João paga de Monalisa na foto com os Galdinos

Gioconda, amiga, mandou-me anteontem a imagem acima com a seguinte legenda: “Apenas uma pessoa não está sorrindo”. Concordei no ato, na lata, mas depois, reparando direitinho…

Desculpa aê, Gio, mas mudei de opinião. O governador João Azevedo está rindo, sim. Mas de nervoso, por dentro, contando aflito os segundos que faltam para o fotógrafo parar os cliques.

Sem ter como fazer a egípcia, João fez a Monalisa. Posou contido, quase contrito, mas com expressão suave, entre o cabuloso e o constrangimento, sem passar recibo do seu desconforto.

Escolheu posar assim, Gio, para dizer aos governados mais atentos ou ferinos que sabe muito bem ter assinado algo que de republicano só tem o nome do partido de quem articulou o ato e a foto.

‘O Poderoso Galdino’ deve dar Oscar de Melhor Passada de Pano à Imprensa Paraibana

Recorte de ‘A Adoração dos Reis Magos’, pintura a óleo do flamengo Peter Paul Rubens, datada de 1609

‘O Poderoso Galdino’, produção genuinamente paraibana de cenas antológicas locadas em Pocinhos e João Pessoa, tem tudo para garantir desde já, para a imprensa paraibana, o Oscar de Melhor Passada de Pano de 2025.

O troféu pode ser creditado à performance de 99% dos analistas e equilibristas com diploma, registro ou crachá de jornalista que enaltecem poderio e ‘estratégias’ com que o presidente da Assembleia Legislativa deve presentear uma filha com o cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado.

Existe, contudo, uma pequena chance de tal nomeação não se consumar, em sintonia com as manifestações de repúdio, revolta ou perplexidade que se avolumam em redes sociais e nos canais de mídia sem mecanismos de contenção da opinião pública. Vamos a ela…

A única possibilidade de conter ‘O poderoso Galdino’ dependeria de o Ministério Público da Paraíba ingressar com ação civil pública ou alguém do comum dos mortais ajuizar uma ação popular contra o ato.

Sob qualquer hipótese, uma ação com tal propósito pode perfeitamente basear-se no único esforço de jornalismo que li até aqui sobre possível falta de títulos, experiência e competência profissional da ungida para ocupar cadeira e gabinete no TCE.

A honrosa exceção que me alegra encontra-se no artigo ‘Indicada ao TCE, filha de Galdino não tem OAB e era comissionada do Estado” (clique aqui para ler), publicado ontem (17) pelo Jornal da Paraíba online no blog Conversa Política. O texto é de Angélica Nunes.

Por enquanto, e até onde li, vi ou ouvi, ela figura como solitária componente do 1% que certamente não é vagabundo e mais seguramente ainda não será convidado para a festa da família Galdino, à qual aqueles 99% deverão comparecer carregados de ouro, mirra e incenso.

Golpista pode reduzir pena se aceitar ouvir todo dia hino nacional cantado por Chico César

Fonte do Supremo Tribunal Federal (STF) revelou-me nesta segunda-feira (17) que o ministro Alexandre de Moraes aceita rever condenações por tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, conforme propuseram dois juristas que o procuraram semana passada.

Relator dos inquéritos e processos contra autores intelectuais e materiais do 8/1, Moraes impôs uma condição: a revisão pretendida depende de o Congresso aprovar, com máxima urgência, lei que amplie e diversifique restrições e limitações de direitos aos condenados.

“Aí, sim, será possível reduzir o tempo de cadeia para os golpistas”, disse a fonte, revelando também: na mesma audiência em que recebeu os juristas, Alexandre de Moraes disse que o seu gabinete vem estudando o assunto e já tem pronto um anteprojeto de lei.

