Um herói forjado e formado em Bananeiras

Manoel Vidal de Negreiros (acervo da família)

Ele nasceu em 4 de abril de 1917, um ano antes da criação formal dos patronatos agrícolas no Brasil, destinados inicialmente ao recrutamento de crianças e adolescentes em ‘situação de rua’ para transformá-los em trabalhadores rurais.

Naqueles tempos, a transformação era movida a alfabetização e práticas de agricultura ministradas sob os rigores de uma disciplina que por uns tempos deu a esses estabelecimentos a fama de centros mais correcionais do que educacionais.

Mas não é certo dizer que tenha sido esse o caso do menino de apenas sete anos acolhido em 1924 no Patronato Agrícola Vidal de Negreiros, instituído e construído a partir de 1920 em Bananeiras, Brejo da Paraíba.

Oriundo de Sapé ou de Santa Rita, onde os pais moravam, teria sido levado até a escola por ordem de um juiz, a pedido da  mãe do garoto. Quando lá chegou, no entanto, a criança sequer sabia o próprio nome. Foi ‘batizado’, então, com o nome de Vidal, em homenagem ao patrono do centenário colégio.

Nos registros escolares, Vidal agregou Manoel como prenome e o Negreiros ao nome. Oficialmente certificado e matriculado como Manoel Vidal de Negreiros, por dez anos estudou – até se formar – no curso de Mestria Agrícola (equivalente ao ensino fundamental, soma do primário com ginásio de antigamente).

Após a formatura, Vidal foi contratado como servidor do Patronato de Bananeiras, onde também conheceu e se casou com Maria Emília, com quem constituiu família e criou 10 filhos, formando cinco bons cidadãos e cinco boas cidadãs.

Manoel Vidal foi transferido posteriormente para o Colégio Agrícola de Barreiros, Pernambuco, onde foi admitido após classificação em concurso aberto para contratação de força de trabalho especializada em agropecuária. Na sua nova escola, administrou e trabalhou nos setores produtivos de avicultura e apicultura, até se aposentar.

Aposentado, sempre que podia, Vidal voltava a Bananeiras para rever amigos, ex-colegas de Patronato e parentes de Dona Maria Emília, com quem foi casado por 60 anos, até falecer, em 6 de novembro de 1997.

***

Não se sabe exatamente onde Vidal nasceu. Um dos filhos tentou descobrir, anos atrás. Investigação difícil. Os nomes dos avós paternos eram desconhecidos. Mesmo assim, reuniu informações que creditam à zona rural de Sapé ou de Santa Rita a mais provável origem do pai.

Se foi em Santa Rita, por extraordinária coincidência é possível que o Vidal de Bananeiras tenha nascido no Engenho São João, onde também nasceu o primevo Vidal, o André Vidal de Negreiros, em 1606. Daí, justo dizer que ambos são dotados de heroísmo, cada um a seu modo e circunstância.

André Vidal, herói por ter sido Mestre de Campo, posto no qual comandou inúmeras batalhas para libertar o Nordeste do domínio holandês, entre 1624 e 1649. Manoel Vidal, por ter sido Mestre no Campo, onde lutou e venceu as mais duras batalhas da vida.

Batalhas que o libertaram do destino geralmente cruel e miserável reservado à imensa maioria das crianças pobres. Especialmente, àquelas abandonadas ou largadas pelos pais.

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  • Colaboraram Mércia e Ivan, filhos de Manoel Vidal de Negreiros, e o zootecnista Antônio Carlos Ferreira de Melo, amigo da família
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TCE já tem um hino pra tocar nas suas sessões

Imagem: YouTube

“Fosse no seu tempo da maldade”, disse-me hoje (19) um Amigo, “aposto como você botava carro de som tocando ‘Evidências’ o dia todo na frente da Assembleia e do Tribunal de Contas na próxima quarta-feira (23)”.

Em minha defesa, recorri a Chico Buarque para lembrar que “no tempo da maldade, a gente nem tinha nascido”. De qualquer modo, sem disfarçar a perversidade, sugeriu-me registrar no blog a nossa conversa.

Percebi a intenção do meu Amigo. Texto com esse mote “é pra dar ideia”, deixou ele bem claro. Ideia para transformar em karaokê a sessão que o TCE fará quarta que vem na sua sede de Jaguaribe, em João Pessoa.

