Quando jornalismo rimava com alcoolismo
Memórias do Batente é o título do meu próximo livro. Lançamento previsto para maio próximo. Resume 51 anos do meu jornalismo em João Pessoa, onde vi ou vivi episódios como o narrado a partir deste ponto.
Dos anos 1950 aos 80 do século passado, quando o jornalismo paraibano viveu mais intensamente sua fase heroico-artesanal, no dizer do Professor Chico Pereira, a boemia funcionava como extensão natural do ofício.
Boemia, preciso esclarecer desde logo, aparece aqui no papel de eufemismo glamouroso para o alcoolismo que desde então já desgraçava ou desencaminhava vida e carreira de muita gente boa na profissão.
No período recortado há pouco, era obrigação tácita e quase diária sair para ‘tomar uma’ após o expediente nas redações, batendo ponto nos pontos de encontro mais frequentados pelos jornalistas.
Era assim ou pelo menos é na minha lembrança do batente e incursões boêmias por bares e restaurantes que se espalhavam literalmente de Tambaú ao Sanhuá, feito as muriçocas do Mestre Fuba.
Frequência não inteiramente aleatória, posso garantir. Havia certa amarração do lugar de beber ao fim da jornada de trabalho de cada um. Final da tarde, por exemplo, Luzeirinho de Jaguaribe ou Cassino da Lagoa.
Meio da noite, Grande Ponto das Trincheiras e La Verita do Tambiá. Saideira, Drive-In da Epitácio e Braseiro Continental, na Torre, ou Gambrinus, que foi onde hoje é loja de vender rede de dormir na Feirinha de Tambaú.
Inaugurei-me nessa vida aos 17 anos, quando me senti enturmado em O Norte. Comecei devagar, com moderação imposta pelo bolso limitado. Minha primeira mesa de bar com colegas aconteceu no Luzeirinho.
Fui até lá na carona de Pedro Moreira, sem intenção alguma de beber. Encontramos já uma roda formada em mesas dispostas na frente do estabelecimento, em plena calçada da Avenida Vasco da Gama.
Tão logo nos aboletamos em cadeiras de madeira ornadas com símbolos da Brahma, o garçom despejou na nossa frente dois copos americanos e uma garrafa de cerveja envelopada em embalagem de isopor.
Sem que eu pedisse ou assentisse, já foi enchendo meu copo e o de Pedro, a quem perguntou qual tira-gosto iríamos comer. “Traz codorna”, ordenou meu então editor, sem curiosidade alguma sobre o que eu queria ou não.
Sem força para resistir, muito menos para recusar, comecei a bebericar. De bicadinha mesmo. Pedro notou e ralhou. “Deixa de frescura, Maguin. Ou bebe direito ou não te trago mais aqui”.
Depois dessa, emborquei meio copo de uma vez. A partir daí…
• Imagem copiada de medium.com
- Texto em itálico publicado originalmente neste espaço em 11 de dezembro de 2019
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