Querido Diário

Imagem: Mensagens com Amor

Desculpe os meus desabafos, mas hoje amanheci amargurada. Cheguei a reproduzir em sonho as revelações escancaradas das pessoas que apoiam o “Coisa Ruim” – pseudônimo daquele que hoje brinca de presidir o país.

Não imaginava que existisse tantos perversos convivendo numa mesma pátria. Sim, você vai concordar comigo. Quem segue alguém perverso é perverso também.

Meu diário querido, não observe as falhas na pontuação. Permita, simplesmente, que eu converse com você. Veja bem, entenda as minhas frustrações.

Amigos insistem em compartilhar essas tais de Fake News (notícias falsas), que só fazem confundir os ingênuos, além de prejudicar as relações familiares e entre amigos.

Tem o lado bom, por incrível que pareça: exibe o caráter real daqueles com quem você conviveu, endeusando alguns. Dói, dói muito, mas você consegue superar. Selecionar quem lhe faz bem é a solução.

Meu caro diário, não se canse comigo, deixe eu lhe situar, sem paixões. Estamos diante de uma espécie de duelo. De um lado o “Coisa Ruim” e do outro lado a “Esperança da Pátria”.

Precisamos eliminar aquele que despreza os famintos, fomenta o sentimento de ódio, distribui mentiras em todos os seus pronunciamentos.

Não preciso repetir para você o nome daquele que passou os quatro anos de sua gestão fazendo campanha, com dinheiro público. Sabe por quê? Para ser reeleito e não tornar público o que fez e faz de errado diante da lei. Aliás, ele e todo o seu clã. Você sabe de quem estou falando.

Ah, caro diário, o meu mal é idealizar as pessoas. Fico pensando que não existe alguém mal, com exceção daqueles que nasceram com alguma anomalia mental. Por pensar assim recorro a você, diário querido, para derramar desilusões.

Sei que você vai me fortalecer dizendo que não estou sozinha. Ainda há muitos brasileiros conscientes, que sabem discernir o BEM do MAL.

Sabe que, ao me ouvir, você me deixou mais leve e fortalecida? Já estou conseguindo me livrar dos fantasmas desprezíveis – aqueles que me decepcionaram.

Grata por seu apoio e até a próxima.

(Texto de Babyne Gouvêa)

FOURMIS FRITES, por Frutuoso Chaves

Tanajura (Google Imagens)

Não ouso afirmar que as excursões internacionais hajam melhorado aquelas duas. Eu, não. Nem supor que tenham regressado daqueles périplos mais cultas, ilustradas e livres dos velhos preconceitos. Até porque a tolerância, a civilidade e o alcance das coisas não compõem a bagagem de ninguém. Ao invés disso, são substâncias do espírito e, portanto, é aquilo que se leva e se traz sejam quais forem o destino e a duração das viagens. Ou todos disso já dispomos, ou, dificilmente, disporemos. Ou se tem, ou não se tem.

Bem sei o quanto ambas, em suas origens, tinham nojo de bunda de formiga. E repulsa, ainda maior, aos que disso se serviam nos tempos de gordura quando a Natureza dispunha essa proteína às tigelas dos miseráveis. “Uns selvagens”, gritavam elas dos catadores de insetos aos meus ouvidos de menino, naqueles princípios de chuva.

Símbolos de elegância e distinção para boa parte da cidadezinha – a formada pelos mais abastados – apenas prendiam minha admiração quando ao piano, o primeiro e único ali já visto por mim. Com a inocência dos nove anos, eu procurava e não via o rabo do instrumento, por mais que elas o supusessem de cauda. Mas o que então saía das suas teclas me encantava. Como tocavam bem aquelas duas. Era quando mais se pareciam, pois fora da sala de música, onde eu me punha, evidenciavam tamanho e peso corporal bem diferentes: a mais velha, muito mais baixa e robusta.