O próprio ministro cuidou de sugerir a inclusão, entre novas obrigações a serem impostas aos condenados pelos ataques à democracia, de algumas atividades que deverão ser cumpridas, em centros de ressocialização aos sábados, domingos e feriados. Vejam o que ele propõe:

– sem prejuízo da prestação de serviços em hospitais, escolas, orfanatos públicos, assentamentos agrícolas e entidade de apoio à agricultura familiar, além da interdição temporária de direitos nos termos do art. 47 do Código Penal, o golpista condenado poderá ter sua pena privativa de liberdade reduzida para três anos, 11 meses e 29 dias, mas sem direito à progressão de regime durante esse período e condicionado a:

a) comparecer diariamente às 6h da manhã a qualquer quartel, presídio ou colônia agrícola penal designado em sentença para acompanhar o hasteamento da bandeira enquanto ouve, respeitosamente contrito, o Hino Nacional cantado por Daniela Mercury, Chico César ou Chico Buarque;

b) assistir, entre 7h e meio-dia, a duas sessões seguidas do filme ‘Ainda estou aqui’, no primeiro dia de cumprimento do previsto no art. 48, parágrafo único, do Código Penal, reservando-se os três finais de semana subsequentes para os documentários ‘O dia que durou 21 anos’, ‘Memória sufocada’ e ‘Verdade 12.528’;

c) ouvir, por dois anos consecutivos, após firmar acordo de conversão de pena, palestras mensais sobre história do Brasil, com no mínimo duas horas de duração, que abordem ditadura, torturas, chacinas e outros crimes contra a humanidade cometidos por ditadores, torturadores, milicianos e golpistas;

d) ler um livro a cada mês do prazo previsto na alínea anterior, priorizando obras com no mínimo 200 (duzentas) páginas sem figuras, desenhos, emojis, fotografias ou ilustrações outras que ocupem mais de 10 por cento do conjunto impresso, que deverá ter como tema o combate às discriminações e criminalizações de pessoas pobres, negras ou de orientação sexual distinta do condenado;

e) impedimento de usar redes sociais por cinco dias a cada semana, com vedação expressa à produção, reprodução ou compartilhamento de mentiras, discursos de ódio, preconceitos de qualquer espécie ou acusações que atentem contra a verdade dos fatos e a imagem de autoridades ou pessoas do povo tidas como inimigas pelos condenados.

De acordo com a fonte do blog, os juristas deixaram a audiência descrentes na aprovação, por um parlamento majoritariamente de direita, das alterações sugeridas por Moraes. Um deles comentou, inclusive, acreditar menos ainda que qualquer golpista, bolsonarista raiz, concorde em fazer acordo nas condições sugeridas por Alexandre de Moraes.

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  • Foto e legenda que ilustram o artigo foram copiadas do Intercept Brasil

Cemitérios de João Pessoa são uma vergonha

O túmulo do Professor Vicente Nóbrega em sua mais recente vandalização no Boa Sentença

Se João Pessoa é cidade boa de viver, certamente não é lugar bom de morrer. Digo assim porque nossos cemitérios públicos são uma vergonha. Lixo, manutenção precaríssima, vandalismo e insegurança são marcas evidentes, cotidianas, em particular no maior de todos, o Cemitério Senhor da Boa Sentença.

Desde 7 de abril de 2019, lá está sepultado Vicente de Paula Nóbrega, meu pai. O túmulo ele adquiriu em vida, talvez pensando que ali encontraria quietude eterna. Há cinco anos, não passa um sem que o jazigo de meu pai não seja roubado, arrombado… Há cinco anos, não passa um sem a família mandar repor o que dele roubam, arrombam…

A gente paga para alguém tomar conta, limpar… Pouco adianta. Imagens, crucifixos, vasos, flores, tampos e adornos de algum valor são arrancados e levados com frequência. Ou seja, tão perecíveis quanto os humanos são os túmulos no Boa Sentença. Perpétuos, pelo visto, apenas os ladrões do cemitério e a desídia de sucessivas gestões municipais.