FÉ RENOVADA, por Frutuoso Chaves

Largo do Busto de Tamandaré (Imagem do YouTube)

Naquela noite de sábado, recusei o convite do meu neto para um passeio de quadriciclo desde o Busto do Almirante Tamandaré até o Mirante da Praia do Cabo Branco, um dos mais belos trechos da orla de João Pessoa, a cidade que mais cresce no Nordeste brasileiro, ao que nos assegura a propaganda oficial.

Do alto de seus onze anos, Miguelzinho mal percebia que o avô não iria dar conta dos oito quilômetros de pedaladas naquele troço pesado, se somados os quatro de ida com os quatro de volta. “Vai com teu pai”, propus, antes da resposta do meu filho mais velho: “Vai com tua mãe”. Pagaram à locadora, antecipadamente, por meia hora de uso daquilo e lá se foi a pobre Lucinha, tão animada quanto o filho, no lombo de uma ciclovia novinha em folha.

O desânimo desses dois era evidente, quando do retorno em 15 minutos, ou seja, na metade do tempo que seria gasto se o percurso fosse completado. Miguel tinha lágrimas. “Ele caiu”, alarmou-se, junto a mim, a avó que, desde o início, não concordava com aquela invenção. Procurei tranquilizá-la: “Nunca ouvi falar em que alguém consiga cair de quadriciclos. Acho que eles arengaram”.

O tempo de espera por nora e neto me fez acompanhar de um banco aquele vai e vem interminável de adultos e crianças no ponto mais movimentado da Capital da Paraíba quando nos chegam as noites das sextas-feiras, sábados e domingos. Ali, a ciclovia, como não poderia deixar de ser, é uma exclusividade dos que pedalam, fazem uso de patinetes, ou de scooters elétricas.

Pude observar que a movimentação decorria, quase toda, do desembarque dos grupos alegres e ruidosos de gente jovem e das famílias procedentes dos bairros mais afastados para o bom proveito da brisa marinha, o passeio e brinquedos dispostos no calçadão largo e comprido, ou para as mesas dos bares, quiosques e restaurantes existentes em grande quantidade desde o MAG Shopping, no fim da Praia de Manaíra, até o Mirante do Cabo Branco, ponto final de um trajeto de oito quilômetros. O epicentro dessa festa, o Largo de Tambaú, área onde o Almirante tem seu busto, fica na metade do caminho e é a cereja do bolo.

Acho que os residentes fogem, ali, do burburinho noturno dos fins de semana. Deixam o calçadão e seus atrativos para os que vêm de fora. Nas manhãs e tardes, porém, aquilo tudo é recanto deles. Mal o sol se levanta, já ocupam a calçada e toda a rua (então livre dos carros) para as caminhadas, as pedaladas e as corridas diárias a poucos passos do mar, neste caso, quando o corpo e o espírito ainda suportem o ritmo das maratonas.

Diga-se que todo o lugar também é uma festa aos olhos dos turistas que a cidade recebe em fluxos crescentes. Estes últimos logo notam a diferença, para melhor, entre nossa orla e as das demais capitais litorâneas. E, também, logo se informam de que estão a visitar um ponto da cidade onde os grandes edifícios estão legal e absolutamente proibidos.

Assim obrigados por preceito constitucional, os espigões aqui se tornam mais altos à medida que se afastam das praias. Então, é possível perceber das areias de Tambaú e Manaíra várias das mais elevadas edificações brasileiras instaladas no Planalto do Cabo Branco, o bairro mais caro e luxuoso de João Pessoa. À beira-mar, não. Neste ponto, a lei impõe construções sobre pilotis com, no máximo, três andares. E, com isso, confere a um dos trechos urbanos mais modernos do País ares de interior que surpreendem e encantam os visitantes.

É norma que vale para os hotéis. Naquele sábado, levamos um Miguel choroso à lojinha de açaí que funciona ao lado de um deles. Nada como uma boa lanchonete para aplacar tristezas. Foi quando nós, os avós, nos inteiramos do problema: nosso neto havia perdido o iPhone. O aparelho, no sobe e desce dos pedais, caíra do bolso raso da sua bermuda sem que isso fosse percebido por ele nem pela mãe igualmente amuada. Calado e sisudo, o pai pensava, certamente, no tamanho do prejuízo.