Segundo expectativas gerais, naquele dia o colegiado do órgão dirá se a nomeação da filha do presidente da Assembleia para o cargo de conselheira da Corte foi conduzida na moral e na impessoalidade, para além de suposta legalidade.

As evidências dizem que não. Foram apuradas em auditoria do próprio Tribunal e lançadas em circunstanciado parecer que levou ao panteão das celebridades nacionais o Doutor Bradson Tibério, procurador do Ministério Público de Contas da Paraíba.

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A ideia do carro de som executando o “hino do TCE”, como batizou meu Amigo, vem mesmo de coisa minha do passado que confesso no meu próximo livro (‘Memórias do Batente’).

Há trinta anos ou mais, fiz de ‘Mônica’, de Ângela Rô Rô, trilha sonora de protesto diante do Tribunal de Justiça contra impunidade de menino rico acusado de matar menina pobre em Manaíra.

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Enquanto o ‘rumoroso caso’ não se resolve, como diziam antigamente, clique no vídeo abaixo e aprecie sem xororó algum o clássico de José Augusto e Paulo Sérgio do Valle.

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Homi, Ciço vem montando esse cavalo há 20 anos!

Mesmo no escrito de opinião, onde já tivemos por aqui expoentes do tope de Jânio de Freitas e Carlos Castelo Branco, de uns tempos pra cá rareiam os colegas ainda não infectados pelo vírus do jornalismo declaratório, aquele super dependente do que dizem os bacanas da política. Publicamente ou em privado. Quer ver um exemplo?

Recentemente, o prefeito Cícero Lucena, de João Pessoa, declarou que “se o cavalo passar selado”, ele monta. Adiante, garantiu que monta de qualquer jeito, “com sela ou sem”. Cavalo, no caso, vem a ser a conjuntura política que até o final deste ano ou início do próximo faça do declarante irresistível e irrefreável candidato ao governo do Estado.

Pronto! Desde então, vive em festa nosso jornalismo político, provavelmente o mais declaratório de todos. Afinal, quase todo santo dia – nos melhores canais e plataformas do ramo – alguém levanta a bandeira ou enche a bola de Cícero. Sob encomenda ou não, colegas pintam a candidatura do alcaide com as cores mais vivas de um fato consumado.

Posso estar estupidamente enganado, mas não vi, não ouvi nem li em qualquer canto alguém dizer ou escrever que Cícero vem montando esse cavalo há 20 anos. Desde quando Cássio Cunha Lima deu corda para o antigo aliado trotar por toda a Paraíba contra a reeleição de Zé Maranhão ou a eleição de Ricardo Coutinho para governador, em 2010.

Boas e más línguas dizem até hoje que os Cunha Lima jogaram bolas de gude e rolimãs na pista para derrubar animal e montaria, quando viram que só uma aliança com o ricardismo derrotaria o ‘inimigo’. O plano deu certo apenas em parte para o clã. Na eleição seguinte, o ex-governador decidiu ele mesmo disputar a vaquejada, mas seu boi não valeu.

Por essas e outras, prepare seu coração! Daqui até outubro de 2026, vai ser um tal de ‘João disse’, ‘Ciço falou’ e ‘Faito rebateu’ sem fim. Em banda de lata. Resta parafrasear Chico César e pedir que Deus nos proteja da bondade da pessoa ruim ou da maldade de gente boa, ou seja, de um povo que sempre chora menos porque pode mais.

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  • Texto de Rubens Nóbrega, como Observador Credenciado do Observatório Paraibano de Jornalismo
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Te cuida, Bananeiras!

Foto copiada do Instagram da pousada

Mais um pouco e Bananeiras terá que dividir, com municípios vizinhos do vizinho Curimataú, algumas das mais atrativas opções de lazer e turismo do interior da Paraíba. Certamente ‘mais em conta’, seguramente tão boas quanto.

Além de Dona Inês e Araruna, Serra da Raiz também oferece alternativas de qualidade em hospedagem e entretenimento. Lá, dou como exemplo a Pousada dos Ventos, referência de bem receber quem procura descanso ou passeios em conexão direta com a natureza.

É hospedaria rural por excelência, a partir de onde o visitante tanto pode fazer ótimas trilhas ao alvorecer como aguardar o anoitecer de varandas que descortinam belíssimos vales e montanhas. E, se depois do pôr do sol digno de inspirar um Ravel, ainda restar ânimo e energia…

‘Vistas assim do alto’, luzes de Duas Estradas (foto: acervo do blog)

Sem perigo algum que possa causar “uma lua cheia que se deixa no céu por esquecida”, a pedida é retornar até a cidade e fruir maravilhoso lual no Mirante da Serra, ao som de vozes e violas enluaradas por talentos da terra.

