Sylvia Plath, poetisa americana, no seu poema ‘Espelho’ desperta o leitor para a sua trajetória de vida. Particularmente, para quem chegou à maturidade.
Poema belíssimo, tem o visual como um dos cernes da poesia, como sugere o próprio título.
Aparência madura é reconhecida pelos sessentões? Quem chega a essa faixa etária está pronto para envelhecer consciente das marcas do tempo?
Observam-se no físico mudanças naturais. Olhos e pele já não são os mesmos. Nada que obstaculize o fazer e o falar. Aliás, a liberdade de fazer e falar é uma gostosa vantagem da maturidade.
Envelhecimento dá permissão de tentar viver bem, sem repressões ou opressões. Torna, muitas vezes, mais saudável o convívio com outras gerações.
Mas, por que estou falando dos sessentões, se o belo é o poema de Sylvia Plath e não o ânimo para quem ingressou no estágio idoso?
Ah, tentarei responder: diante do espelho o idoso se vê exatamente com a idade que tem, e feliz por estar vivo e apto – , sem impedimentos para atividades condizentes com os estados físico, mental, social e cognitivo em geral.
Serão reais ou otimistas demais essas impressões sobre o envelhecimento?
ESPELHO APOÉTICO
Chega uma fase da vida em que as visitas aos consultórios médicos se tornam periódicas. Fase do envelhecimento.
Aparentemente, o que se verifica é um número bem maior da frequência aos dermatologistas, preferencialmente esteticistas, e aos cirurgiões plásticos.
Preenchimento aqui, esfoliações ali, e a luta pela aparência jovial eterna não tem fim. Rostos atingem um grau de alteração ao ponto de obrigar o cidadão a substituir as fotos dos documentos, para não correr o risco de constrangimentos.
Cuidado com a saúde torna-se secundário na disputa com a estética. Pode-se deduzir que bom era o tempo em que o fato de ser idoso era encarado naturalmente? Ou será melhor atualmente onde o envelhecer vem acompanhado de cuidados com a aparência para não ser alvo de críticas ferinas?
Poeticamente correto, ideal é envelhecer com saúde e dignidade.
ESPELHO POÉTICO, por Babyne Gouvêa
FALTA ALGUÉM EM HAIA, por José Mário Espínola
O repórter David Nasser era um excelente cronista e fez grandes reportagens na revista semanal O Cruzeiro. Não gozava de boa fama no meio jornalístico, todavia. Colegas de profissão não lhe apreciavam o caráter.
Diz a lenda que um dia David Nasser foi pedir emprego a Assis Chateaubriand. Este perguntou o que ele sabia fazer, tendo Nasser respondido que escrevia de tudo.
Chateaubriand disse-lhe, então:
– Escreva um artigo sobre uma grande figura da República.
– Falando bem ou falando mal? – perguntou Nasser.
Impressionado com a resposta, Chateaubriand contratou Nasser imediatamente para O Cruzeiro.
Um dia, Nasser escreveu o seu mais famoso livro, ‘Falta alguém em Nuremberg’ (Editora O Cruzeiro-1966).
A obra do jornalista e escritor era um brado contra o fato de Filinto Müller, chefe da polícia política da ditadura Vargas, jamais ter sido julgado pelas crueldades que cometeu durante o governo que caiu em 1945.
No livro, Nasser relata as perseguições de Müller contra adversários do regime, que chamava indistintamente de comunistas e contra os quais institucionalizou a tortura e o assassinato de presos políticos.
Filinto Müller morreu num acidente aéreo no aeroporto de Orly. Era senador pelo Estado do Mato Grosso desde 1947, tendo presidido o Senado, onde era líder do governo militar ao morrer em 1973.
Remetia-se David Nasser ao julgamento do Tribunal de Nuremberg, que foi instalado naquela cidade, na Alemanha, no final da Segunda Grande Guerra, para julgar aqueles que cometeram crimes contra a humanidade durante o regime nazista, de Adolf Hitler.
Nasser defende em seu livro que Filinto Müller e Getúlio Vargas deveriam ter sido indiciados no grande processo.
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Desde 1º de janeiro de 2019, o Brasil tem sido palco de conflitos e momentos de aflição, causados pela conduta beligerante e irresponsável do presidente Jair Bolsonaro.
