ESPETINHO, por Ana Lia Almeida

Imagem meramente ilustrativa copiada de Churrasquinho do Gaúcho AM

Digaí, comadre, vai querer de quê hoje?

Manda dois de frango e um queijo assado, Ritinha, pra começar. Quero uma gelada também, que dia de sexta a gente fica animada!

Taci batia ponto no espetinho de Rita toda sexta no finalzinho da tarde. Descia do ônibus, voltando do trabalho, e já ficava por lá. Às vezes chegava mais cedo e ajudava a montar o carrinho, agrupando os espetos de acordo com o sabor ao lado da brasa: carne, frango, queijo, coração de galinha e até camarão.

Taci deu a maior força para abrir o Espetinho de Rita. Com aquele jeitinho de quem não queria se meter, se metendo, fez a cabeça da amiga para que ela desistisse de emprestar dinheiro a Paulão Olhos Azuis, e aplicasse num negócio próprio. Ainda bem. O espetinho era um sucesso, todo mundo já descia do ponto sentindo aquele cheirinho bom, não tinha como resistir. Só quem não gostou foi o traste do Paulão, que foi-se embora de novo; mas dessa vez, Rita nem ligou.

No começo, ficou com medo de sentir falta das amizades no busú. Mas logo viu que ali, bem em frente à parada, aproveitava a companhia das pessoas do mesmo jeito. E o melhor de tudo: bem pertinho de casa. Não precisava mais acordar cedo e se arrumar correndo pra passar quase uma hora dentro do ônibus, sem contar o tempo da espera e da volta, já cansada, com as varizes doendo.

E agora que sua filha Clarinha tinha entrado na Faculdade, era tanto passeio, um tal de levar a mãe pro cinema, pra teatro, passear no parque, com o espetinho Rita tinha o horário mais flexível pra aproveitar a vida um pouco, também.
Além do mais, no espetinho podia ouvir as conversas dos outros por muito mais tempo, ninguém cortava uma fofoca no meio porque chegava o ponto de descer. Todo mundo sentadinho, organizado, falando da vida alheia enquanto comia um espetinho bem gostoso, com uma farofa da melhor qualidade. Assim, Rita continuava muito bem informada sobre a vizinhança. Ela nem precisava mais fingir que não estava ouvindo, porque a turma já chegava contando as coisas pra ela ouvir, mesmo.

Levou os espetinhos de Taci e sentou-se um pouco com ela. Contou da viagem que ia fazer com Maria Clara, usando o dinheiro das horas-extras de dona Laura. As passagens já estavam compradas. De repente, chegou um monte de gente atrás de espetinho, e Rita foi atender, toda animada.

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