Propus, então, que ligassem para o número de Miguel. Minha nora respondeu que já havia feito isso cinco vezes, sem ser atendida. Pedi para que voltasse a fazê-lo. Quase acabados os potes de açaí e todas as esperanças, uma voz de homem fez-se clara do outro lado da linha: “Alô?”.

Pronto. Meu neto voltou a sorrir e assim também a mãe, enquanto o pai desanuviava o semblante. Encontramos Carlos, 15 minutos depois, ao lado do Almirante, onde postou-se com a mulher, a sogra e duas crianças a fim de facilitar a entrega daquilo que, advindos de um bairro periférico, encontraram no leito avermelhado da ciclovia, a meio caminho do Mirante.

Não fez questão pela gorjeta nem teve a menor ideia do quanto nos impressionou com sua decência num instante em que perdemos, dia após dia, aquilo que não pode nem deve ser perdido: a fé na humanidade. É a Carlos, portanto, que dedico estas linhas breves e insuficientes para dele aferir, em sua exata dimensão, a dignidade e a honradez. A ele e a seus iguais.

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Um monumento para o centenário do Colégio Agrícola de Bananeiras

Colégio Agrícola de Bananeiras (Imagem: CAVN/CCHSA/UFPB)

A instalação de um monumento alusivo aos cem anos da tradicional Escola Agrícola de Bananeiras, atual Colégio Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN), vai marcar a comemoração do centenário programada para os dias 6 e 7 de setembro próximo no Campus III da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A informação é do zootecnista Antônio Carlos Ferreira de Melo, ex-aluno e professor aposentado da instituição. Segundo ele, a festa dos cem anos é organizada e será realizada pela Associação dos ex-Alunos do CAVN, que foi inaugurado em 7 de setembro de 1924 sob a denominação de Patronato Agrícola de Bananeiras. 

Antônio Carlos enviou ontem (3) uma carta ao blog (leia abaixo) na qual apela aos seus contemporâneos e a quem mais puder para que doem qualquer valor para cobrir as despesas com o monumento, doação que pode ser feita através do pix de Rômulo Gondim ([email protected]), presidente da Associação dos ex-Alunos.

O apelo do Professor

  •      Boa noite, estimado amigo. Prezado, você sabe muito bem que devo tudo de minha vida a Deus e ao nosso amado CAVN. Foi lá que recebi os melhores ensinamentos técnicos e humanitários, que me fizeram trilhar pelos caminhos da Agropecuária e também de minha formação como pessoa. Tudo isso graças ao conjunto de excelentes professores que tive, e aqui ressalto grandes mestres, a exemplo de nosso Vicente de Paula Nóbrega, Joaquim Édson de Araújo, José Pires Dantas e tantos outros que me privilegiaram com seus valiosíssimos ensinamentos.
  •      Foi através desses grandes mestres que aprendi a amar a minha profissão e o meu CAVN, onde também tive o privilégio de ser professor, espelhado naqueles que me deram régua e compasso. É claro que em relação aos ensinamentos práticos ministrados pelos meus mestres não posso esquecer do que aprendi também com meu saudoso pai, Lucas Marques de Melo, responsável pelo rebanho bovino dessa importante casa de ensino.
  •      Diante do exposto, e tendo em vista que se encontra em processo de licitação projeto de construção de marco comemorativo dos 100 anos do CAVN, que deverá ser custeado por ex-alunos e por todos que tenham alguma ligação com nosso Colégio Agrícola, solicito aos meus colegas de CAVN, e a quem se interessar, que doem qualquer quantia para ajudar a Associação de ex-Alunos a honrar o compromisso financeiro com o construtor do monumento no valor total de R$ 11.200,00.
  •      A doação deve ser feita via Pix do professor Rômulo Gondim (chave: [email protected]), ao qual deve ser enviado comprovante. Agradeço pela divulgação e a todos que contribuírem para o sucesso das festividades e homenagens a nossa querida e centenária escola.
  •      Antônio Carlos Ferreira de Melo, Caranguejo
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ERA FELIZ E NÃO SABIA, por Babyne Gouvêa

