por Filipe Luna
Na minha trajetória em defesa do transporte ativo, aprendi uma lição dura: é preciso estar sempre vigilante com as conquistas, pois é muito fácil vê-las se transformarem em retrocesso.
Recentemente, João Pessoa perdeu mais de 2 km de ciclovia segregada na Avenida Ruy Carneiro, uma das principais vias da cidade. A mudança ocorre para viabilizar a ampliação de duas para três faixas de rolamento em cada sentido. A faixa da direita foi sinalizada horizontalmente como ciclorrota até a altura do rio Jaguaribe (1,2 km). A partir dali, os ciclistas precisam cruzar as três faixas para acessar uma ciclofaixa junto ao canteiro central. Para isso, 18 árvores foram removidas do canteiro, impactando o conforto térmico da área e atingindo de forma desproporcional quem caminha e pedala 🔗 https://lnkd.in/dz6F22JE.
Outro exemplo é a Av. General Edson Ramalho, em Manaíra, onde 1,6 km de infraestrutura cicloviária também foi convertida em ciclorrota para abrir espaço para mais uma faixa de trânsito. Uma solução pensada para vias locais de até 30km/h, implementada em avenidas de alto fluxo e concentração de linhas de ônibus, sem sinalização vertical adequada, apenas com a pintura no asfalto. Aumentando o conflito entre ciclistas, ônibus e veículos particulares dentro de um contexto recente de fatalidade: uma ciclista perdeu a vida em uma via movimentada sem infraestrutura adequada 🔗 https://lnkd.in/d3a_8rG6.
A cidade lidera o crescimento populacional no Nordeste, segundo o Censo de 2022. Mas as respostas à demanda por mobilidade têm seguido um caminho insustentável. Ao priorizar o espaço para veículos, a cidade incentiva o uso do carro, tornando inviáveis os deslocamentos a pé e de bicicleta. Esse ciclo não só agrava a segurança viária, mas também tem repercussões econômicas e reduz o acesso das camadas mais vulneráveis a oportunidades.
João Pessoa precisa adotar políticas para um crescimento sustentável, aprendendo com erros já vistos em outras capitais e apostando em soluções que priorizem a segurança e a inclusão no trânsito.
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• Filipe Luna é advogado e pesquisador de mobilidade urbana e desenvolvimento urbano no LabRua, com foco na promoção do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS)