No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, reverenciado e comemorado anteontem (21), a mulher madura de hoje se sentiu motivada a externar reminiscências em favor da sua formação.
Desde a mais tenra idade ela se deparou com as desigualdades físicas em pessoas da sua vizinhança. A curiosidade nela instalada ora se aguçava, ora se aquietava, mas os poucos anos de vida mexiam com o seu espírito especulativo. Com essa personalidade tipicamente infanto-juvenil, ela, ensimesmada, procurava conhecer as causas provocadoras das diferenças e as alternativas de solução, em um nível mínimo de compreensão.
A vizinha que andava manquejando, qual seria o seu problema? O homem com um olho de vidro, o que teria acontecido com ele? A criança sem audição, o que teria provocado o seu ensurdecimento? A mocinha paraplégica, por que omitiam o motivo da sua paralisia? Essas são algumas situações presenciadas pela jovem preocupada com os seus pares.
Aos poucos, entre uma conversa e outra, passou a conhecer melhor esses portadores de alguma deficiência. Percebeu que todos eram pessoas aparentemente comuns sem nenhuma especificidade que pudesse conduzi-las a uma vala antissocial.
A mulher das pernas assimétricas era de uma benevolência elogiável se relacionando com os vizinhos, distribuindo simpatia; o senhor do olho de vidro era muito bem articulado com os políticos do Estado, manifestando sempre o talento para conluios; a criança surda tinha habilidade em superar os obstáculos deixando todos em estado de perplexidade; a mocinha conduzida sobre uma cadeira de rodas exibia uma convivência afável com os seus familiares e amigos.
Esses parâmetros identificados pela jovem em criaturas de seu convívio muito contribuíram para a formação de sua individualidade. O seu crescimento foi sempre acompanhado de preocupação com as adversidades enfrentadas
por seus semelhantes.
O comportamento da adolescente foi além superando as suas próprias expectativas. Depois de ler o ‘Eu’, de Augusto dos Anjos, procurou identificar na rua com o nome do poeta, paralela à sua, algum sinal dos tormentos presentes no poema. Ela sabia que a busca seria inócua, mas o fato de estar na via pública com o nome do poeta a fazia próxima ao sentimento angustiante colocado naqueles escritos.
Chegou a fase adulta. Embora tivesse aquietado a sua curiosidade sobre as desigualdades, a apreensão e atenção permaneceram. Para o seu ânimo, sentiu o mercado de trabalho despertar para as necessidades das pessoas que possuem limitações em alguns âmbitos, embora num cenário social ainda desfavorável.
As dificuldades relacionadas ao preconceito continuam e a inacessibilidade no cotidiano é afastada muito lentamente. As políticas de acesso pleno à informação, à cultura e às tecnologias ainda estão praticamente ausentes em programas de governo.
Atualmente, as observações da mulher madura prosseguem atentas e voltadas à inclusão social da pessoa em condição de deficiência. Defende o respeito à diversidade. Afinal, diferença não é defeito!