra… Por fim, são muitas outras ações que estão possibilitando aos agricultores familiares uma melhor condição de vida.

  • Nivaldo Magalhães
    Presidente da Empaer (Empresa de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária) e da Asbraer (Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural)

VIDAS FANTASIOSAS, por Babyne Gouvêa

Arlequim, Colombina e Pierrô (Imagem: imgarcade.com)

Com a aproximação do carnaval, uma foliã ressentida sentimentalmente precisava idealizar a sua vestimenta para a ocasião. Optou por uma fantasia que atraísse os rapazes. Decidiu se apossar da celebridade Colombina – icônica personagem da peça italiana do século XVI -, alternativa certeira de sucesso.

Começou a tradicional festa profana e a jovem transformada em Colombina saiu às ruas em busca do seu par. Encontrou Arlequim, mas ignorava o seu currículo de Don Juan na origem do personagem nas brincadeiras de carnaval.

Durante os festejos, brincou sempre com o almejado, desconhecendo o sentimento de Pierrot, um colega perdidamente apaixonado por ela. Fazia gestos esnobes e involuntários, quando cruzava com o ignorado. Não percebia a paixão escondida naquele cujo coração ela tinha conquistado.

No terceiro dia de folia, observou um Arlequim esquivo, desviando o olhar quando este devia estar na direção da Colombina. Enquanto isso, o Pierrot sorumbático acompanhava toda a cena, sentindo comiseração por sua amada.

Colombina desejava ser exclusiva do Arlequim, por ser um jovem atraente, com atributos físicos elogiáveis. Sentia-se bem com ele por ter conseguido, ilusoriamente, superar as tristezas afetivas anteriores ao carnaval.

A dança prosseguia e a alegria da Colombina começou a se esvair. Flagrou olhares do seu companheiro para outras dançarinas. Perseverante, acreditava não ser substituída. Valeria a pena passar por aqueles constrangimentos?

Suportou até o momento de sua tolerância se esgotar. Entregou-se ao desespero, frustrada por não ter sido correspondida. E agora, o que iria fazer? Estava próximo o término do carnaval e a sua história precisava ter um final feliz.

Sozinha e se sentindo desprezada, surge uma luz à sua frente – Pierrot -, que por ela era encantado. Segurou as suas mãos entregando os ombros para ela desafogar as mágoas. E foram dançar.

Sorrisos voltaram à face da Colombina e, principalmente, à do Pierrot. Dançaram, brincaram, aproveitando bem o final dos dias festivos. Mas tinham consciência de que aqueles momentos passariam. E aí, como seriam os seus destinos?

Próximo o término da brincadeira, Arlequim voltou a abordá-la. Colombina voltou a se deslumbrar por ele e Pierrot se retraiu, intimidado.

Passado um ano, chegou um novo carnaval. Os três mantiveram suas vidas fantasiosas – de trajes e de sentimentos. Tomaram conhecimento que encenaram personagens da era renascentista. Decidiram não desvendar o segredo por trás de suas máscaras.

Estava formado o trio enamorado, reproduzindo a história originada nas ruas das cidades italianas, no carnaval, há cinco séculos: Colombina continuou insistindo num Arlequim volúvel, enquanto Pierrot eternizou a sua paixão por aquela que não conhecia o verdadeiro amor.

ESPIRROS NA PANDEMIA, por Babyne Gouvêa

Ai de quem sofrer de rinite alérgica em tempos de Covid, como eu. Em público, as situações vexatórias que alergias proporcionam costumam ser bastante desagradáveis.

Estava em um supermercado, na minha primeira saída às compras depois de um longo período hibernada. Como esperado, um bom sentimento de liberdade tomou conta de mim. Tanto que nem percebi a proximidade de alguns caixotes empoeirados. De imediato, bateu a vontade de espirrar.

Corri para um lugar imaginando estar só, e espirrei. Estava de máscara PFF2, claro. Para minha surpresa, surgiu um cidadão que se encontrava no lado oposto da gôndola de laticínios, onde me aliviei. O ângulo onde me encontrava tornava impossível vê-lo.

