ENTÃO, É NATAL? por Frutuoso Chaves

Imagem: catolica.blogspot.com

Leio que o 25 de dezembro, do calendário romano, é data improvável. Não, Cristo não teria nascido em tempo tão frio, porquanto o evento não condiz com dois relatos bíblicos: o de pastores e rebanhos ao relento e o do censo determinado por César.

Os dirigentes romanos e judeus estavam longe de ser burros. Tirariam pouca gente de suas casas para jornadas penosas até Belém com temperaturas próximas, ou abaixo de zero, como ocorre, até os dias de hoje, naquelas paragens. E, ainda por cima, para dar nome e endereço ao governo e seus cobradores de impostos.

Tampouco, os pastores contemplariam estrela cadente, em meio ao gado, bichos e seus donos a céu aberto, num frito de quebrar ossos. Nesta época do ano, bois, vacas, jumentos e ovelhas permaneciam (e ainda permanecem) nos estábulos.

Mas, ouçamos o minucioso Lucas: ”Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado. Esse primeiro recenseamento foi feito quando Quirínio era governador da Síria. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. Subiu também José, da Galiléia, da cidade de Nazaré, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles dentro de casa…” (Lucas 2:1-7).

Êpa! Primogênito? Então, houve outros?

Outra coisa que não parece bater bem é este Cristo loiro, de olhos azuis. Nem, em outra hipótese, este branquelo de olhos e cabelos castanhos, conforme retratado durante séculos, desde os templos da Europa até a Paróquia de Nossa Senhora del Pilar (assim mesmo, espanholada), na terra pequena, pobre e sofrida de José Lins do Rego.

Repetindo: não combina bem com a razoabilidade um Cristo branco em terra de morenos, logo ali, na beirada da África. Nem natais nevados em verão tropical, como por aqui são celebrados, com pinheiros de plástico e gelo de algodão.

Nunca fui ao ponto de enfeitar xique-xiques, mas sempre duvidei, desde muito novo, deste Papai Noel de barba branca, botas de cano alto, luvas e roupa ridiculamente vermelha num calor de derreter juízo. Esse camarada gordo pra dedéu que voa de trenó e entra por chaminés.

Há muito suspeitei de que sempre estivemos a comprar produto errado, artigo falso. Não é nem nunca foi nosso o Merry Christmas desejado ao próximo . É mercadoria alheia.

Além do mais, entendo que não seria menos santo um Cristo de pele morena e cabelos crespos. Sou, porém, um sujeito que respeita a opinião alheia. Cada um com sua fé e suas crenças.

Então, beijo para quem for de beijo, abraço para quem for de abraço e Feliz Natal para os que assim entendam a data e sua inspiração.