Minto. Também se pareciam na repugnância às tanajuras. A isso e, ainda, aos pratos advindos dos rejeitos de carne, ossos e tripas após a seleção de peças nobres por “bouchers”, os açougueiros paraibaníssimos assim por elas referidos com biquinho francês. Felizmente, faziam as exceções que o mundo quase inteiro faz aos mocotós, orelhas, rabos, paios e toucinhos da feijoada, uma identidade cultural brasileira e, a bem dizer, uma unanimidade universal. Mas, naqueles idos, torciam os narizes para buchada de bode. Sarapatel, chouriço? Eca!…

Lembrei dessas aversões quando do reencontro com elas, já adulto, numa bela casa do Recife para onde me levou um amigo em comum. Eu havia aproveitado a carona oferecida para tratos na Sucursal d’O GLOBO. Ficaram impressionadas com o rumo profissional tomado pelo filho da vizinha, o garoto que bem conheceram nos idos de 1950, quase 60.

Recusamos o preparo do almoço, por volta das 15 horas, porquanto já nos havíamos empanturrado com o cozido e o pirão de dona Maria, chefe suprema e afamada de barraca instalada em terreno baldio da Rua do Riachuelo, bem perto da Sucursal. Fui tomado pelo espanto, ao ouvir de uma delas: “Adoramos aquele chambaril”.

E lá vieram as comparações. Intuitivamente, dona Maria dava ao ossobuco pernambucano os temperos da Lombardia, os daquele restaurante de beira de estrada onde estiveram numa das visitas à Europa. Pouco tempo de conversa e eu já percebia que o pirão da Riachuelo lhes descia goela abaixo com o sabor do deslumbramento e da afetação.

Que saudade tinham daquele “haggis”, o parente escocês da buchada nordestina, o picado de fígado, pulmão, coração e vísceras envolto em pele advinda do estômago de carneiros. A irmã mais nova salivava à mera lembrança do “black puding”, o embutido que os ingleses preparavam com sangue e gordura de porco. A França lhes oferecera o “andouillete”, a linguiça feita com intestino de veado, ou porco mesmo, cebola e pimenta. A contribuição exótica da Itália também viera na sobremesa “sanguinaccio”, o doce que mistura chocolate, canela e, mais uma vez, sangue.

Gosto de pensar que frequentaram o três estrelas L’Astrance, o La Festin Nu, o Chez Mushi e outros restaurantes franceses pagando os olhos da cara por pratos de formigas, gafanhotos e escorpiões. “Fourmis frites”, assim justificariam tais despesas absolutamente convictas, elas e seus narizes empinados, de que o idioma, o lugar e as circunstâncias valeriam a pena.

CUMPLICIDADE, por Babyne Gouvêa

À MINHA IRMÃ, TATA

Aparecida G. Baracuhy, Tata

Com carinha manhosa, Cida chamava a irmã caçula para ver o ‘Amigo da Onça’. Esse hábito foi mantido, semanalmente, quando o seu pai trazia para casa a Revista O Cruzeiro, entre as décadas de 50 e 60.

Criação do cartunista pernambucano Pericles Maranhão, o personagem ‘Amigo da Onça’ se tornou marcante para as duas irmãs. A leitura conjunta contribuiu para fortalecer a união entre elas. Pode soar estranho e inusitado. Porém, verdadeiro.

Difícil saber o discernimento das duas crianças diante do humor satírico e crítico do personagem, consideradas as suas tenras idades. Se sorriam diante da situação vexatória, geralmente direcionada a alguém em evidência, ou pela figura de aparência esquisita criada pelo cartunista.

Essa prática semanal contribuiu, sobremaneira, nas ações cotidianas de ambas. Contrariando o que seria natural, ou melhor, a assimilação do senso irônico do personagem, as duas meninas desenvolveram espírito fraterno em todas as fases de suas vidas.

Decerto que Cida influenciou a irmã menor na defesa de valores honrados. Notadamente, o respeito. Respeito às diferenças numa sociedade, como as variadas formas de viver e de pensar. Foi uma das lições assimiladas pela caçula.

Aprendizado assim, diante das diversas percepções sobre a vida, preparou a criança aprendiz para uma boa convivência coletiva. Foi fundamental no cultivo e exercício do respeito por pessoas e por decisões diferentes.