Imaginem o que escutei. “Irresponsável”, foi o termo mais brando. Os pedidos de desculpas foram em vão. Expliquei que sofria de rinite alérgica e o que escutei em resposta não convém reproduzir aqui. Pediu para me afastar com gesto de quem enxota algo desprezível. Entendi o seu medo, mas não custava me ouvir.

Saí atormentada do local e jurei a mim mesma que voltaria ao sistema de delivery, até o último caso de Covid. Não pensei que um instante de liberdade me custasse tão caro.

Abro um parágrafo aqui para comentar como uma pessoa fica feia quando furiosa. Observei os sulcos vermelhos na sua testa e os olhos esbugalhados destilando ira. O cidadão já era fraquinho de feição, percebível mesmo de máscara. Imaginem raivoso.

Passados alguns dias, resolvi caminhar fora de casa, seguindo orientação médica. Escolhi o Parque Parahyba 2, onde aparentemente há número mais reduzido de pedestres. Outra vez fui tomada pela sensação de liberdade. Abri os braços, sentindo a brisa e, sem esconder o sorriso de contentamento, dei vazão ao prazer de estar ali bem viva e bastante disposta.

O entusiasmo me incentivou a dar umas carreiras, com intervalos de caminhadas. Estava indo muito bem até passar um caminhão com entulhos espalhando poeira. Pronto, foi suficiente para começar a sequência de espirros. Olhei de um lado pra outro e vi que ninguém se aproximava. Tranquilidade total.

Continuei caminhando. De repente, uma senhora surgiu do nada, atrás de mim. Fiquei firme, certa de que seria possível segurar outra vontade de espirrar. Ledo engano. Talvez sugestionada, o espirro começou a dar sinais.

Valha-me, Deus, nem aqui, a céu aberto, tenho o direito de ser alérgica? Pensei, concentrei-me e consegui conter a ameaça que estava me afligindo.

Ufa! Depois da tensão, corri lépida e fagueira. A liberdade tomou conta do meu corpo, literalmente. Deixou a minha mente completamente relaxada. Aproveitei a motivação para fazer exercícios nos aparelhos disponíveis no parque.

Eis que um cidadão, sósia de Humphrey Bogart, chegou para se exercitar. Entre o uso de um aparelho e outro, ele cuspia. Achei estranho. Afinal, aquele gesto não era compatível com um tipo hollywoodiano. Mas tem gente que não se desvencilha desse hábito e leva a público. Tive que respeitar.

Até aí, tudo bem. De repente, o parceiro de exercícios físicos começa a tossir. Hum, nada bom. Aquilo despertou em mim uma cisma e, simultaneamente, a alergia voltou a florescer. Um atchim saiu acelerado.

Ele olhou pra mim com cara de reprovação. Vi que não adiantaria qualquer explicação. Achei melhor usar a primeira pessoa do plural, nos envolvendo: “Estamos empatados”. Com um sorriso matreiro, ele mostrou-se cordato. Menos mal!

AGROPECUÁRIA DESPREZADA, por Antônio Carlos Ferreira de Melo

Salinização do solo e desertificação são algumas das consequências de uma agropecuária desprezada (Imagem meramente ilustrativa copiada de iGUi Ecologia)

Lamentável, triste mesmo, a situação a que chegou a agropecuária em nosso Estado. Esse desastre foi anunciado desde o primeiro mandato de Ricardo Coutinho e o governo atual deu sequência ao desmantelamento do setor.

Pra fechar com chave de ouro o desmantelo, estou só esperando o governo entregar a água do São Francisco para os agricultores despreparados para lidar com sistemas de irrigação eficientes e sem assistência técnica.

Se não houver apoio, orientação e crédito para quem produz, a tendência é vermos e sofrermos com solos lavados e salinizados, por conta de irrigação inadequada, arcaica, repetindo a frustrante experiência de São Gonçalo e Sumé.