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Moralidade marcada pra morrer na Paraíba

Era uma vez uma senhora chamada Constituição que pariu gêmeas siamesas. Batizadas de Legalidade e Moralidade, as duas nasceram de um parto complicado que durou 24 anos. Somente bem sucedido porque realizado a fórceps. Graças à persistência de uma parteira que atende pelo nome de Democracia.

Desde o nascimento de Legalidade e Moralidade, ficou clarividente que uma não pode sobreviver sem a outra. Mas, quando tentam e conseguem separar as irmãs, a morte é o fim irrecorrível de uma ou outra ou de ambas. E quem opera a separação quase sempre o faz pensando em matar Moralidade para salvar Legalidade.

Cirurgias para apartar essas siamesas são reguladas ou consumadas praticamente todos os dias, Brasil afora e adentro. Na Paraíba, uma delas foi claramente, escancaradamente, planejada e agendada há dois meses para assassinar Moralidade.

Autores materiais e intelectuais do crime contariam, inclusive, com laudo médico. A ideia é fazer do documento, a um só tempo, injeção letal e excludente de ilicitude. Tudo para matar Moralidade. Mas a operação foi adiada nesta quarta-feira (9), contrariando o profissional acertado.

Especialista em eutanásia de princípios, o homem viu-se obrigado a recolher seringa e bisturi. Mas apenas por enquanto. Mais alguns dias e Moralidade não escapa.

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Professor enaltece Laureano

Entrada principal do Laureano (foto copiada do site do hospital)

Inspirado por este 8 de abril, data reservada ao Dia Mundial de Combate ao Câncer, o Professor Antônio Carlos Ferreira de Melo escreveu nesta terça-feira comovido agradecimento ao Hospital Napoleão Laureano, de João Pessoa.

Zootecnista e docente aposentado da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Antônio Carlos (foto) se diz impressionado com a competência da equipe que o atende naquele hospital.

“Além disso, amigo, no Laureano encontrei a excelência em matéria de tratamento humanizado”, resumiu, em mensagem na qual autoriza a publicação do seu texto, reproduzido a seguir.

***

“Boa tarde, prezado amigo.

Como já lhe dei conhecimento, estou fazendo radioterapia no Napoleão Laureano. Estou indo bem em meu tratamento e, como hoje é Dia Mundial de Combate ao Câncer, gostaria, através de seu conceituado blogue, de parabenizar a todos que compõem essa grande instituição, que tem salvado muitas vidas.

Meus cumprimentos e reconhecimento são motivados, principalmente, por estar acompanhando diariamente a desenvoltura da equipe do Laureano, que trata a todos com competência, amor e humanidad. Confesso, não tinha ideia de que existia na Paraíba um hospital tão eficiente, com pessoas tão bem preparadas.

É muito bom ver a movimentação e a forma humanitária como tratam os pacientes, sempre com muita alegria e cordialidade. Meus sinceros agradecimentos a todos do glorioso Hospital Laureano.

Antonio Carlos Ferreira de Melo”

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Uma aula de Antônio de Barros e Ceceu

Antônio de Barros e Ceceu na Escola Fenelon Câmara (Foto: Madriana Nóbrega)

Professora educadora de escolas do município da capital e do Estado, Raissa Santos proporcionou a mim e à sua amiga e colega Madriana Nóbrega, minha Branca, um dos momentos mais emocionantes de nossas vidas. Aconteceu na manhã do dia 11 de junho do ano de 2016 da graça de Deus, quando assistimos a uma maravilhosa aula sobre Antônio de Barros e Ceceu na Escola Municipal Fenelon Câmara, no Geisel, em João Pessoa.

Conteúdo ministrado por alunos de oitavos e nonos anos, o próprio objeto de estudo das turmas de Português da Professora Raissa se fez presente. Com muito gosto e simpatia, o magnífico casal de compositores, criadores de alguns dos maiores clássicos do cancioneiro popular nordestino, participou ativamente daquele comovente encontro intergeracional, dos mais agradáveis e produtivos que os meus quase 68 anos já presenciaram.