Eleito governador da Paraíba finalmente em 1994, Antônio Mariz viria a falecer em setembro de 1995, menos de nove meses após a sua posse (Foto: acervo Josélio Carneiro)

O ano era 1982, ano de alvíssaras. Afinal, o brasileiro ia às urnas depois de um longo tempo de proibições. Lampejos de esperança do retorno à democracia davam sinais com as eleições diretas para governador, interrompidas durante a ditadura militar.

A perspectiva de poder votar despertou na população anseio de participar efetivamente do pleito. Era um tempo bom de se envolver nas eleições.

Seguindo essa lógica foi relativamente fácil o engajamento na campanha do PMDB da Paraíba. Encerrado o horário do ofício partíamos para cidades próximas à capital para acompanhar a caravana dos nossos candidatos.

Numa dessas empreitadas partimos à noite para Pedras de Fogo, cidade paraibana que divide território com Itambé, cidade pernambucana.

Estranho entender a logística dos palanques, mas logo compreendida. De um lado o PMDB da PB reunido na boleia de um caminhão, muito usada para esse fim, à época. Do outro lado, em solo pernambucano, o PMDB discursava utilizando instalações semelhantes.

O ambiente entre os eleitores era civilizado, e o respeito ditava as normas entre adeptos e opositores. Esse clima proporcionava conforto à população pois não havia espaço para animosidades.

Santinhos, faixas e adesivos eram distribuídos e havia receptividade por parte de todos os presentes, independentemente de apoiar o PMDB ou PDS, principais partidos no páreo.

O cansaço, muitas vezes, batia e o jeito era dormir no caminhão, com risco de servir de obstáculo. Foi o que aconteceu. O candidato ao Senado de Pernambuco, Cid Sampaio, quis ser cordial com os colegas de partido do estado vizinho e tropeçou num corpo sonolento. Cheirou o chão do caminhão, literalmente.

A escada colocada para “alçar” o palanque enfrentava congestionamentos, num sobe e desce frenético. Esbarrão com o candidato ao governo da Paraíba, Antônio Mariz, era o desejo de todos os partidários. Orador simpático, talentoso e defensor dos humildes me fez deixar de lado a ética, como mesária naquele ano, para lhe dar um abraço. Os demais colegas de mesa seguiram o meu comportamento.

Naquela noite em Pedras de Fogo fomos prestigiados por presenciar o abraço da dupla peemedebista Antônio Mariz e Marcos Freire, candidato ao governo de Pernambuco, ambos com verve de estontear até o eleitor menos informado.

Os ânimos para as eleições convergiam para uma ansiedade coletiva, em face de uma longa espera imposta pelo regime militar. O estado emocional dos eleitores em nada comprometia a sua conduta de cidadão. Tudo ocorria em clima civilizatório.

Hoje, hostilidade impera contra eleitores. Insultos, mentiras, ódio são destilados intimidando os contrários à frente ditatorial. Neste cenário horrendo resta-me reconhecer que era feliz e não sabia.

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A MORTE DO CAMPO SANTO, por Palmari Lucena

Boa Sentença, alvo constante de vandalismo e furtos (Foto: Edson Matos/A União)

Pessoas vestidas de negro de pé sobre um monte de areia de uma cova recém-cavada. O cheiro de terra fresca mistura-se com o aroma pungente das flores das coroas fúnebres.

A tristeza viaja com a brisa, enquanto os tímidos cantos dos pássaros se acomodam à lassidão do descanso eterno. O ruído das pás movendo terra é ocasionalmente interrompido pelo som de torrões de barro caindo.

Com a visão limitada pelas pernas dos adultos, um menino tenta observar a cena. O ataúde desapareceu, os coveiros partiram. Seu avô querido não está mais ali.