A antiga Emater, coitada, simplesmente nada mais faz. Basta ver o amontoado de carros apodrecendo no pátio da empresa, porque não têm mais utilidade. Falta de combustível, de manutenção, de vontade, de decisão…

Dá dó ver um patrimônio público tão valioso apodrecer por falta de uso. A Emater agoniza, não tem mais recuperação. Mesmo caso da Emepa, conforme descrito pelo respeitado e reconhecido pesquisador Camilo Flamarion.

Em artigo recém publicado (‘Saudades da Emepa – Fim melancólico’), ele lamentou, como também lamento profundamente, a desnecessidade de extinção da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba, “empresa esta, que sempre orgulhou a todos os paraibanos e os amantes da agricultura”.

O crime de sucatear a Emater, Emepa e a própria Secretaria da Agricultura, da qual hoje nem se fala mais, é um crime que nem cadeia paga, porque com a morte dessas importantíssimas entidades, morre também na Paraíba o setor mais dinâmico da economia nacional.

Camilo, dos quadros da Embrapa Paraíba, observa bem em seu escrito que “a extinção da Emepa e da Emater não foi digerida pelos agropecuaristas”, hoje órfãos e saudosos de ambas.

Imaginem, então, o que não sentem os pesquisadores e os técnicos da extensão rural na Paraíba, vendo tudo que construíram virar sucata sob a omissão deliberada de nossas autoridades. Não é apenas triste e lamentável, é revoltante, deplorável.

Antônio Carlos Ferreira de Melo é Professor aposentado da UFPB e Zootecnista

PAQUERA ABENÇOADA, por Babyne Gouvêa

À Rosana Maciel, minha amiga estelar

Bençãos de São Felix no ano de 2022 na Basílica da Penha

Imagem meramente ilustrativa (Foto: Rafael Furtado/FolhaPE)

Jovem católica, frequentadora assídua de missas semanais, Afrodite sempre se sentiu entusiasta desse rito. Os efeitos físicos e comportamentais, naturais da adolescência, não a afugentaram desse hábito religioso.

Sempre ia com uma amiga para esse ato de fé na Capela do Colégio Pio X, em João Pessoa. Entre as trocas de confidências confessaram ser observadas por rapazes frequentadores da mesma igreja. Descobriram que havia olhares comuns das duas para o mesmo rapaz. Decidiram disputá-lo.

Na fila da comunhão olhariam para Apolo – dono de beleza admirável. Num trato inusitado, desistiria do mancebo quem não despertasse o seu olhar.

Assim os dias de missa eram aguardados com bastante ansiedade. A escolhida tratou logo de contar a novidade à outra amiga, vizinha de residência do cobiçado moço. As perguntas eram sucessivas – como se chamava, que lugares frequentava… O interesse aumentava à medida que desbravava o seu currículo.

A semana que antecedia o ato litúrgico girava em torno da indumentária a ser usada para impressionar quem deveria ser impressionado. A originalidade era imprescindível para chamar a atenção. Os cosméticos foram usados para diminuir o seu aspecto imaturo. E nada de exagero para não mascarar as suas características genuínas – marca da sua imagem.

O Padre, conhecedor do seu público semanal, começou a desconfiar do comportamento adulterado da moça. Após se certificar da intenção dela, chamou-a para uma conversa na sacristia. Passou-lhe um sermão e uma recomendação expressa: “A concentração tem que estar em Deus, menina”.

Ela permaneceu inquieta, todavia. Não pretendia desistir facilmente. Planejou e deu certo: na hora de receber a hóstia fixava o olhar no pároco e o contornava depois de recebê-la – momento em que fitava o seu intento. Passou a se acomodar em bancos próximos ao seu alvo. Bastava o sacerdote dar as costas para os fiéis, os olhares se cruzavam entre os enamorados.

O templo ganhou retoques majestosos no olhar da jovem. Os santos esculpidos e distribuídos na lateral da nave paroquial se tornaram brilhantes reluzindo cores nunca dantes vistas. Esse encanto contrastava com a ideia de castigo religioso, temido por ela.

Sentiu necessidade de saber o grau da sua infração. Foi então que consultou uma amiga católica fervorosa. Claro que foi absolvida.