O fato mais recente é muito grave, pois, além de ceifar duas vidas, expõe o Brasil à execração mundial. Isso devido à forma irresponsável como vem conduzindo a política de meio ambiente, de proteção da floresta e de proteção das minorias da Amazônia, como os indígenas e habitantes ribeirinhos.
Dessa vez, um jornalista britânico, Don Phillips, e Bruno Araújo, um dos melhores indigenistas da Fundação Nacional do Índio, a Funai.
Bruno era especialista em indígenas remotos ou não contatados pela Funai. Eles eram malvistos por denunciarem a política desumana e a presença da ilegalidade na Amazônia.
Chamou a atenção do mundo em geral, e dos brasileiros em especial, o requinte de crueldade com que os dois foram assassinados. Foram covardemente abatidos, esquartejados, queimados, e enterrados no meio da floresta.
Esse crime expõe o governo brasileiro. Desde que assumiu (?) o governo, o presidente adotou uma política, a princípio de abandono da Amazônia. Depois, passou a agir propositalmente, estimulando abertamente a prática de queimadas, extração ilegal de madeira e o garimpo ilegal na região.
Para permitir que essa atividade ilegal floresça, o governo vem excluindo a presença do estado da região.
Desmantelou o principal órgão de fiscalização, a Funai, trocou de forma irresponsável o comando da Polícia Federal e até das Forças Armadas, que têm uma história de heroísmo no apoio à população local. Todos relaxaram a presença região.
Em conseqüência, o crime, organizado ou não, cresceu e tomou conta. Hoje, a Amazônia legal é um lugar sem lei.
Tudo isso revela o desprezo do presidente e dos seus seguidores pela floresta, pelas minorias que lá habitam. Para eles, tudo isso é sinal de fraqueza, o que desprezam, ou coisa de comunista.
Por isso é urgente que seja instituído um tribunal penal para julgar essa gente, por crimes hediondos e por crimes contra a humanidade.
Assim, é impossível conter o grito:
Falta alguém no Tribunal de Haia!
CALAMIDADE NA AGRICULTURA, por Camilo Flamarion
Não tenho qualquer interesse em prejudicar quem quer que seja. Muito pelo contrário. Mas, como engenheiro agrônomo há mais de 46 anos, ex-diretor das extintas Emater e Emepa, jamais poderia fechar os olhos, calar a boca, fechar o teclado ou cruzar os braços diante da situação calamitosa em que se encontra a agricultura na Paraíba.
Parafraseando João Cabral, refiro-me obviamente à parte que cabe ao governo ‘nesse latifúndio’. Sei, sabemos, que o sucesso, onde há, é obra do esforço, persistência e garra dos agricultores.
Em um ano mais do que generoso em matéria de chuva, com índices pluviométricos superando a média esperada, o governo estadual não consegue entregar em tempo hábil as sementes de feijão, milho e sorgo aos produtores rurais. Com isso, inviabiliza, por exemplo, uma grande safra no Sertão Paraibano, uma das regiões mais ricas do Estado.
Inadmissível e inacreditável que a gestão em curso, juntamente com a Empaer, principal empresa estatal de apoio ao setor agropecuário, cometa falha tamanha.
A pergunta que me vem à mente é: quem vai pagar por tanto prejuízo?
Não adianta chorar depois o leite derramado, porque o que mais os produtores almejam é ter as sementes fornecidas pelo governo para os seus plantios.
A salvação da lavoura está, literalmente, no fato de que os agricultores são prevenidos. Muitos plantaram o que guardaram de safra passada, embora essas sementes guardadas não tenham mais o padrão genético adequado a uma maior e melhor produção. Essa qualidade eles teriam se tivessem recebido as sementes que o governo não forneceu tempestivamente.
Diante do exposto e do ocorrido, nossos desassistidos agricultores correm sério risco de amargarem este ano uma produção bem menor, de padrão inferior.
Consumada a tragédia, eles serão testemunhas e provas vivas do quanto o governo do Estado despreza e desprestigia a agricultura paraibana.
UMA BELA HOMENAGEM, por José Mário Espínola
Dias atrás, estávamos assistindo à missa de sétimo dia por nossa prima Elizabeth Nóbrega, esposa do também primo Júlio Aurélio Coutinho.
Durante a cerimônia, foi exaltada a figura daquela que foi uma mulher notável, esposa exemplar, esteio da sua família, e digna de todas as homenagens que lhe possam ser prestadas.
