A HERANÇA AMBIENTAL DO CABO BRANCO, por Francisco Jácome Sarmento

Impacto 1 – Baia do Cabo Branco perdeu centenas de milhares de metros cúbicos de areia. Restam as pedras dos gabiões rompidos, último obstáculo impeditivo da destruição da ciclovia e da calçada (01/03/2021)

Em julho de 2020, publiquei no “Blog do Rubão” alguns artigos documentando os resultados desastrosos das intervenções de infraestrutura executadas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) supostamente com o objetivo de “proteger” a falésia do Cabo Branco, referência icônica do litoral brasileiro e da geografia mundial.

Impacto 2 – Coqueiral morrendo de pé. Raízes expostas e folhagem amarelada e ressequida anunciando o fim (01/03/2021)

Os textos publicados não se limitaram a descrever o que estava acontecendo, mas também apontavam a evolução do processo erosivo negativamente impactante para a paisagem da enseada do Cabo Branco, processo esse que – claro – não cessou com o fim da administração municipal, em dezembro último.

As evidências do que então se anunciava como consequência direta do lançamento de um amontoado de rochas de grandes dimensões contornando o sopé da falésia, diga-se de passagem, sem nenhum projeto que respaldasse tal ação, permitia a qualquer bom observador da natureza local antever para onde as coisas caminhariam.

Cessei a publicação dos textos e vídeos-denúncia por duas razões: 1) todos os alertas e previsões fundadas na observável evolução do processo erosivo da praia do Cabo Branco haviam sido registradas, inclusive, para além da difusão propiciada pelas redes sociais e a imprensa convencional, uma vez que também atendi o convite do Ministério Público para reunião in loco, contando com a participação de representantes da própria PMJP e de vários outros técnicos interessados no assunto; 2) embora a PMJP não tenha conseguido oferecer nenhuma resposta tecnicamente consistente, insistir como cidadão em cobrar essas respostas facultou a prepostos da edilidade arguir que a denúncia da agressão ambiental tinha viés político, uma vez que se avizinhava o pleito eleitoral envolvendo a disputa pela prefeitura.

À intenção de continuidade no poder municipal interpôs-se o voto popular, quero crer, livre. Já o impacto ambiental decorrente das intervenções desprovidas de engenharia e de planejamento adequado segue agressivo, conforme esperado, dada a máxima do raciocínio lógico basilar segundo a qual em permanecendo a causa, os efeitos persistem.

Impacto 3 – Gabiões de proteção da linha de costa anteriormente existentes rompidos ou tombados pela perda de suporte de areia devido ao processo erosivo (01/03/2021)

Impacto 4: Mirante ameaça tombar (embora ainda não tenha sido interditado). Note a laje que segue perdendo o apoio dos gabiões (veja seja indicativa) (01/03/2021)

A progressão maléfica dos processos erosivos decorrentes do amontado rochoso que onerou os cofres públicos em mais de 4 milhões de Reais pode ser constatada pela mera comparação entre a documentação fotográfica anteriormente publicada (e.g., ver Blog do Rubão) e a atual (01/03/2021).

Em resumo

(1) a baia do Cabo Branco perdeu centenas de milhares de metros cúbicos de areia (não reposta pela corrente marítima natural, por impedimento pelas rochas lançadas pela PMJP) e continua em desequilíbrio em termos de balanço de sedimentos;

(2) o coqueiral, bravamente, está morrendo de pé, pois o próprio suporte terroso lhe é erodido;

(3) conforme previsto, os gabiões anteriormente existentes e que, igualmente custaram milhões ao contribuinte, desmoronaram;

(4) o mirante ameaça tombar (embora ainda não tenha sido interditado);

(5) grande parte da calçada por onde transita muita gente em busca de atenuantes para esse segundo ano de pandemia transformou-se em perigosos trechos de crateras e escombros (infelizmente, mais uma vez, conforme previsto). As fotografias abaixo exemplificam cada um desses cinco principais impactos.

Impacto 5 – Grande parte da calçada ruiu e há trechos dos antigos assentos “suspensos” no ar (veja seta), podendo desmoronar a qualquer momento (01/03/2021)

Retomo o assunto cônscio de que os dois meses transcorridos até a presente data não são suficientes para que a nova gestão da PMJP tenha se inteirado totalmente da dimensão da “herança” recebida da gestão anterior. O novo prefeito e seus auxiliares certamente sabem que decisões concretas precisam ser tomadas. Espero que elas venham o mais breve possível e que possam ser implementadas de maneira a reverter as consequências danosas experimentadas por esse cartão postal da nossa capital.

  • Francisco Jácome Sarmento é Professor Doutor em Engenharia Civil da UFPB