O ritual foi mantido semanalmente, entre solfejos efusivos durante o caminho até a igreja. Para surpresa da mocinha, o sacristão começou a observá-la com segundas intenções. Esse moço passou a criar histórias maliciosas para perturbar os adolescentes enamorados. Em vão.

Afrodite continuou contrariando as advertências por um certo tempo. Achava essa insubordinação atraente e aprazível. Deu certo, sua paixão foi correspondida e se alongou pela vida afora, mostrando que aquela paquera fora comprovadamente abençoada. 

PRETEXTOS, por José Mário Espínola

Uma vantagem possível em favor da democracia: a preço de hoje, a grande imprensa brasileira não parece inclinada a apoiar um golpe

No dia 1º de abril de 1964, o Brasil amanheceu debaixo de um golpe. Os militares brasileiros, estimulados pelos Estados Unidos e com o apoio explícito da elite, de parte da imprensa e das classes empresariais, depuseram o presidente João Goulart. Este havia sido eleito em 1960 e estava governando o país democraticamente há três anos antes, desde a renúncia do então presidente Jânio Quadros, com apenas oito meses de governo. Em seu governo, Jango procurou promover reformas estruturais que beneficiassem os menos favorecidas. Isso provocou a ira das classes dominantes, embora fossem a minoria da população.

Durante duas décadas de ditadura, os militares apresentaram aspectos positivos e negativos. Durante os governos militares, por exemplo, foi criado o Plano Nacional de Imunização, que se tornou um modelo para o mundo, até os dias de hoje, tendo a duras penas sobrevivido aos recentes ataques do atual governo. Se, por um lado, os governos militares rasgaram milhares de quilômetros de estradas promovendo a integração nacional, por outro destruíram a via férrea, com imenso prejuízo para o agronegócio, por exemplo, o que hoje mais do que nunca é lamentado, pois pesa diretamente nos preços dos alimentos.

A troca realizada pelo governo militar, dos trilhos pelo asfalto, atendeu a exigências do capital estrangeiro, pois beneficiou diretamente a indústria mundial do petróleo. E prejudicou a nação brasileira. O programa nacional de rodovias foi um dos que produziram suspeitas de corrupção dentro dos governos militares. É o caso da rodovia Transamazônica, jamais concluída, apesar dos bilhões despejados nela.

No plano interno, os governos militares impuseram censura a toda e qualquer manifestação de insatisfação, que era reprimida com vigor. Foi instituída a delação como instrumento de controle da população. Criou-se a figura do dedo-duro para aqueles cidadãos covardes e inescrupulosos, que não tinham valor próprio para progredir na vida, em sua profissão. Para auferir sucesso de carreira, bastava dirigir-se à guarnição militar e delatar alguém, fosse colega, superior ou mesmo parente próximo. Incontáveis são os casos conhecidos.

Qualquer atitude que pudesse caracterizar discordância, ideológica ou não, da população brasileira, era reprimida com um rigor que chegava às raias da eliminação. A partir de 1968, foi institucionalizada a tortura e o assassinato de adversários como política de Estado. Uma parcela pouco expressiva de brasileiros tomou a atitude, hoje considerada equivocada, do enfrentamento armado. Equivocada porque revelou pouco ou nenhum resultado prático, não reduzindo em nada a ferocidade com que o governo militar enfrentava os adversários. Pior ainda, serviu para que ele justificasse a repressão criminosa contra aqueles que se opunham ao arbítrio.

Em finais da década de 70, a linha ultradura da ditadura militar iniciou seu processo de declínio, no governo do general Ernesto Geisel. Surpreendentemente, essa queda continuou no governo seguinte, justo no governo do general João Batista Figueiredo, que tinha sido o chefe do Serviço Nacional de Informação, o famigerado SNI, catedral do dedurismo nacional.

Pois foi com Figueiredo que aconteceu a Anistia Nacional. Pressionado pelas ruas, pela repulsa dos cidadãos brasileiros, que já não tinham mais pão nem circo, pelo fracasso econômico, pelo desgaste dos militares perante a opinião pública, e, finalmente, por insatisfação da própria base parlamentar e empresarial do regime concentrada no Centrão da vez, que na versão da época igualmente acompanhava quem desse mais dinheiro e oferecesse mais lucros, finalmente a ditadura militar iniciou a sua retirada do panorama político.

