LOUVRE NOTURNO, por Babyne Gouvêa

A Mona Lisa de Leonardo da Vinci e o Retrato de Baldassare Castiglione, de Rafael Sanzio

Um amante das artes excêntrico e investigativo resolveu visitar o Museu do Louvre num dia primaveril. Diferentemente de outros visitantes, procurou observar poucas obras de um determinado período artístico; assim, poderia aprofundar melhor o seu conhecimento, além de tentar desvendar um mistério – como seria a comunicação entre os autores e seus personagens?

Na busca por respostas, descobriu um ‘lugar de sombra’ dentro do museu, não detectável pelo sistema de segurança, e lá se escondeu. Não queria sair do Louvre quando todos os turistas ou nativos saíssem. A ideia era passar a noite e trabalhar curiosidades em torno de duas obras do movimento renascentista: a ‘Mona Lisa’ de Leonardo da Vinci e o ‘Retrato de Baldassare Castiglione’, de Rafael Sanzio.

Portas cerradas, enfim, com silêncio e baixa luminosidade nos amplos salões do museu as obras-primas daquele imenso e incalculável acervo adormeceram depois de um longo dia de exposição. Todas se recolheram, com exceção das duas expoentes do Renascimento, que se mantiveram espertas para tentar resolver uma rivalidade de cinco séculos.

A ‘Mona Lisa’, ícone do seu período, vangloriou-se por ter como autor um polímata italiano que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Um pouco intimidado, o ‘Retrato de Baldassare Castiglione’ traçou currículo mais resumido do seu pintor, também italiano, apontando-o como mestre da pintura e da arquitetura.

Soberba, Mona Lisa insinuou que o ‘rival’ inspirou-se nela por serem as poses muito parecidas, omitindo o fato das auras terem aspectos muito diferentes. O ‘Retrato de Baldassare’ rebate destacando ser bastante natural, espontâneo, enquanto a ‘Mona Lisa’ inspira mistério. A partir desse ponto, o debate assume tons e proporções que exigem mediação.

A ‘Vênus de Milo’, serena, de olhar enigmático, também insone e posicionada em local estratégico, escuta as vozes acirradas das duas obras renascentistas e procura despertar os respectivos tutores no meio da noite para que intervenham na discussão.

Embora não satisfeitos com chamado em horário tão inconveniente, pois estão cansados de tantas visitas, os pintores adotam uma postura conciliadora em favor da harmonia entre suas criações mais famosas. 

Tanto Da Vinci quanto Rafael chamam a atenção da Mona Lisa e do Retrato para o humanismo, a simetria e o equilíbrio na composição de cada obra. São marcas e referências do gênero que os consagrou, a exemplo dos vivos olhos azuis de Baldassare, que transmitiriam um sentimento de bondade, e o olhar da musa, que parece seguir que se posiciona diante da tela em qualquer ângulo ou posição.

Rafael lembrou ainda que Baldassare Castiglione era conhecido por seu livro O Cortesão, no qual descreve a figura do perfeito cortesão renascentista. Por sua vez, Da Vinci reafirmou que jamais revelaria a identidade da mulher que lhe serviu de modelo. 

Enaltecimentos mútuos foram trocados entre os artistas. Rafael disse ter homenageado a ‘Mona Lisa’ na qualidade célebre da pintura do seu ‘Retrato de Baldassare Castiglione’. Reconheceu ser a ‘Mona Lisa’ uma das obras de arte mais populares de todo o mundo e o impacto daquele quadro na História da Arte ao influenciar muitos outros artistas que a têm recriado ao longo dos séculos.

Satisfeitos por terem apaziguado os ânimos, os pintores retomaram o sono reparador, conscientes de que tinham dado condições às suas crias de se apresentarem como boas anfitriãs dos seus observadores, no dia seguinte.

O visitante escondido, feliz por ter alcançado seu objetivo, bem antes de deixar o museu começou a planejar uma nova investida. Passaria outra madrugada no Louvre, certo de testemunhar confabulações ou discussões das esculturas gregas.

ESCRITORA É CANDIDATA

Andréa Nunes em entrevista à TV Senado (veja o vídeo no final da matéria)

Escritora por excelência, romancista por opção, Andréa Fernandes Nunes teve seu nome lançado para suceder Juarez Farias na Academia Paraibana de Letras (APL), informa Abelardo Jurema.

Filha do saudoso ex-reitor Jader Nunes (UFPB), Promotora de Justiça em Pernambuco, Andréa lançou seu primeiro livro – ‘Papel crepom’ – em 1992, pela Ideia Editora, de João Pessoa.

Na sequência, vieram ‘A Corte Infiltrada’ (Carpe Diem, 2014; Buzz Editora, 2017), ‘Escrever Berlim’ (Editora Nós, 2017), ‘Jogo de cena’ (Cepe Editora, 2019) e ‘O Código Numerati: conspirações em rede’ (All Print Editora, 2010).

As histórias que Andréa colocou em letra de forma contêm atrativos e nuances que tornam a leitura imparável, graças a narrativas que fundem gêneros como o romance policial e a ficção científica.

Ela é também autora de requisitado livro sobre atuação de órgãos de defesa do Estado. ‘Terceiro setor: controle e fiscalização’, lançado em 2006 pela Editora Método, já tem duas edições esgotadas.

Sob a presidência da escritora e crítica literária Ângela Bezerra de Castro, a APL tende a retomar a eleição de novos membros em razão da qualidade essencialmente literária da obra dos candidatos à imortalidade.