O menino quer correr, desaparecer. Nota frutos dos castanheiros no chão e chuta alguns distraidamente. Os adultos caminham juntos, bem juntos, como se colados pela tristeza.

A dor comum ofusca a beleza e a exuberância dos mausoléus da alameda central. Eles chegam ao portal do Cemitério do Senhor da Boa Sentença. Após abraços, partem sem nunca olhar para trás.

Quatro décadas após o enterro, voltamos. Com o carro estacionado próximo à Praça da Pedra, seguimos pela Rua São Miguel em direção ao cemitério. Lembranças de uma frase pichada com letras e cores iradas do protesto: “Pão, paz, terra e liberdade”.

Paramos diante do que restou do nosso cinema favorito. Imaginamos em silêncio os sinos da Igreja da Conceição anunciando a passagem dos cortejos fúnebres. Sentimos a fragrância enfadonha de incenso permeando a procissão com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Tudo havia mudado.

Estávamos no palco central de uma tragédia urbana, a morte prematura da cidade antiga. Progresso desordenado, indiferente à nossa herança histórica, conspirava incontrolavelmente. Tudo e todos os vivos seguiam como uma enxurrada em direção ao mar.

“A praia vai matar a cidade, é uma questão de tempo”, dizia-nos profeticamente o Tenente Lucena – recordação súbita diante do seu mausoléu. Argolas e artefatos de bronze haviam sido removidos por usurpadores. Vandalismo, abandono e lixo – garras implacáveis esculpidas nos caminhos e nas alamedas. O cemitério havia se transformado no corpo e na sombra da moribunda cidade, vivos e mortos morrendo juntos.

Com o advento das perdas biológicas de outros entes queridos, as visitas ao cemitério tornaram-se mais frequentes. Os tempos que havíamos compartilhado e a aproximação cultural das nossas faixas etárias renovavam a urgência de mantê-los vivos nas nossas memórias e tradições.

O cemitério havia se transformado em uma enorme terra sem dono, nossos antepassados à mercê de pessoas indiferentes. Os mausoléus, prendas fáceis da luta de classes que continua após a morte.

Cenas na televisão e crônicas recentes denunciaram o abandono e a corrupção que impera no Cemitério do Senhor da Boa Sentença. A criminalidade que engolfou o pequeno cortejo fúnebre no sepultamento de uma ilustre paraibana expôs a triste verdade que gostaríamos de esquecer ou negar.

Lugar de descanso dos nossos antepassados e repositório da nossa história, o campo santo está morrendo, vítima do apetite insaciável de tudo aquilo que desafia ou subestima os princípios básicos da nossa tradição e cultura.

Os atos de depredação e corrupção que ocorrem no cemitério são crimes que ferem os princípios de inviolabilidade do cadáver e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, remetendo-nos a uma atemporal Antígona que, desde a antiguidade clássica e em nome de leis superiores e não escritas, luta por dar digna sepultura aos membros da sua família.

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SIMPATIAS E SAUDADES, por Frutuoso Chaves

Imagem copiada do Blog do Thame

Quem quiser saber das fogueiras, crendices e simpatias de junho leia Câmara Cascudo. Ele mesmo, o criador da Sociedade Brasileira de Folclore, o pesquisador das raízes étnicas do Brasil, o sociólogo, o antropólogo, o historiador. Se achar pouco, pode acrescer poeta, cronista e musicólogo. E ainda cabe mais. O homem tratou desses assuntos em estudos da própria lavra e, também, em apanhados de gente diversa, ao longo do País.

Quando o tema é São João, o santo em si, a bíblia será de grande socorro. Essa mesma fonte de consulta vale para São José, divindade de março, aquele a quem Luiz Gonzaga suplicou vinte espigas em cada pé de milho. “Fale lá com São José”, pediu ele ao santo do carneirinho.

O cajado de José, homem já velho, floriu quando de sua escolha para pai adotivo de Jesus, semente divina plantada na menina Maria. Lenda, ou não, conta-se que a prima desta última, uma Isabel infértil em razão da idade avançada, comunicou o nascimento do filho João por meio de uma grande fogueira acesa no terreiro, em noite estrelada.

