Na sua infância, o autor costumava frequentar as rodoviárias de João Pessoa e Campina Grande, como ponto de partida para o gozo das férias escolares na casa dos avós maternos no interior da Paraíba. Destino: o município brejeiro de Alagoa Nova.
Nessas viagens, passou a prestar atenção no povo local. Sua simplicidade, singularidade, vestimentas de cor rosa choque, seu linguajar próprio, onde pontificavam o ôxente e o sotaque típico. Com a globalização dos costumes só restou de característico o sotaque, “o rebolado da voz”, segundo o poeta Antônio Mesquita.
O autor adentrou ao universo do preconceito quando ao final da adolescência soube que aluna de um colégio religioso de João Pessoa, onde ministrava aulas de Biologia, dizia jocosamente que ele falava cantando. Meses depois, o episódio foi superado.
Um dos primeiros brados de repúdio ao preconceito foi protagonizado pelo alagoano Zagallo quando após a conquista pelo Brasil da Copa América, bradou o “vocês vão ter que me engolir”, após o ser sutilmente discriminado por ser nordestino e ocupar o cargo de técnico da Seleção Brasileira de Futebol que mais ganhou títulos.
Outra forma de repelir com altivez o preconceito é demonstrar o nosso orgulho de ser paraibano e ou destacar as nossas riquezas culturais, musicais e naturais. Neste sentido, um dos pioneiros nessa estratégia de luta contra a discriminação foi o professor Genival Veloso de França.
Doutor Genival sempre encerrava as suas palestras magistrais para médicos do Brasil e de Portugal convocando todos a visitarem o nosso sublime torrão. O seu bordão: “A Paraíba não é um lugar, é, sim, um destino”. Orgulha-se o autor de ter sido seu aluno na UFPB.
Uma terceira frente no combate ao preconceito é expressar o orgulho de morar na Paraíba, abdicando até de um maior crescimento profissional, para residir próximo de suas raízes. Temos dois exemplos bem atuais de paraibanos arretados que assim decidiram: Jessier Quirino e Rossandro Klinjey.
O poeta Jessier Quirino alardeia seu amor pelo matuto nordestino e vangloria-se de morar em Itabaiana, seu lugar de origem, e assim absorver a cultura do deu povo. Uma visita ao seu ateliê é uma inesquecível aula de cultura, história e geografia da Paraíba
Já o Psicólogo e palestrante nacionalmente conhecido Rossandro Klinjey descreve – na sua preleção intitulada “Sobre ser nordestino” – como enfrentou o preconceito quando quiseram “abrandar o seu sotaque e fazê-lo trocar o DDD 083 por um 011”. Até hoje orgulha-se de morar em Campina Grande.
Mas “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Desponta o fenômeno midiático campinense Juliette Freire. Vítima de preconceito sistemático no início de um programa televisivo, o Big Brother Brasil 2021, não apenas superou como venceu a luta.
As armas de Juliette são puro amor à Paraíba, altivez, simplicidade, humildade, veracidade, arrojo e carisma inquestionáveis. Em tempos de Oscar, seus concorrentes tiveram que estender-lhe um tapete vermelho. Para quem já foi vítima de discriminação, vivenciar sua vitória é um lenitivo.
Parafraseando Zagallo, aos preconceituosos devemos dizer: ‘Queiram ou não, vocês vão ter que engolir a nossa paraibana arretada Juliette!”.
- Eurípedes Mendonça é Médico
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