O repórter David Nasser era um excelente cronista e fez grandes reportagens na revista semanal O Cruzeiro. Não gozava de boa fama no meio jornalístico, todavia. Colegas de profissão não lhe apreciavam o caráter.
Diz a lenda que um dia David Nasser foi pedir emprego a Assis Chateaubriand. Este perguntou o que ele sabia fazer, tendo Nasser respondido que escrevia de tudo.
Chateaubriand disse-lhe, então:
– Escreva um artigo sobre uma grande figura da República.
– Falando bem ou falando mal? – perguntou Nasser.
Impressionado com a resposta, Chateaubriand contratou Nasser imediatamente para O Cruzeiro.
Um dia, Nasser escreveu o seu mais famoso livro, ‘Falta alguém em Nuremberg’ (Editora O Cruzeiro-1966).
A obra do jornalista e escritor era um brado contra o fato de Filinto Müller, chefe da polícia política da ditadura Vargas, jamais ter sido julgado pelas crueldades que cometeu durante o governo que caiu em 1945.
No livro, Nasser relata as perseguições de Müller contra adversários do regime, que chamava indistintamente de comunistas e contra os quais institucionalizou a tortura e o assassinato de presos políticos.
Filinto Müller morreu num acidente aéreo no aeroporto de Orly. Era senador pelo Estado do Mato Grosso desde 1947, tendo presidido o Senado, onde era líder do governo militar ao morrer em 1973.
Remetia-se David Nasser ao julgamento do Tribunal de Nuremberg, que foi instalado naquela cidade, na Alemanha, no final da Segunda Grande Guerra, para julgar aqueles que cometeram crimes contra a humanidade durante o regime nazista, de Adolf Hitler.
Nasser defende em seu livro que Filinto Müller e Getúlio Vargas deveriam ter sido indiciados no grande processo.
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Desde 1º de janeiro de 2019, o Brasil tem sido palco de conflitos e momentos de aflição, causados pela conduta beligerante e irresponsável do presidente Jair Bolsonaro.
O fato mais recente é muito grave, pois, além de ceifar duas vidas, expõe o Brasil à execração mundial. Isso devido à forma irresponsável como vem conduzindo a política de meio ambiente, de proteção da floresta e de proteção das minorias da Amazônia, como os indígenas e habitantes ribeirinhos.
Dessa vez, um jornalista britânico, Don Phillips, e Bruno Araújo, um dos melhores indigenistas da Fundação Nacional do Índio, a Funai.
Bruno era especialista em indígenas remotos ou não contatados pela Funai. Eles eram malvistos por denunciarem a política desumana e a presença da ilegalidade na Amazônia.
Chamou a atenção do mundo em geral, e dos brasileiros em especial, o requinte de crueldade com que os dois foram assassinados. Foram covardemente abatidos, esquartejados, queimados, e enterrados no meio da floresta.
Esse crime expõe o governo brasileiro. Desde que assumiu (?) o governo, o presidente adotou uma política, a princípio de abandono da Amazônia. Depois, passou a agir propositalmente, estimulando abertamente a prática de queimadas, extração ilegal de madeira e o garimpo ilegal na região.
Para permitir que essa atividade ilegal floresça, o governo vem excluindo a presença do estado da região.
Desmantelou o principal órgão de fiscalização, a Funai, trocou de forma irresponsável o comando da Polícia Federal e até das Forças Armadas, que têm uma história de heroísmo no apoio à população local. Todos relaxaram a presença região.
Em conseqüência, o crime, organizado ou não, cresceu e tomou conta. Hoje, a Amazônia legal é um lugar sem lei.
Tudo isso revela o desprezo do presidente e dos seus seguidores pela floresta, pelas minorias que lá habitam. Para eles, tudo isso é sinal de fraqueza, o que desprezam, ou coisa de comunista.
Por isso é urgente que seja instituído um tribunal penal para julgar essa gente, por crimes hediondos e por crimes contra a humanidade.
Assim, é impossível conter o grito:
Falta alguém no Tribunal de Haia!