Pequena, sem capacidade de detectar sarcasmo, Cida ensinou a irmã, a partir das ironias do ‘Amigo da Onça’, a se defender sem perder a ética. Empregou linguagem compatível com as suas idades.

Desfrutaram, juntas, de diversos tipos de lazer, a exemplo do cinema e atividades desportivas. Mas, a criação do chargista, Péricles, penetrou em suas memórias como momentos de descontração e aprendizado.

As irmãs cresceram e solidificaram uma união à prova de qualquer ameaça. A caçula, continua grata àquela que lhe ensinou regras básicas de convivência social. Consegue discernir que o sarcasmo pode ser visto como uma habilidade de sobrevivência por causa de seu papel crítico nas interações sociais.

Atualmente, é percebível o bem do ensinamento fraterno a partir de mensagens irônicas, publicadas num periódico semanal há décadas. Serviram para ver a vida como ela é. Sem maquiagem.

O HOMEM DE CELULOIDE, por José Mário Espínola

Andrés e o filme que vai exibir e comentar hoje no Liv Mall, em João Pessoa

O tipo impressiona. Sujeito alto, boa compleição, louro de olhos azuis. E uma voz tronituante, de muita personalidade. Associados ao seu jeito carismático, isso faz com que nunca passe despercebido por onde anda.

Cultura fabulosa, vem dedicando toda a sua vida ao cinema. Literalmente: passa a maior parte do tempo dentro das salas de projeção, saindo de uma para entrar noutra, pois a Sétima Arte é o seu ofício.

Assiste a um filme com olhos profissionais, analisando já a partir da composição da platéia, desde a bilheteria. Semelhante a um bom sommelier, degusta cada filme saboreando todos os detalhes: câmera, direção, fotografia, atuações, trilha sonora, enredo, composição da platéia. E ao final dá a sua nota. Como um crítico rigoroso, dificilmente dá uma nota 10.

Exibe para a sua grande platéia, espalhada pelos cineclubes do Brasil, os melhores filmes da atualidade. Assim como outros lançados no passado, sempre excelentes películas. Não gosta do cinema brasileiro, e é fã declarado do cinema argentino, que diz ser um dos melhores o mundo.

Como um mestre de sala, comanda seus grupos com mão de ferro, exigindo que se limitem ao tema cinema, excluindo os recalcitrantes, após terem sido advertidos. Pois às vezes se comporta como um professor rigoroso, enquadrando aqueles alunos que esquecem as boas maneiras na sala de aula. Mas, assim como toda classe de colégio tradicional tem um mestre severo, também sempre tem um aluno travesso, o qual forma um binômio com o professor, que resulta sempre em boa amizade.

Fidalgo, possuidor de gosto exigente, como bom gourmet ele aprecia pratos sofisticados, sempre acompanhados de vinhos finos. Monarquista, respeita a democracia e abomina extremismos, tanto de direita quanto de esquerda. Como todo príncipe, ele tem a sua corte, com composição semelhante às dos nobres da Renascença. Tem de tudo que é personagem.

Nas suas apresentações, às vezes ele se entusiasma e escorrega na linguagem, deixando a platéia corada. Mas é o seu estilo, o seu valor é maior do que a boca candidata ao sabão.

Em alguns momentos tenta ser rigoroso, brabo mesmo. Porém, na realidade ele tem um coração de chantilly. Sempre muito solidário e preocupado com as pessoas, eu acho que ele é, na realidade, um socialista enrustido. E dos bons!

Enfim, este é Andrés Von Dessauer, o nosso mestre de cinema. Tem nome de príncipe bávaro, nasceu chileno e é brasileiro por adoção. Andrés hoje é cidadão do mundo. Ora nos parece um barão prussiano. Ou um conde do País de Gales. Ou um príncipe degredado. Já estudou até na Alemanha, onde teve a oportunidade de conhecer a Rainha Elizabeth II, recém-falecida.

Já trabalhou em muito países, mas escolheu o Brasil como lar. É possuidor do melhor museu de arte erótica da Paraíba, em cuja calçada encontramos um jacaré gigante, feito de cimento, que ele trouxe sabe lá de onde, e sabe lá como. E que crianças e pessoas simples pensam ser real.

