Certamente teria histórias interessantes para contar caso fosse natural do interior da Paraíba. Falo isto face ao que escuto e leio daqueles originários das cidades pequenas do nosso estado. São relatos que me deixam fascinada e incrédula, ocasionalmente.
Ainda na ativa costumava ouvir as resenhas de colegas sobre as suas respectivas cidades natais. Prestava atenção aos trejeitos como as histórias eram narradas – com manobras corporais e olhos brilhantes exalando profunda satisfação.
Ficava enfeitiçada com as descrições minuciosas de cada um -, fosse sertanejo ou de qualquer outra região longe da capital. Festas, namoros, banhos em açudes e rios, eram temas relatados com prazer. Como bons contadores de história, me levavam para um protagonismo imaginário.
Percebo que a maior parte dos pessoenses se liga ao forró e outras músicas do estilo por influências de conhecidos e pelos próprios meios de comunicação. Interiorano nasce com este gênero musical no sangue. É percebível, nem precisa ser tão perspicaz. Cidadão da capital gosta do carnaval, não sendo preferido pelo habitante natural do interior. Geralmente.
São diferenças retratadas nas inúmeras situações registradas pelo povo da região. Casos característicos de municípios menores são, geralmente, divertidos pela estranheza. Citações de cartórios de registro civil de algumas pequenas cidades constituíam motivo de sonoros risos. Muitas vezes o tabelião registrava apenas o prenome. Sobrenome, para quê? Afinal, todos se conheciam. Esta situação me causava perplexidade ao ponto de fazer tolas e inconvenientes perguntas.
Toda a coletânea de lembranças dos migrados para a capital tinha em mim uma fiel ouvinte. Pedia para que repetissem determinadas ocorrências, como episódios nas eleições e nas delegacias de polícia.
Delegado era respeitado à risca. Bastava a autoridade ameaçar denunciar ao pai alguma travessura, já intimidava o adolescente. Eleições municipais eram um pandemônio divertido. Terminada a votação havia disputa entre os que conduziriam as urnas. O rebu estava formado. Ninguém confiava em ninguém.
E os relatos dos namoros? Que gargalhadas dava à medida que surgia algo pitoresco entre os pares! Destaco duas boas contadoras de histórias, nascidas em distintos municípios. Nas suas explanações simultâneas, décadas depois, descobriram ter namorado o mesmo rapaz no mesmo período de tempo. Comprovaram o provérbio popular: “Nesta vida tudo se descobre”.
Nas festas o surreal acontecia. Em convite para a dança a mocinha disse para o rapaz: “Só se pagar um prato de sopa”. Ingenuidade que traduz beleza. Acho que é exatamente isto que me atrai no acervo interiorano.
Histórias de padres frequentadores de botecos, às escondidas das beatas, me faziam rir demais. Teve o caso de um celebrar a missa visivelmente cheio de pinga, e as carolas lhe atribuírem cansaço excessivo. Faziam bolinhos e chás para recuperar as energias do pároco.
Realidade bem diferente da minha – pessoense, com reminiscências distintas. Pelo menos, diante do farto banco de dados cativantes dos meus colegas naturais do interior do estado.
Hoje, procuro textos de memórias interioranas para ler e reler. A singeleza de seu conteúdo cativa e alimenta a minha alma de leitora.