João Pessoa em alta acende alerta de excesso no turismo

Por Filipe Luna

Booking colocou João Pessoa na trilha do overtourism

Recentemente nomeada como principal tendência de destino para 2025 pelo Time Out Travel, com dados do Booking.com, João Pessoa se prepara para um aumento no fluxo de turistas.

A novidade foi comemorada por vários setores com a expectativa desse boom, que sem dúvidas trará retorno financeiro para atividades ligadas ao turismo. Porém, por outro lado, é palpável o sentimento de ansiedade de quem mora em João Pessoa, e está sentindo a sobrecarga, não apenas na infraestrutura existente, mas também no custo de vida.

Aliado ao contexto do crescimento populacional de 15,3% observado pelo Censo Demográfico de 2022, nesse cenário o pessoense passa a incorporar um termo ao seu vocabulário: o overtourism — a pressão turística que pode sobrecarregar recursos locais, agravar desigualdades e impactar o meio ambiente.

Numa cidade já marcada pelo descompasso entre áreas ocupadas e infraestrutura, os conceitos de sustentabilidade e gestão responsável são cruciais.

Isso não implica em proibir ou inviabilizar a atividade turística, mas sim repensar sua forma e sua escala, para que tenhamos um modelo que dialogue nas dimensões ambientais e sociais com seu entorno, em vez da criação de um Polo Turístico através do desmatamento de 47 hectares de Mata Atlântica.

Para além da questão ambiental, a oferta de unidades habitacionais tende a sofrer ainda mais com a conversão de imóveis em unidades de aluguel de curta duração.

Essa configuração, impulsionada pelo aumento do turismo, reduz a quantidade de residências disponíveis para moradores locais, elevando os preços dos aluguéis e dificultando o acesso à moradia. Gerando um deslocamento da oferta habitacional, priorizando turistas e prejudicando a permanência de famílias que dependem de aluguéis acessíveis.

Contribuindo para o efeito de exclusão dos moradores locais está o fato de que João Pessoa consolidou-se como um destino de baixo custo, atraindo um volume crescente de turistas em busca de preços acessíveis. Porém, esse baixo custo tem sua origem em grande parte na realidade salarial desfavorável.

Dados da RAIS 2022 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que a Paraíba ocupa a última posição nacional em remuneração de trabalho formal, com uma média de R$ 2.837,66, bem abaixo da média nacional de R$ 3.754,80, limitando o poder de compra local. Veja:

É preciso, portanto, pensar a cidade, e de fato o Estado, através de experiências e mecanismos que outros lugares que lidaram com o overtourism, adaptando ao contexto local para a criação de boas práticas de um turismo social e ambientalmente responsável.

Se adotadas de forma participativa, essas práticas podem ajudar João Pessoa a crescer de forma equilibrada e sustentável, assegurando que seu desenvolvimento turístico beneficie a todos.

  • Imagens: Time Out Travel, Google Earth (2005, 2024)
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