Considerando a sua boa saúde, a excelente forma física, a sua resistência incrível que o leva a suportar maratonas de filmes, em cidades como João Pessoa, São Paulo e Rio de Janeiro, nas quais é muito conhecido, e levando em consideração a sua afinidade com o cinema, cheguei à conclusão de que Andrés não é feito de tecido humano: ele é feito de celulóide, o mesmo material dos filmes cinematográficos acomodados em rolos, para serem exibidos nos cinemas.
***
Esse é, portanto, o nosso príncipe bávaro. Por tudo isso é que ergo um brinde para o nosso grande mestre, Andrés Von Dersauer, com champagne Veuve Clicquot, brût: longa vida ao príncipe!

TUDO DE VELHO NO FRONT, por Francisco Barreto

Imagem símbolo da Sexta-feira Sangrenta,  21 de junho de 1968, data em que a ditadura militar matou três pessoas, feriu dezenas e prendeu mais de mil no Rio de Janeiro (Foto: Evandro Teixeira – CPDOC/FGV)

Contrariamente ao que disse Eric Maria Remarque em ‘Nada de Novo no Front’, ao fazer profundas e severas reflexões sobre a condição humana e a miséria moral da violência das guerras e dos exílios…

No front brasileiro, vislumbra-se tudo de velho e carcomido pela ignorância que nos domina. Ecoam entre nós vozes tresloucadas bradando contra um comunismo e sua ideologia advindos dos séculos passados das teses marxistas-leninistas. Há décadas, a agitação e a propaganda pró-comunista deixaram de existir nas portas proletárias das fábricas do mundo ocidental.

As ideias que seduzem o mundo operário e camponês têm total intimidade com a social-democracia com pendores neoliberais. O que existe é um blefe politico travestido de falsos e virulentos discursos anticomunistas. A ideologia político-partidária da luta de classes é apenas uma quimera literária, sobretudo para a esquerda.

Os falaciosos discursos “à direita” são ratoeiras para iludir os imbecis. Hoje, não se tem clareza politica para se conceituar o que são: à direita e à esquerda. Nesse contexto, vale admitir como máxima a premissa segundo a qual importaria tão somente, para compreensão do que vivemos hoje, distinguir o certo do errado. A ética, a moral e a dignidade humana são nortes para postular este entendimento.

Velha e desonesta é a reverberação do principal magistrado do país,  o atual presidente desta infelicitada República, vociferar contra o perigo comunisante. Quem tem o mínimo conhecimento sobre contrainformação sabe que é uma farsa a estratégia adotada, até segunda ordem, que seduz as hostes militares, políticas e endinheirados, todos entrincheirados nos poderes.

O atual e desacreditado presidente da República tem supostamente na sua retaguarda um significativo número de altas patentes militares que o usam como uma “marionette” para continuar usufruindo dos penduricalhos do poder central. Milhares de patenteados transitam organicamente no poder e, hoje, outros tantos estão envolvidos em disputas eleitorais para cargos eletivos. Parlamentos em todos os níveis escandalosamente estão se conspurcando nas benesses fiscais, financeiras e fisiológicas. Os tribunais superiores, com minguadas exceções, perseguem trajetórias inusitadas sem, no entanto, teren a coragem cívica e a honradez de fazer cumprir as leis.

Para as Forças Armadas e seus comandos, imagino eu, amparam-se no manto do silêncio e quizás de vergonha porque teriam que admitir que o “capitão” é apenas um “valet de chambre”. Sempre refreiam as suas ambições individuais ou corporativas, as quais nunca são reveladas. Seguem o antigo brocardo “melhor do que ser Rei é ser amigo do Rei”.

A principal força de suporte a todas as encenações que ocorrem e ocorrerão fica à conta das hostes militares, de e sem pijamas. São os que organicamente dão e recebem as benesses do Poder central. Sem este suporte, o minguado Poder Central não é nada, no máximo uma biruta que depende estruturalmente dos sopros da área militar.

No mais, há um núcleo empoderado que se nutre de segmentos milicianos, de uma desastrada família, de políticos famélicos por cargos e dinheiro, de corruptos de plantão, ambiciosos financistas, e de uma classe média vergonhosamente presente nas hordas que cultivam o autoritarismo.

Tudo de velho golpeia-se e alardeia-se dando vivas à morte do Estado de Direito e da Democracia brasileira.

CASAS QUE CONHECI, por Babyne Gouvêa

Casa construída nos anos 1930, no Tambiá, acolhe há mais de 30 anos repartições estaduais

Numa manhã de domingo circulo por alguns bairros de João Pessoa para observar, a título de curiosidade, o estado de conservação de conhecidas residências. Moradas de famílias tradicionais, que tive oportunidade de conhecer na infância e juventude.

Iniciei o roteiro pela casa do Sr. Armando Ribeiro – avô dos meus filhos -, na Rua Monsenhor Walfredo Leal, no bairro Tambiá. Pertence, atualmente, à Defensoria Pública, que a mantém no seu estilo primário. Lá, vivi momentos inesquecíveis.

Satisfeita, sigo em frente. Não encontrar a casa de Clara Otto Amorim, famosa confeiteira de João Pessoa, na mesma rua, esquina com a Rua Eurípedes Tavares, me deixa desolada. Foi posta abaixo. Era tão condicionada àquele lugar ao ponto de sentir o aroma de suas deliciosas guloseimas, ao passar por perto.

Embora desapontada, caminho adiante, ainda na Rua Monsenhor Walfredo Leal. Em frente ao Clube Astrea olho tristemente para a casa abandonada e desmoronada, há anos, da família do Dr. Antônio D’Ávila Lins. Diferentemente dela, a casa vizinha permanece bonita e elegante.

Construída nos anos 30 pelo exportador de algodão Abílio Dantas, foi adquirida nos anos 60 pelo então deputado Inácio Pedrosa. Encontra-se em perfeito estado de conservação, nas mãos de um órgão estadual – Sudema. Afinal, um patrimônio construído com mármore de Carrara em seu interior e outros materiais importados de igual relevância, não poderia ser destruído. Fico aliviada.

Sigo em direção à Rua Odon Bezerra, junção da Rua Monsenhor Walfredo Leal. Vislumbro a morada do conceituado médico pediatra, Dr. João Medeiros, com o fascínio do seu projeto original, nas imediações do Shopping Tambiá. Fico pensando nos murmurinhos das crianças que buscavam a sua assistência.

Parto para a Av. General Osório e observo as velhas casas, alheias à conservação. Fico imaginando aquelas residências com o mesmo estilo arquitetônico, sem recuos laterais ou frontais, com as suas janelas floridas de mocinhas, com os braços apoiados, observando o tempo passar. Esta rua, em particular, me remete à Festa das Neves e agradáveis recordações. Fico triste, evidentemente, em presenciar as ruínas das casas junto às suas histórias. Ainda nesta via, esquina com a Rua Peregrino de Carvalho, observo o prédio da Biblioteca Pública Estadual Augusto dos Anjos, com aparência notável. Admitamos ser uma edificação do século XIX.

Prossigo pela Rua das Trincheiras. Logo no início, em frente à Câmara de Vereadores, me impacto. A casa de um dos membros da família Ribeiro Coutinho, que conheci e guardo na memória, em companhia de amigas de infância, está totalmente esquecida. Aparência flagelada não compatível com o poderio econômico ostentado anos atrás.

Dou continuidade aos olhares na mesma rua. Sinto o semblante entristecer à medida que vejo a deterioração de históricos lares, tão bem mantidos no passado. Um deles foi habitado pelas minhas saudosas Tias Gouvêa, numa época onde ainda havia bondes como meio de transporte. Na mesma via pública vejo a lacuna deixada pela antiga Maternidade Frei Martinho, onde tantos pessoenses ganharam vida. Em contrapartida, em frente a ela, visualizo um acalanto – o edifício bem conservado da atual sede da Reitoria do IFPB, prédio que sediou no passado a Faculdade de Farmácia e Bioquímica da UFPB, como também a Casa do Estudante Universitário.