Se verdade for, mal sabia ela que a providência renderia as brasas de junho chegadas por influências europeias a este País Tropical abençoado por Deus e bonito por natureza, como quer, em sua santa inocência, Jorge Benjor.

Mas vamos a Câmara Cascudo e às simpatias do mês. Esta, aqui, ele colheu do pesquisador J. M. Cardoso de Oliveira, ao que acabo de ler. Serve à moçada de ambos os sexos.

Pulem em cruz sobre as brasas da fogueira, meninos e meninas, tendo à mão um copo com água, gema e clara de ovo. Levem isso ao sereno e, dia amanhecido, vejam que desenho a clara formou. Deu igreja? Casamento na certa. Um navio? Preparem as malas para uma bela viagem. Alguma joia? Vem cheque gordo por aí, minha gente.

Anote você aí, mocinha. Pendure um anel na ponta de um cordão, suspenda-o dentro de um copo com água pela metade e não o deixe nela tocar. Em seguida, com isso nas mãos, ultrapasse uma fogueira em chamas já brandas. Tantos anos você esperará pelo casamento quantas sejam as batidas do anel em pêndulo nas paredes do copo.

Outra mais. Não coma toda a porção que pegou para a janta. Deixe sobras num pratinho disposto, quando a festa acabar, na cabeceira da mesa mais próxima do seu quarto. Tenha o sono dos justos e não se esqueça, ao acordar, do sonho que teve, pois nele esteve aquele com quem você um dia se casará.

Isso também vale para os marmanjos. Se você tiver muita coragem, leve uma bacia com água até a beira da fogueira, à meia-noite de 23 de junho. Não viu seu reflexo? Adeus, minha e meu camarada. Deus os tenha. Torçamos, porém, a fim de que a vida nos seja longa, próspera e feliz.

Ainda não se casou, menina? Pretende fazer isso? Não é pergunta à toa. Afinal, muitas de vocês não querem dividir o lençol nem misturar escovas de dente com quem quer que seja, se isso significar a perda da liberdade, ou prejuízos para a carreira profissional, no que fazem muito bem.

Mas, se apesar desses riscos, ainda quiser marido, ponha água na boca até não mais poder, corra para trás de uma porta e abra os ouvidos. O primeiro nome de homem que então escutar será o daquele com quem irá ao padre, ao pastor, ou ao juiz de paz. Dizem que essa simpatia não falha.

Desejo que todos tenham, apesar dos pesares, uma festa de amor e paz. O que não lhes desejo são as minhas saudades. Nelas inscrevo não apenas as crendices e adivinhações, mas, ainda, os céus estrelados, as quadrilhas juninas das famílias, o abraço dos amigos, o milho assado no braseiro em comum, os cantos e ritmos de antigamente. Mas, seja como for, tenham todos um bom São João.

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COISAS DO SERTÃO DANTANHO (3) por José Mário Espínola

Imagem: Sesc/Divulgação

Anos 1960/70, Vicente era um bom dançarino, namorador, muito bem relacionado, sendo um líder entre os rapazes de sua época. Boa pinta, bem vestido, muito educado, era um conquistador que não perdia festa. Dançava muito bem, e não levava corte das meninas. Ele só tinha um defeito: era, também, um bom bebedor!

Nas farras, nas brincadeiras, noTênis Clube, no cabaré, ele bebia de tudo: de Rum Montilla à cachaça Capim Santo, passando por cerveja, meiota, conhaque São Caetano, cachaça com Cinzzano, Rum Merino, o vinho “francês” Sang du Boi, batidas, caipirinha, coquetel… TUDO!

A propósito do nome do clube, nesse tempo tudo quanto era cidade do sertão tinha um clube com esse nome. Mas de tênis, só conheciam o tênis conga!

Mas Vicente num era de ferro: seu fígado não lhe poupava. Pois as suas ressacas eram proporcionais aos porres: homéricas! A agonia era grande. No dia seguinte à bebedeira, ele amanhecia morrendo, e se enfiava embaixo da cama, subia na janela, trepava no guarda roupa… e vomitava! Só horas depois, passado o efeito da ressaca é que ele sossegava.