Ao final, ouvimos os testemunhos emocionados de uma neta e um seu neto, que com palavras embargadas traçaram o perfil da maravilhosa avó que tiveram.
Mas, durante a missa, uma frase me chamou a atenção. Disse o sacerdote: “Que importam as cinzas, se a chama foi alta e bela?”.
Fiquei a pensar na verdade contida em tanta sabedoria. Cinzas são restos de uma fogueira. Não se costuma cultivar restos, senão quando têm um grande significado para quem ficou, remetam a boas lembranças ou justifiquem homenagear quem se foi.
A frase é muito feliz quando aplicada a Elizabeth Nóbrega Coutinho. Pois ela foi grande em vida, deu todo o apoio familiar e moral a Júlio Aurélio em todos os momentos de sua vida, tornando possível que ele viesse a ser um sucesso profissional, no início como o grande mestre que foi até tornar-se um sábio magistrado, destacando-se entre os seus pares desembargadores.
Foi também uma mãe exemplar, orientando seu filhos para que fossem bem sucedidos na vida, tanto familiar como profissional. Ela sempre tinha uma palavra sábia e confortadora para todos, por piores que fossem as adversidades.
Nós, seus parentes, amigos e inúmeros admiradores, também tivemos a nossa perda. Pois perdemos uma boa e sincera amiga, que também era uma grande anfitriã, na sua casa na Praia de Camboinha ou na fazenda em Santa Luzia, quando frequentávamos o São João na casa da Tia Diva.
Júlio Aurélio é quem irá mais sentir a falta de sua amada. Ele continuará, porém, a receber de perto todo o apoio de seus filhos Francisco, Fred e Eduardo, o que ajudará a minimizar a ausência dela.
A Beta, a nossa homenagem.
Especialistas em cachaça fundam confraria na Paraíba
Objetivo é difundir conhecimentos sobre o destilado nacional
ESPETINHO, por Ana Lia Almeida
Digaí, comadre, vai querer de quê hoje?
Manda dois de frango e um queijo assado, Ritinha, pra começar. Quero uma gelada também, que dia de sexta a gente fica animada!
Taci batia ponto no espetinho de Rita toda sexta no finalzinho da tarde. Descia do ônibus, voltando do trabalho, e já ficava por lá. Às vezes chegava mais cedo e ajudava a montar o carrinho, agrupando os espetos de acordo com o sabor ao lado da brasa: carne, frango, queijo, coração de galinha e até camarão.
Taci deu a maior força para abrir o Espetinho de Rita. Com aquele jeitinho de quem não queria se meter, se metendo, fez a cabeça da amiga para que ela desistisse de emprestar dinheiro a Paulão Olhos Azuis, e aplicasse num negócio próprio. Ainda bem. O espetinho era um sucesso, todo mundo já descia do ponto sentindo aquele cheirinho bom, não tinha como resistir. Só quem não gostou foi o traste do Paulão, que foi-se embora de novo; mas dessa vez, Rita nem ligou.
No começo, ficou com medo de sentir falta das amizades no busú. Mas logo viu que ali, bem em frente à parada, aproveitava a companhia das pessoas do mesmo jeito. E o melhor de tudo: bem pertinho de casa. Não precisava mais acordar cedo e se arrumar correndo pra passar quase uma hora dentro do ônibus, sem contar o tempo da espera e da volta, já cansada, com as varizes doendo.
E agora que sua filha Clarinha tinha entrado na Faculdade, era tanto passeio, um tal de levar a mãe pro cinema, pra teatro, passear no parque, com o espetinho Rita tinha o horário mais flexível pra aproveitar a vida um pouco, também.
Além do mais, no espetinho podia ouvir as conversas dos outros por muito mais tempo, ninguém cortava uma fofoca no meio porque chegava o ponto de descer. Todo mundo sentadinho, organizado, falando da vida alheia enquanto comia um espetinho bem gostoso, com uma farofa da melhor qualidade. Assim, Rita continuava muito bem informada sobre a vizinhança. Ela nem precisava mais fingir que não estava ouvindo, porque a turma já chegava contando as coisas pra ela ouvir, mesmo.
Levou os espetinhos de Taci e sentou-se um pouco com ela. Contou da viagem que ia fazer com Maria Clara, usando o dinheiro das horas-extras de dona Laura. As passagens já estavam compradas. De repente, chegou um monte de gente atrás de espetinho, e Rita foi atender, toda animada.