Passo pela Rua Capitão José Pessoa, ainda no bairro Jaguaribe, e paro em frente à residência do amigo do meu pai, Dr. Fernando Carrilho Milanez. Fico encantada com a exuberância intacta daquela morada que conheci na adolescência.

Sigo na direção da Rua Rodrigues de Aquino e me surpreendo com a inabalável casa do famoso alfaiate italiano, Sr. Mário Faraco. Situada perto da Maternidade Frei Damião, antigo Hospital Paula Marques, contrasta com lares derrocados nas proximidades. Naquela localidade, as casas destroçadas não foram resultados da especulação imobiliária. Provavelmente, estão em mãos de herdeiros, e a vegetação se apossa do lugar abandonado.

Logo à frente, dobro à direita na Av. João Machado e olho um tanto acabrunhada para a mansão decadente do Dr. Odilon Ribeiro Coutinho, muito conhecida pelos animais exóticos, criados no seu entorno, outrora.

Respiro fundo e prossigo. Ainda, na mesma avenida, percebo alternância do estado de conservação de suas residências. Algumas praticamente extintas, outras íntegras, como a do Sr. Luiz dos Santos, bisavô dos meus filhos, ambiente que frequentei em reuniões familiares. Neste passeio noto prédios bem cuidados, que sediam escolas e órgãos públicos, a exemplo do IPHAEP. Mas, o encanto daquela avenida está mesmo na residência incólume do Dr. Luiz Inácio Ribeiro Coutinho, situada em frente ao Fórum Cível Desembargador Mário Moacyr Porto. Esta, em particular, é inesquecível para mim.

Lá passei momentos alegres no amplo jardim e no glamour de cada ambiente, com amigas queridas de infância. A beleza de todos os seus recantos ficou impregnada na minha memória.

Mais adiante, na expectativa de observar um determinado imóvel, resolvo andar pela Av. Maximiano Figueiredo. Chego aonde queria. No cruzamento desta avenida com a Rua Camilo de Holanda encontro a graciosa e impecável Casa Cor-de-Rosa, abrigo do Dr. Bento Pereira Diniz. Motivo para me dar ânimo.

Sigo em direção à Av. Epitácio Pessoa e passo por várias demolições. A mais dolorosa foi, sem dúvida, a morada do Dr. Atílio Rota, em frente ao Posto Santa Júlia. Doeu demais vê-la substituída por um banco (instituição financeira) em estilo arquitetônico totalmente distinto do lar da família Rota. Encontro consolo, um pouco mais à frente, na protegida residência do Dr. Cassiano Ribeiro Coutinho, considerada ícone da arquitetura moderna brasileira no Estado da Paraíba. Projeto de Acácio Gil Borsoi, esta linda e grandiosa residência agrega um jardim projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx.

Como antídoto ao malefício que as ruínas me causam, me dirijo aos protótipos de casas belas e bem preservadas, na minha concepção: a imponente casa branca do Dr. João Crisóstomo Ribeiro Coutinho, na Av. Epitácio Pessoa, próxima ao Grupamento de Engenharia. Esta casa possui estilo semelhante ao Georgiano (Casa Branca dos EUA), mas ressalto ser minha a afirmação; e a residência da Fazenda Boi Só, construída no século XIX pela família francesa Boisson. Este patrimônio da cidade de João Pessoa foi residência de várias famílias importantes, sendo a última a ter o título de posse a do Dr. Isidro Gomes da Silva. Situada em local estratégico no Bairro dos Estados é considerada cartão-postal de paisagem antiga salvaguardada.

Finalizo as andanças um tanto entristecida. Casas antigas tão belas e aconchegantes estão desaparecendo do ambiente urbano, dando lugar aos edifícios. Sob meu olhar, a cada casa demolida morre um pedaço da história da cidade. Junto com os escombros do que outrora foi um lar se extinguem histórias e lembranças. Restarão, apenas, as memórias das pessoas que nelas viveram.