Alunas e alunos fizeram um show para os artistas (Foto: Madriana Nóbrega)

Naquela data, foi segurando choro de alegria que vi uma centena ou mais de adolescentes apresentando de formas diversas o conhecimento que acumularam durante três meses sobre a nossa música mais autêntica e genuína. Tudo a partir de pesquisas sobre vida, obra e, principalmente, letras de Antônio de Barros e Ceceu. Tudo dentro do Projeto Bate Coração, título que diz muito da felicidade criativa de Raissa Santos.

“Durante aqueles meses, trabalhamos biografias e letras deles. Algumas alunas aprenderem a tocar e cantar dez de suas composições, outros produziram cordéis para eles”, relembra a Professora. Mesmo morando em São Paulo, em pleno mês de agenda cheia para artistas como Antônio e Ceceu, eles voltaram à Paraíba e, aqui estando, atenderam gentilmente ao convite que Raissa lhes fez através da cantora Mayra Barros, filha do casal.

A Professora Raissa Santos, ladeada por Antônio de Barros e Ceceu (Foto: Madriana Nóbrega)

“O motivo de escolhê-los para nos aprofundarmos em suas letras foi por achar que suas composições, além de fazerem todo nordestino feliz ao ouvi-las, trazem lindas mensagens de amor e um duplo sentido muito divertido de se esmiuçar junto aos alunos”, explicou a Professora, prova viva do quanto é bom e possível fazer educação pública de qualidade, quando se tem a dedicação, o empenho e a competência de alguém como ela.

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Quando jornalismo rimava com alcoolismo

Memórias do Batente é o título do meu próximo livro. Lançamento previsto para maio próximo. Resume 51 anos do meu jornalismo em João Pessoa, onde vi ou vivi episódios como o narrado a partir deste ponto.

Dos anos 1950 aos 80 do século passado, quando o jornalismo paraibano viveu mais intensamente sua fase heroico-artesanal, no dizer do Professor Chico Pereira, a boemia funcionava como extensão natural do ofício.

Boemia, preciso esclarecer desde logo, aparece aqui no papel de eufemismo glamouroso para o alcoolismo que desde então já desgraçava ou desencaminhava vida e carreira de muita gente boa na profissão.

No período recortado há pouco, era obrigação tácita e quase diária sair para ‘tomar uma’ após o expediente nas redações, batendo ponto nos pontos de encontro mais frequentados pelos jornalistas.

Era assim ou pelo menos é na minha lembrança do batente e incursões boêmias por bares e restaurantes que se espalhavam literalmente de Tambaú ao Sanhuá, feito as muriçocas do Mestre Fuba.

Frequência não inteiramente aleatória, posso garantir. Havia certa amarração do lugar de beber ao fim da jornada de trabalho de cada um. Final da tarde, por exemplo, Luzeirinho de Jaguaribe ou Cassino da Lagoa.

Meio da noite, Grande Ponto das Trincheiras e La Verita do Tambiá. Saideira, Drive-In da Epitácio e Braseiro Continental, na Torre, ou Gambrinus, que foi onde hoje é loja de vender rede de dormir na Feirinha de Tambaú.

Inaugurei-me nessa vida aos 17 anos, quando me senti enturmado em O Norte. Comecei devagar, com moderação imposta pelo bolso limitado. Minha primeira mesa de bar com colegas aconteceu no Luzeirinho.

Fui até lá na carona de Pedro Moreira, sem intenção alguma de beber. Encontramos já uma roda formada em mesas dispostas na frente do estabelecimento, em plena calçada da Avenida Vasco da Gama.

Tão logo nos aboletamos em cadeiras de madeira ornadas com símbolos da Brahma, o garçom despejou na nossa frente dois copos americanos e uma garrafa de cerveja envelopada em embalagem de isopor.

Sem que eu pedisse ou assentisse, já foi enchendo meu copo e o de Pedro, a quem perguntou qual tira-gosto iríamos comer. “Traz codorna”, ordenou meu então editor, sem curiosidade alguma sobre o que eu queria ou não.

Sem força para resistir, muito menos para recusar, comecei a bebericar. De bicadinha mesmo. Pedro notou e ralhou. “Deixa de frescura, Maguin. Ou bebe direito ou não te trago mais aqui”.

Depois dessa, emborquei meio copo de uma vez. A partir daí…

• Imagem copiada de medium.com


  • Texto em itálico publicado originalmente neste espaço em 11 de dezembro de 2019
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