A mãe, aflita, vendo o filho naquele estado, fazia o que podia para melhorá-lo. Tentava minorar a agonia do filho. Uma vez ela ofereceu um remédio, dizendo que ele ia ficar bom. Vicente perguntou o que era. A mãe respondeu: Sonrisal. Ele: “Mãe, eu gastei 50 reais pra me embriagar. A senhora acha que eu vou me curar com 5 reais?!”

***

Certo dia, depois de uma grande farra, lá estava Vicente em plena agonia ressacal, em cima do guarda roupa, quando a mãe chegou com uma xícara:

– Meu filho, tome este chá que você vai melhorar.

– É chá de quê, mãe?

– De capim santo.

Vicente não agüentou e vomitou lá de cima do guarda roupa: “RRUUÁÁÁHHH!!!”

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COISAS DO SERTÃO DANTANHO (2) por José Mário Espínola

Imagem: rr4afuture.org

O fazendeiro ficou com gosto de sangue na boca quando lhe contaram: o filho do morador tava bulindo com a sua filha mais nova. E era lá no sítio, nos fins de tarde, debaixo da jaqueira.

Ele jurou de morte o rapaz. Armou-se de uma espingarda 12, subiu na jaqueira, e posicionou-se para esperar o casal. Escolheu um galho confortável, livre o suficiente pra ver tudo.

A tarde foi caindo, e ele cochilou. Acordou-se com o qui-qui-qui, cá-cá-cá dos dois se aproximando. Preparou a arma, e esperou chegarem mais perto: queria enxergar os olhos do safado!

Quando o casal chegou embaixo da jaqueira, a moça se acocorou. O rapaz disse:

– Vou-mimbora!

A moça falou:

– Peraí qu’eu vou mijar…

O rapaz respondeu:

– Se olhar pra cima, você se caga!

E fugiu correndo.

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COISAS DO SERTÃO DANTANHO (1), por José Mário Espínola

Imagem: glimboo.com (copiada de jmsarmento.blogspot.com)

O coronel Aprígio, do Bacamarte, era o que se pode chamar de “um véi safado”. Também pudera… Depois de povoar metade do município, ainda se enxeria pelas mulheres. Seus 85 anos não o deixavam se aquietar.

Quem sofria com isso era dona Cícera, 13 filhos, que passara a vida assistindo as safadezas do marido, mas nunca tivera coragem pra dar um chute na bunda dele e se separar. Viviam na mesma casa, apenas.

Um dia, Seu Aprígio amanheceu com uma ferida bastante dolorosa no dorso do pênis. Foi até a capital se consultar com o saudoso urologista Dr. Osório Abath Lopes Filho. Este examinou e diagnosticou: cancro mole.

O velho ficou apavorado, pois pensou que fosse câncer. Ao que Dr. Osorinho tranquilizou:

– Não se trata disso coronel. Trata-se do fato de que o senhor andou saindo com alguma mulher da vida contaminada. Pois isso é uma doença venérea altamente contagiosa. Mas tem tratamento!

E prescreveu antibióticos para ele tomar e um líquido, Hebrin, para passar na ferida. Esse remédio, por sinal, doía muito. Seu Aprígio via estrelas quando passava.

Certo dia, de manhã cedo, estava no banheiro passando o remédio e soprando o pênis para aliviar a dor, quando a porta se abriu. Era dona Cícera, que acabava de chegar da igreja! Quando ela viu “aquilo”, não se controlou, como fazia das outras vezes, e desabafou:

– Bicho safado, cachorro da mulesta! Olha só o que tu ganha, com essa vida nojenta que tu leva, fazendo safadeza com essas raparigas!

Mesmo flagrado, Seu Aprígio não perdeu o prumo nem o rumo, esclarecendo a seu modo do que aquilo se tratava:

– Ciça, minha véia, o mundo tá virado! Espia só o que nasceu no meu pinto: UM TERÇOL!

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