Jazigos doados à Prefeitura ficam nos fundos do Parque das Acácias

Os 600 jazigos privados doados até hoje à Prefeitura da Capital ocupam lotes no Jardim Mangabeira, no bairro do José Américo. As doações possibilitaram enterrar pessoas de baixa renda mortas durante a pandemia da Covid-19 (2020-2021), quando os cemitérios públicos de João Pessoa tiveram sua capacidade e espaços esgotados por tantos enterros. 

O Jardim Mangabeira fica nos fundos do Parque das Acácias, onde descansam para sempre, em sua maioria, membros de famílias abastadas da cidade. Que não precisam nem precisaram pedir túmulo de graça à Prefeitura para enterrar algum parente, ao contrário do que houve com pessoa que solicitou um para o padrasto e não foi atendida.

Entrada do Parque das Acácias

O caso foi revelado aqui com informação de que os jazigos teriam sido comprados pela Prefeitura. Não houve compra, mas doação em contrapartida à permissão que a Prefeitura de João Pessoa concedeu aos donos do Parque das Acácias para instalarem cemitérios e comercializarem serviços funerários na capital, incluindo a venda de jazigos.

“O acordo com a Prefeitura foi celebrado em 1996, na gestão do prefeito Chico Franca”, informou sócio do Parque das Acácias com quem conversei esta semana, acrescentando que no processo ficou garantida “a doação de um percentual (5%) das vagas de jazigos para o município, a ser entregue na medida em que forem construídos”.

Entrada do Jardim Mangabeira

“Até hoje já construímos 12.000 e doamos 600 jazigos de uma gaveta no cemitério Jardim Mangabeira, que fica no mesmo terreno (do Parque das Acácias) no José Américo”, disse o empresário, que prefere não ter seu nome exposto publicamente. Ele informou ainda que a área foi comprada à Plancol, antiga construtora de edifícios na capital.

Respondendo a perguntas do blog, o empresário negou que a Prefeitura tenha cedido alguma área pública ou concedido isenção tributária ao empreendimento em troca da doação dos jazigos. “Pelo contrário, a Prefeitura não paga nem a taxa de manutenção que cobramos de todos os clientes”, observou.

SECRETÁRIO EXPLICA CRITÉRIOS

Conforme prometera na quarta-feira (6), Rodrigo Trigueiro, secretário de Serviços Urbanos da capital, enviou anteontem ao blog os esclarecimentos solicitados sobre critérios de acesso aos jazigos doados à Prefeitura pelo Parque das Acácias. Assim:

  • Em resposta ao questionamento sobre os critérios de escolha do cemitério para o enterro dos mortos durante a pandemia, segundo o Diretor da Divisão de Cemitérios no período ocorreu por escolha dos familiares (entre as opções disponíveis), porém, após todos os cemitérios lotarem, foram todos encaminhados para a área destinada à Prefeitura no Parque das Acácias. Se faz necessário ressaltar que durante meu período à frente da Sedurb jamais me foi solicitado a intervenção visando beneficiar qualquer pessoa.

Trigueiro assumiu o cargo de secretário de Serviços Urbanos da PMJP em 15 de março deste ano. Ocorreu em outubro último o falecimento que gerou a demanda por um dos túmulos doados à Prefeitura pelo Parque das Acácias. No contato inicial com a empresa sobre o assunto, quem me atendeu ao telefone informou o nome de um servidor de Sedurb (que preservo) com quem deveria tratar sobre enterros no cemitério-parque do José Américo.

O número de telefone informado não viabilizou o contato direto com o funcionário indicado, que seria lotado em um setor da Sedurb conhecido como Secaf ou Cecaf. Nenhuma das ligações foi atendida. Assim, também não foi possível identificar a sigla correta do tal setor. Lembrando que até então ainda não era do conhecimento do blog que as doações restringiram-se aos lotes do cemitério mais popular, digamos, do empreendimento doador dos jazigos.

Jardim Mangabeira e Parque das Acácias são cemitérios distintos, bem distintos, apesar de pertencerem a mesma empresa. Daí deduz-se que pelas imagens e tamanhos dos dois é quase impossível afirmar que cabem no primeiro os 12 mil jazigos dos quais saiu a ‘cota’ de 5% reservada à Prefeitura. Possível estimar, de outro lado, que o total de lotes incluiu o segundo, mas nele não repousa corpo algum de quem dependeu da cova pública para se enterrar. 

O espaço continua aberto a explicações, desmentidos, esclarecimentos ou confirmações dos envolvidos.

É BOM ESCLARECER
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