Deram o nome de Pedro II à pracinha inaugurada na saída de Pilar. Ou na entrada, se o percurso for feito desde Café do Vento, na BR-230, em direção ao Baixo Vale do Paraíba.
Com a denominação, os pilarenses trataram de homenagear o primeiro governante do País, no exercício do cargo, a pôr os pés na cidadezinha que teve o progresso sepultado pelo transcurso dos anos. Não menos, pelo descaso que dela afastou a estrada entre João Pessoa e Campina Grande e, de quebra, ainda matou os trens de carga e passageiros.
O segundo foi Bolsonaro, na campanha sem êxito para a reeleição. Desceu do helicóptero, apertou umas tantas mãos, acenou para o povo e se mandou. Também, ali, a contagem dos votos, meses depois, daria a vitória ao outro. Mas essa é outra história.
Nos idos de 1859, Pilar detinha importância suficiente para a visita imperial. Era uma espécie de Capital da Zona Canavieira numa Paraíba que em muito contribuía com o fabrico do açúcar, então o produto de maior peso da pauta de exportações do Nordeste.
O Imperador chegou antes do esperado, na tarde de 26 de dezembro. A Casa de Câmara estava fechada e as pessoas ainda se preparavam para recepcioná-lo quando a comitiva irrompeu lá para as bandas do “Compra Fiado”, trecho mais pobre da Vila, com o nome assim justificado.
A Rua Grande, quase deserta, viu passar o cortejo a cavalo e uma só carruagem: aquela na qual a Imperatriz, dona Teresa Cristina, seguia o marido, tomando poeira. Participavam do grupo numeroso o Comandante da Guarda Nacional, um Ministro do Império e, é claro, o Presidente da Província Ambrósio Leitão da Cunha.
A saída da Capital dera-se ao nascer do Sol com parada para o café no Engenho São João, do Barão de Maraú. Conta-se que o Barão, longe do padrão intelectual que o título sugere, ladeava Dom Pedro no momento em que este, próximo a um pé de fruta-pão em plena carga, olhou para o céu nublado e observou: “A atmosfera está carregada”. Ao que o anfitrião retrucou: “Vossa Majestade não viu nada. Carregada estava no ano passado. Era cada atmosferão desse tamanho”.
Acho que é em “Meus verdes anos”, seu livro de memória, que José Lins do Rego fala de uma velha professora de Juripiranga orgulhosa do vestido usado na recepção ao Imperador e ainda preservado, com jeito de novo.
Estive na pracinha há poucos dias. Canteiros florescendo, bancos pintados e postes com lâmpadas de neon mais vivas e radiantes do que as das ruas centrais. Ali, não pensei em Dom Pedro, como penso agora. O que me veio à lembrança foi a bodega do Tio Boanerges, na esquina da Rua do Silva. Imperador algum nos faz sentir a falta que sentimos dos entes queridos. Um só Boanerges me vale mais do que mil reis e rainhas.
A fachada é a mesma. Mudou a cor e, também, a disposição dos artigos expostos à venda não mais em prateleiras atrás do balcão com a clássica balança de pratos e, sim, em gôndolas percorridas pela freguesia para as compras do tipo “pegue e pague”. O supermercado, de fato, veio para fazer moda.
À pequena distância, a casa da querida Lourdes, a jovem em quem meu tio pôs os sentidos. Lembro do dia em que ele carregou a moça, para desespero da minha mãe temerosa da raiva daqueles que o irmão viria a ter como sogro e cunhados. Mas tudo, felizmente, logo se pacificaria. Do casamento nasceram três meninas branquinhas tão belas quanto a mãe o foi no esplendor da juventude.
Sangue bom o desse Boanerges gerador de mulheres bonitas que, aliás, também vieram para botar no mundo seres bem próximos dos anjos. Clarissinha, a primeira neta, é uma festa para os olhos. Bia, a outra, ainda muito novinha e a quem apenas vi nos seus primeiros passos, aparece-me no Facebook com ares de princesa, dessas dos contos de fada. Dom Pedro II? Pois sim. Uma visita a Pilar vale mesmo é por essas lembranças.