A prevalência de preconceitos quase sempre desumanos espraiam-se em múltiplas dimensões. Agridem as raças, a sexualidade e suas diversidades, o etarismo, o universo dos gêneros, os pobres e incultos, os preceitos e opções religiosas, o ódio à contradição ideológica.
Repudio a todos e a tudo que cultivam sentimentos odientos de prepotência que resvalam nas diferentes formas de dominação das desigualdades entre homens e mulheres.
Por suas vulnerabilidades corporais, idosos são objetos de renitentes comportamentos absurdos dos que abominam o envelhecimento. Insultantes são os frequentes comportamentos de intolerância, da insuportabilidade social, aos que insistem em seus sagrados direitos de continuar vivendo intensamente em suas idades provectas. Na sociedade humana sempre houve, e continuará havendo, um excrescente desprezo pelos idosos e o seu envelhecer em contraponto ao universo jovem belo, esbelto e forte.
A sexualidade relacionada ao envelhecimento incita mitos e tabus, resultando numa míope concepção de que os idosos são pessoas incapazes e assexuadas. Sabidamente, constata-se que o envelhecimento nem sempre transborda à completa inutilidade do desejo e aos movimentos e atos que continuam existindo. Os seus desejos e a libido podem não mais encontrarem correspondência juvenil nos atos sexuais.
As famílias, dentre outros atores, têm um papel coercitivo na direção de extinguir os impulsos instintivos comandados pelos desejos e as libidos, em que pesem os limites das funções fisiológicas. Ao invés, prosperam as agressões ou incompreensões sobre a difícil trajetória dos velhinhos, sem aceitar a importante normalidade da reinvenção do corpo do envelhecido.
Deploráveis são todos os estigmas e preconceitos da negação peremptória a qualquer vivência com a sexualidade dos idosos. Contra esses imperam as repreensões, a perversidade, atos e condutas repressivas, desumanas.
A sexualidade do idoso, num entendimento mais aprofundado, deve considerar que esta faz parte da totalidade do indivíduo. Mentes e corpos desafiam as idades. Os humanos nascem e morrem buscando as alegrias da sexualidade. Mesmo diante de encilhamentos fisiológicos, os envelhecidos não admitem que esteja tudo terminado. O parâmetro demarcador é a morte.
Ao sublimarem seus incontidos desejos em diferentes modos, os idosos sabem que a sexualidade não implica apenas atos físicos ricos de reciprocidades sexuais. A genitalidade enquanto penetrabilidade é uma coisa. A sexualidade vai muito além.
Sobrevivendo com os seus desejos e as libidos, mesmo exilados dos atos genitais, é possível admitir uma vivência sensorial equilibrada, o que contribui para a adaptação dos diferentes momentos físicos que passe a sentir bem-estar psicológico, equilíbrio emocional, autoestima e otimismo, tudo derivado de um modo inovador e corajoso de abordar a sexualidade.
Imensuráveis são as transições corporais que passam a ter um domínio intenso e íntimo com a sexualidade. Se o corpo nas idades avançadas, mesmo desprovido da virilidade, debilitados os hormônios, a mente e os desejos podem reinventar adaptações que motivam suas venturosas expressões sexuais. Os idosos podem decifrar, redescobrir e usar desejos e afugentar as suas frustrações.
Permanecem nas sociedades humanas graves e desrespeitosas ilações que motivam os preconceitos que consideram os idosos seres assexuados. Diante de uma visão negacionista, muitos podem perpetrar o silêncio absoluto e não expor a sexualidade. Contra esses homens e mulheres são produzidos desconfortos e constrangimentos nas relações sociais.
Os limites da sexualidade são desconhecidos, insondáveis e com profundo recolhimento às intimidades que se subordinam apenas a fios condutores que impulsionam a consciência do ainda ser e dos desejos do viver.
O rígido controle social, o sumário julgamento e a repressão que a sociedade mantém sobre as pessoas idosas fazem com que se tornem amargas e silentes, porque são reprimidas. É necessário deixar aflorar a naturalidade dos sonhos e pesadelos dos cenários mais íntimos de quem não deveria se sentir incapaz e aniquilado. Expressar identidades e motricidades sexuais e desejos é muito importante em qualquer tempo de vida.
As atitudes preconceituosas são perversas quando impõem sequelas deprimentes. As privações pessoais que determinam freios à sexualidade, por descabidas admoestações expõem os que ousam exercê-la como atores promíscuos de “vergonhosa” erotização na velhice. Tais atitudes geram efeitos negativos sobre a qualidade de vida, o bem-estar e a perda de autonomia dos idosos.
É voz corrente que a subtração ou perda da atividade sexual possa apenas conviver com a “assexualidade”, esta tida como fato normal e irreversível. É preciso desmistificar a concepção errônea de que os idosos tornam-se “assexuados”.
Informações oriundas de relatos da Organização Mundial da Saúde (OMS) dão conta de que 78,6 % de idosos consultados com mais de 80 anos declararam que a sexualidade não é um bloqueio intransponível e afirmam que esta limitadamente não se extingue.
Mais grave ainda fazem com as mulheres, onde o fenecimento da feminilidade e da atratividade são injustamente postos pelo preconceito em contraponto à beleza física, juventude e sexy appeal do corpo feminino. A menopausa é um grave limite falaciosamente imposto e aceito tacitamente pelo gênero feminino. As mulheres sofrem angustiadas em suas avançadas fases etárias e enfrentam maiores desvantagens no coro popular.
É bem verdade que as suas identidades estão intimamente ligadas à imagem corporal. Esta constatação se ampara na estreita dimensão estética e relega a compreensão de que a sexualidade feminina é sempre possível ao incorporar importantes componentes de mútuas atratividades como as caricias, ternuras físicas e verbais, olhares, beijos e, de sobremodo, diálogos e companheirismo.
O tempo é capaz de avolumar e diversificar os sentidos, sensações que se cristalizam em formas e atitudes heterodoxas de prazer derivadas dos desejos. O tempo é aliado, nunca inimigo. Este recicla a sexualidade, mostrando que no emocional através do afeto o amor é capaz de inventar a prática de atos sexuais, das preliminares, que podem ser mais determinantes porque derivados da extrema sensualidade.
Pode-se imaginar que estes atos extemporâneos e tardios são muito mais definitivos ao prazer do que a cópula em si, que tem muitos limites fisiológicos.
A sexualidade dominada pela sensualidade madura tem efeitos formidáveis quando são compreendidos e aceitos mutuamente.
A sexualidade tem que extrapolar a dimensão estrita da fisiologia humana. Homens idosos privilegiam a potência sexual e se contentam também com o prazer emocional, nem sempre o fisiológico. Por sua vez, mulheres, em sua maioria, sempre são seduzidas pela dimensão afetiva e veem como natural o fim da vida sexual na velhice. Primam pela proximidade afetiva, o carinho, o companheirismo. As mulheres têm vantagem definitiva, pois não têm disfunção erétil.
Os que atingiram os limiares da idade, quando estabilizam sua libido, aceitam pacientemente seus limites, mas sofrem muito mais pela ausência de amor e de afeto do que pela invalidez fisiológica. Assim sendo, é presumível que ainda emanem desejos libidinosos atrelados a atitudes comandadas pelas emoções dos afetos.
A idade pedagogicamente nos ensina que as coisas são o que elas são e raramente o que gostaríamos que fossem. A sexualidade é um atributo da vida, nunca a sua essência. Viva a vida e admita-se que libido e desejos não têm fronteiras nem idades!