COVID MATA UMA CAMPINA A CADA 6 MESES, por José Mário Espínola

Sexta-feira última, dia 30 de abril, a cidade de Campina Grande teria amanhecido vazia. Pelas ruas, somente gatos e cachorros vadios circulavam, errando em busca de alimento.

No Parque do Povo definitivamente silencioso, sanfonas, triângulos e zabumbas seriam nada mais do que ecos fantasmagóricos de um passado recente. No passeio da Rua Maciel Pinheiro, que já foi o mais movimentado da cidade, nada além de capim seco e poeira.

No Parque da Criança não mais se ouviriam risos infantis, mas tão somente o barulho do vento, como nos vilarejos fantasmas dos filmes de caubói. E todas as pessoas que por lá se exercitavam teriam desaparecido.

O Campus 1 da Universidade Federal de Campina Grande, orgulho do nosso Estado, transformado em cidade universitária deserta, não mais produzia tantos programas de computação que têm ajudado a melhorar o mundo e a salvar vidas.

Enfim, no dia 30 de abril já não haveria mais ninguém na cidade, pois foi justamente nessa data que o Brasil ultrapassou a cifra dos 400 mil mortos pela epidemia de covid 19. O equivalente a uma Campina Grande completa.

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Há pouco mais de um mês, completávamos os 300 mil mortos. Na ocasião, os brasileiros dotados de sensibilidade e piedade ficaram consternados.

Aqueles indiferentes ao sofrimento da nação, os dotados de psicopatia, não chegaram a se manifestar, tão grande a indiferença. Pelo menos não comemoraram. Talvez não.

Os números frios revelam uma mega tragédia, inédita no nosso país. Pois nunca se morreu tanto e tão rapidamente.

Desde a primeira morte, a 17 de março do ano passado, são 402 mil mortos em 408 dias. Média de 985 mortos a cada 24 horas. O equivalente à queda de 3 aviões Airbus A380 lotados, todos os dias, ao longo de pouco mais de um ano, fazendo desaparecer nesse período toda a população de uma Campina Grande.

Mantida essa média, alcançaríamos o meio milhão de mortos aproximadamente no dia 7 de setembro. Todavia, a média atual é de 2.400 mortos por dia, o que anteciparia o 500.000º morto para o dia 11 de junho. É como se caíssem 6 Airbus A380 todos os dia, só aqui no Brasil.

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A ciência vem demonstrando que a velocidade de novos casos de morte por covid 19 pode ser modificada por diversos fatores. Pode ser retardada com a adoção de medidas sanitárias, das quais se destacam o uso de máscaras, a higienização e o distanciamento social. Tudo isso associado à vacinação em massa.

Temos a prova de que isso é possível quando observamos a evolução da doença em alguns países, como aconteceu no Reino Unido, em Israel e na Nova Zelândia.

Nem precisamos ir tão longe: quando ainda não havia acesso às vacinas anti-covid 19, a cidade de Araraquara, no interior paulista, impôs o isolamento social e demais medidas sanitárias. Conseguiu reduzir internações hospitalares, ocupação de leitos de UTI e novos óbitos por covid 19. Paralelo a isso, o resto de São Paulo e outros estados, como o Amazonas, “ardiam em chamas” com o aumento estúpido de mortos pela terrível doença.

Todas as medidas exaustivamente recomendadas contra a covid estão ao alcance das decisões de autoridades da saúde. Mas não é tão simples assim: os cuidados sanitários têm que ser adotados por todos.

Por outro lado, a taxa de óbitos diários pode ser acelerada. É o que atualmente está acontecendo no Brasil. É o que estamos observando especialmente entre os mais jovens, que desprezam o perigo aglomerando-se, falhando no uso das máscaras e nas medidas de higiene.

A mudança na atitude da população é possível, desde que mude também a atitude das autoridades da saúde. Isto requer uma campanha intensa e decisões duras por parte dessas autoridades, principalmente do Governo Federal, não só da parte do presidente da República como de seu Ministério da Saúde.

O próprio presidente, entretanto, numa atitude genocida, dificulta como pode o processo de imunização, desobedece todas as regras sanitárias e incita a população à desobediência às determinações da OMS, dando o mau exemplo à população.

Quanto às vacinas, o Governo Federal, responsável maior pelo Plano Nacional de Imunização (PNI), falhou feio ao não reservar e comprar em tempo hábil as doses necessárias para vacinar a população, o que poderia frear a marcha do extermínio em massa.

O PNI já foi modelo de excelência para o mundo. Foi desmantelado na titularidade anterior do Ministério da Saúde, causando enorme prejuízo de vidas para o Brasil. Existem evidências que o ex-ministro da Saúde evitou a aquisição das vacinas oferecidas para não desagradar o presidente da República, que sempre se posicionou contra a vacina, ao ponto de ministros seus se vacinarem escondidos, na calada da noite. Talvez em garagens de empresas de ônibus. Ambos, presidente e ex-ministro, são diretamente responsáveis por essa chacina que vem acontecendo no Brasil.

O PNI está agora passando por processo de recuperação, iniciado pela nova administração do Ministério da Saúde, que age orientado pela ciência, acendendo uma nova esperança para a população brasileira.

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Observando todos os cuidados, não só da parte da população mas, principalmente, dos governos federal, estaduais e municipais, poderemos, enfim, evitar a perda de uma Campina Grande a cada seis meses.

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