Postagens sucessivas nas redes sociais lembram o transcurso, neste 11 de janeiro, do Dia Internacional do Obrigado. Aprendemos que o termo é um belo traço da alma e da língua portuguesas. Coisa de séculos.
Enquanto outros mortais se limitariam a expressar o sentimento de gratidão com meras interjeições (thanks, danke, merci, gracias) os herdeiros da língua de Camões, em quatro sílabas apenas, dispõem-se a retribuir, obrigatoriamente, a atenção, a gentileza, o serviço, ou o favor então recebidos de alguém.
O obrigado, ou obrigada, teria este significado: “Sinto-me obrigado(a) à retribuição”. Quem já não leu crônicas, ou ouviu mensagens saborosas com esse tema? E todas com louvores à concisão e à pureza da língua que herdamos.
Eis que leitura recente me conta outra história e me corta o barato. A palavra, com origem indo-europeia (leyg, de ligar), tinha uso formal no fim das cartas de antigamente, com termos exageradamente rebuscados aos olhos de hoje. Coisa do gênero: “Muito venerador e obrigado (ligado) a Vossa Mercê”. Viria daí, também, o “merci” francês.
Com o tempo, o “obrigado” pulou de categoria e reinventou-se, ao que leio no Vortex Magazine, um portal de língua portuguesa dedicado a temas relacionados à sociedade, à cultura, às viagens e à tecnologia, tal como se apresenta.
A VortexMag bebe nas fontes de linguistas e pesquisadores portugueses, a exemplo de Marco Neves e Fernando Venâncio, para garantir que o termo “obrigado” somente tem registro escrito, com o sentido atual, a partir do Século 19. Ou seja, Camões nunca agradeceu a ninguém desse jeito. Quanto a mim, com as minhas carências emocionais e culturais, prefiro o sentido moderno da palavra. Afinal de contas, o uso consagra, não é?
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