DEVOLVA NOSSA BANDEIRA! por José Mário Espínola

Imagem: LeiaJá

O Hino Nacional, a bandeira brasileira, as Armas Nacionais, com o brasão, e o Selo Nacional são símbolos da nacionalidade brasileira. Assim como o Dia 7 de Setembro, a data maior do nosso país.

Desde que assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro iniciou um processo de apossar-se dos nossos símbolos. Ele não pode fazer isso, não lhe pertence. As Forças Armadas não lhe pertencem. O Dia da Pátria é de todos os brasileiros.

Logo este ano, quando devíamos todos nos perfilar nas ruas, ouvindo as lindas marchas e dobrados, assistindo ao desfile militar das nossas Forças Armadas, comemorando o bicentenário da Independência do Brasil, estamos sendo impedidos, como se brasileiros não fôssemos, somente eles.

Os símbolos da pátria pertencem, isso sim, ao povo brasileiro. O verde-e-amarelo é nosso. Mas ele e os seus seguidores fanáticos, que são apenas uma pequena parcela insana da população, estão tentando roubar de nós. Já não se satisfazem com os 107 imóveis, ainda querem comprar o Brasil. Com dinheiro vivo de quem? Seria como se Donald Trump, ídolo maior deles, se apossasse do Dia de Ação de Graças ou do Monte Rushmore, nos Estados Unidos.

Seria como a Seleção Brasileira, a nossa Canarinha, pertencer a uma pessoa. O Dedo de Deus ter um dono ou o samba ser propriedade privada. O acarajé, o xaxado, o canário, a Semana Santa e o Pai Nosso serem apropriados e se tornarem exclusividade de alguém ou de um grupo, em prejuízo da nação brasileira.

Mas não conseguirão. Os verdadeiros patriotas, aqueles que são os genuínos brasileiros, a maioria esmagadora da nação brasileira, não permitirão que isso aconteça. Terão a oportunidade, no dia 2 de outubro próximo, de impedi-los de se apossar do Brasil. Serão varridos, para nunca mais voltarem.

Chegou a hora de bradarmos: PRESIDENTE, DEVOLVA OS NOSSOS SÍMBOLOS!

MINHAS CRENÇAS, por Babyne Gouvêa

Imagem: pixabay.com

Sempre tive o meu Deus, ao lado de sensação de que não orava corretamente. Sentimento de não ser provida de sabedoria para me comunicar com Deus me atormentou durante um certo tempo.

Ele merecia prece ou gratidão à Sua altura, assim pensava. Erudição era necessária para poder me dirigir a Ele.

À medida que escutei palavras proferidas por estudiosos do Livro Sagrado, me convenci de que a minha convicção religiosa sempre esteve correta. É suficiente usar o coloquial para falar com Deus. Basta crer.

Encontro de orações me proporcionou curiosidade em conhecer as histórias sobre Deus. Se eu creio n’Ele, se é a Ele que eu recorro nas adversidades, se é a Ele que apresento a minha gratidão por tudo que me ocorre, por que não procurar saber de sua trajetória?

Circunstância dolorosa afetada a um familiar, oportunamente, me fez discernir e acrescentar parâmetros à minha crença. Atribuo à corrente de fé, formada na ocasião e, principalmente a Deus, o alento instalado em mim durante o período de turbulência.

Uma vez resolvida satisfatoriamente a enfermidade, a ânsia em continuar o aprendizado me levou à leitura da Bíblia. Estou tornando mais abrangente o meu leque de conhecimentos sobre o meu Deus.

Busco sentimento reflexivo da importância da religião como instrumento de influência na vida social. Não quero apontar verdades nas buscas e viver sob dogmas como se as tivesse encontrado.

Procurei e achei com quem me comunicar espiritualmente. A angústia de ver o atual desamparo de conterrâneos tem retornado para mim em forma de esperança em um futuro promissor. O meu Deus tem escutado as minhas preces.

Esta síntese da minha crença não objetiva persuadir. Apenas, deixa implícitas preocupações sócio-religiosas à intolerância, preconceito e discriminação, em defesa do amor e justiça. Estas são as minhas convicções de fé.