Sempre gostei de escrever cartas. Na adolescência, trocava missivas com familiares que moravam fora de João Pessoa. Em viagens de férias escolares, tinha o hábito de escrever para o meu avô Eugênio, para as minhas tias Gouvêa e para amigas. Isto é fato.
Recebia a correspondência e a caligrafia, como denomino a escrita em geral, despertava minha atenção. Este motivo me levava a fazer várias leituras das notícias recebidas: o conteúdo em si e o tipo de letra dos remetentes.
Ficava encantada com a perfeição das letras dos parentes do passado. Havia nelas esmero, traduzindo respeito a quem se dirigia. A correção da gramática era nivelada à beleza do formato das letras.
Estas observações me faziam questionar sobre a queda da estética no ato da escrita, com o passar do tempo. Numa atitude natural, comparava os tipos de caligrafia dos meus antepassados com os contemporâneos. Explicação plausível para esta inquietação nunca obtive.
Atualmente, os estudos comprovam que é possível melhorar a letra em qualquer idade. Mas a dificuldade aumenta com o passar dos anos. Memória muscular é o que causa isto, devido ao tempo com a mesma escrita guardada. Uma coisa é certa: a escrita não é herdada. É inócuo tentar imitar a letra dos antecedentes.
Ato de escrever, hoje, não considera importante uma letra bonita. Acesso a processadores de texto torna mais fácil a produção da escrita em letra digitada – bônus da evolução das sociedades, para uns.
Desenvolvimento da tecnologia acelerou o processo dinâmico da escrita. Sem dúvida. Entretanto, não evitou o empobrecimento da caligrafia, que acabou perdendo o primor em face dos avanços tecnológicos.
Mas, lamentável mesmo, foi não ter podido subscrever a Carta em Defesa do Estado Democrático de Direito, à caneta. Espelharia nos arquivos da história a minha caligrafia com a vibração do verdadeiro patriotismo, que não abre mão de viver sob os mandamentos constitucionais e os valores da democracia.