Engana-se, porém, quem diz que ficou por aí. A Lei da Anistia havia beneficiado os dois lados, ou seja, tanto os torturados quanto os torturadores, tanto os perseguidos quanto os perseguidores. Com isso, os órgãos de exceção não foram desmantelados e continuaram a existir mesmo no regime de transição de José Sarney e nos governos democráticos que se seguiram. Continuaram a perseguir brasileiros que tiveram atuação na resistência à ditadura militar, como foi o caso do professor Rubens Pinto Lyra.

Agora, animados com a perspectiva do retorno do Brasil à ideologia da extrema-direita, os instrumentos da repressão, que, pensava-se, não mais existiam no regime democrático que a nação vive, estavam apenas mumificados e estão sendo azeitados para ficarem em ponto de bala (êpa!) caso o atual presidente continue a governar. Ou caso ele consiga, antes, dar um golpe “pra chamar de seu”.

Com o aparelhamento ideológico de órgãos como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Controladoria-Geral da União e outros da República, nota-se que a parte podre da democracia brasileira está se revitalizando para retomar o poder.

PRECEDENTE EMBLEMÁTICO

A história é rica em episódios que se transformaram em pretexto de pessoas com tendências despóticas para justificar atitudes nefastas. São geralmente indivíduos egoístas, invejosos, personalidades fortes. Para alcançar o êxito das suas intenções, muitas vezes inconfessáveis, essas pessoas criam argumentos que, acreditam, justificam suas ações. Vamos ao exemplo mais notável e lembrado.

No final da década de 1930, Adolf Hitler, o cabo austríaco que se tornou ditador da Alemanha, estava decidido a conquistar a Polônia. Ele não confessava, mas a sua real intenção era chegar vizinho ao território russo, pois o que os nazistas queriam mesmo era conquistar a Rússia e tornar seus cidadãos escravos do povo alemão. Isto está escrito no livro ‘Minha Luta’ (Mein Kampf), escrito por Hitler quando estava preso em 1924, após a tentativa de golpe em Munique.

A estratégia era dominar a Polônia e daí viabilizar a invasão da Rússia. Líder de um dos maiores exércitos do mundo, e com certeza o mais moderno, Hitler esbarrava na falta de um real motivo que convencesse as potências ocidentais, lideradas pela Inglaterra. Para conseguir vencer a resistência desses países, ele arquitetou um atentado contra seus próprios soldados. Na madrugada de 1º de setembro de 1939, elementos do Exército alemão, estacionados junto à fronteira com a Polônia, invadiram o território polonês e, vestidos de soldados poloneses, atacaram uma guarnição alemã, causando mortes.

Era o pretexto que Hitler precisava para justificar ao Ocidente a invasão daquele país, deflagrando o pior conflito que o mundo já viu desde os primórdios da civilização.

SINAIS MUITO CLAROS

O presidente Jair Bolsonaro vem desde o primeiro dia de governo (?) expondo a sua intenção de continuar no poder, sabe-se lá por mais quanto tempo. E de qualquer forma, lícita ou não. Pelas vias constitucionais, terá muuuuita dificuldade, como apontam as pesquisas de opinião divulgadas até aqui. Por isso é que há muito tempo ele vem criando falsos motivos que justifiquem o seu A objetivo.

Em setembro de 2021, tentou dar um golpe de estado com a ajuda dos militares das três armas, coadjuvados pelos policiais militares estaduais. Generais da reserva bem que se deixaram seduzir pela ideia de voltar a governar o país de forma tirânica, sem limites constitucionais. Os comandantes da ativa, bem mais ajuizados, não se deixaram iludir pelo arremedo de comandante-em-chefe. Não soltaram seus blocos na rua no Dia da Pátria. A montanha pariu um rato!

Aquele que arrotava poder e liderança inquestionáveis, que bradava ameaças (“Basta!” ou “A paciência acabou!”), fazendo delirar os seus súditos… Aquele que ameaçou o Supremo Tribunal Federal… Bateu pino, recolheu-se à sua insignificância. Depois, choramingou implorando que alguém aplacasse a ira dos ministros do STF. Foi quando entrou em cena o ex-presidente Temer, que lhe ditou uma cartinha pedindo clemência ao ministro Moraes. Mas isso só durou alguns meses, pois, como sempre, tudo o que ele diz não se escreve.

Atualmente, diante da forte perspectiva de terminar os seus dias no ostracismo, de ser derrotado pelas vias constitucionais, nas urnas, ele engendrou novo plano para justificar ações a serem adotadas no futuro próximo. O plano é o seguinte: criar um pretexto para, em caso de derrota, não sair perdendo, manter o poder inconstitucionalmente. Para tanto, além de manter a sua claque obtusa motivada por absurdos diários, o presidente tomou como desafetos os ministros do STF Roberto Barroso e, principalmente Alexandre Moraes, que vai presidir as eleições deste ano, nas quais estará em disputa a cadeira de Presidente da República.

Como todos devem lembrar, desde os primeiros momentos de governo que Bolsonaro iniciou uma batalha para desacreditar a votação eletrônica. Elegendo o ministro Moraes como o seu desafeto, ele terá (assim acha) o pretexto para culpar o TSE pela sua provável derrota e tomar alguma atitude antidemocrática, no caso de derrota nas urnas. Será o cavalo de batalha para “invadir a ‘sua’ Polônia”.

Vamos ver quem o acompanhará, além dos tresloucados fiéis seguidores.

EMBUTIR A FIAÇÃO É A SOLUÇÃO, por Babyne Gouvêa

Imagem meramente ilustrativa copiada do site de Marcos Papa

O que seria da Iluminação pública sem eles? Sobrecarregados, sustentam um emaranhado de fios ligados a redes elétricas, telecomunicações e TVs a cabos. Sim, são eles – os postes urbanos.

Esteticamente, o visual é horrendo, entristece os olhos de qualquer cidadão. Estão cada dia mais assoberbados de fios. Muitos chegam a perder a postura originalmente ereta.

Além de suas funções convencionais, os postes vêm tendo outras atribuições. Uma delas, como vitrines de propaganda de cartomantes, videntes, corretores de imóvel, imobiliárias, eletricistas, encanadores…

Desperta atenção a forma apelativa do papel escrito afixado em sua estrutura. Os dizeres são diversos: “Madame Jurema trará o seu amor de volta”, “Você terá um novo emprego” e por aí seguem as promessas e ofertas de serviço.

No ambiente barulhento das ruas, há quem pare e leia atentamente o papelzinho promissor. O indivíduo crédulo anota o contato. Com receio de estar sendo observado, abandona bem rapidinho o lugar, olhando de soslaio.

A sorte, então, está lançada. Deposita nos místicos a sua esperança. A dor premente, talvez, seja amenizada após a consulta. Ou o valor pago aumente a sua angústia.

Se não confia na magia pode partir para o anúncio subsequente, também exibido nos solícitos postes: os empréstimos por agiotagem. Um pai desesperado sem a feira familiar se submete à presteza ilusória. E ai dele se não quitar a dívida no dia previsto.

Tristemente, os postes servem também como amparo e testemunha. Ocasionalmente, o motorista os procura, de forma involuntária, para estancar o carro em uma colisão.

A sua versatilidade segue adiante: o cachorrinho tem com eles uma atração atávica. O canino herda dos pais o hábito de fazer neles as suas necessidades, sem inibição.

Com um perfil retilíneo servem de apoio aos casais que preferem os afagos mais calientes. Os amantes se sentem mais protegidos em momentos de arroubo. O frenesi amoroso ajuda-os ignorar a paisagem nada bonita dos fios acima de suas cabeças.

Um sistema de fiação subterrâneo seria a sugestão de uma contribuinte atenta à organização da paisagem do município onde reside.

Oxalá, um dia, os postes urbanos se destinem ao uso exclusivo da iluminação pública, sua principal utilidade.