Sob tais critérios e perspectiva, Andréa Nunes tem chances reais de vir a reforçar a qualificadíssima ‘bancada feminina’ da Academia, na qual já pontuam e acentuam Elizabeth Marinheiro, Graça Santiago, Pepita Cavalcanti, Fátima Bezerra, Socorro Aragão e a presidente Ângela.

MAIS FLEX, MAIS MORTES

Secretário de Saúde de João Pessoa diz não ter sido convocado oficialmente  para depor da CPI da Covid-19 e alega que emitiu "opinião de cidadão" -  ClickPB

Fábio Rocha, secretário de Saúde de João Pessoa (Foto: ClickPB)

Frouxidão fatal – Perto de atingir 3 mil mortes e dona da maior taxa de contaminação por covid entre as capitais do Nordeste (1,39), em João Pessoa cada grupo de 100 infectados pode infectar mais 139. Mesmo assim, o prefeito Cícero Lucena prega maior flexibilização no novo decreto de restrições a ser baixado até sexta (18) pelo governador João Azevedo. “Para equilibrar funcionamento (leia-se abertura de atividades não essenciais) com distanciamento”, disse ontem (15), em entrevista. 

Psicótico e ridículo – O secretário de Saúde de João Pessoa voltou a bombardear hoje (16) a CPI da Covid. Entrevistado ao vivo no Bom Dia Paraíba, da TV Cabo Branco, a artilharia bolsonarista de Fábio Rocha disparou os adjetivos ‘psicótico’ e ‘ridículo’ contra quem investiga o governo Bolsonaro por atrasar a vacinação. Sem atrasos, vacinas teriam salvado pelo menos 100 mil do meio milhão de brasileiros que a pandemia já matou.

Idosos salvos – Deu n’O Globo. Estudo do estatístico Rafael Izbicki, professor da Universidade Federal de São Carlos (SP), mostra que apenas entre maiores de 65 anos a vacinação contra o corona livrou 1.512 pessoas da morte no Rio. Além, evitou 3 mil internações, economizando R$ 210 milhões de gastos com hospital. Pesquisa usou dados sobre covid de 18 de janeiro (início da vacinação) a 14 de maio último.

Bandeira vermelha – É preciso esclarecer o seguinte: até onde entendi, não é a conta de luz (toda) que pode subir 20%, mas a taxa da bandeira tarifária (vermelha 2, este mês). Com isso, o adicional por cada 100 quilowatts-hora consumidos deve aumentar de R$ 6,243 para R$ 7,571 no próximo boleto. Segundo previsão de André Pepitone, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

  • Com informações do blog Conversa de Política (Jornal da Paraíba), TV Cabo Branco, Estadão e O Globo

 

NOTÍCIAS DO BRASIL REAL

Conta de luz vai subir! Entenda como funciona a bandeira vermelha de maio

Imagem copiada de fdr.com.br

Prepare o bolso – Por falta de chuvas, de incentivo ao consumo eficiente e de expansão firme e forte do acesso a fontes de energia não poluentes e mais baratas (solar e eólica, principalmente), a conta de luz vai subir novamente. Serão R$ 6,243 para cada 100 kWh consumidos que virão no próximo boleto. Por essas e outras, a inflação deve passar de 6% ao ano quando julho chegar.

Cloroquina X Vacina – Estadão revela que emails trocados entre autoridades do Brasil e da Índia mostram o quanto Bolsonaro e equipe empenharam-se na compra de insumos para produzir cloroquina. Mensagens com tal objetivo foram respondidas em menos de 15 minutos ano passado. Bem diferente dos seis meses ou mais de ‘gelo’ que recebeu quem propôs ao governo vacina contra a covid.

Fiéis superfaturados – O deputado federal Domingos Nego (PSD-CE) distribuiu tratores e verbas aos aliados, aí incluídos mais de R$ 110 milhões para a prefeita Patrícia Aguiar. Que vem a ser a genitora do parlamentar, relator-geral do Orçamento 2020 da União e beneficiário do ‘orçamento secreto’, esquema que fidelizou ainda mais a base governista no Congresso. Suspeita, entre outras manhas e patranhas, de patrocinar compras superfaturadas de máquinas agrícolas.

Bolsa Covid – O governo deve turbinar o Bolsa Família em 2022, ano de eleição. Entre as novidades, pagar até R$ 250 por cada criança ou adolescente que perdeu os pais na pandemia. O Ministério da Economia calcula gastar R$ 196 milhões ano que vem com 68 mil órfãos. Se o cálculo levar em conta a perda de pai e mãe, só aí teremos 136 mil ‘CPFs cancelados’, como adoram dizer milicianos assassinos e admiradores quando debocham das vítimas dessa imensa mortociata de vidas e famílias em que se transformou o Brasil.

  • Com informações dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo

AS ETES DA MINHA VIDA, por Aderson Machado

Imagem meramente ilustrativa copiada de Oráculo da Lu

Tinha apenas nove anos de idade quando me apaixonei pela primeira vez. Fazia o curso primário em uma escola da zona rural, no município de Areia, Paraíba. A minha musa era uma colega de turma, e se chamava Marizete.

O meu amor por Marizete era, na verdade, um amor platônico, posto que eu nunca tive contato físico com ela; sequer, alguma vez, chegamos a conversar alguma coisa.

Mas o meu sangue fervia por ela. Com efeito, não conseguia me concentrar direito nas aulas; nela, sim. E como era difícil esse meu comportamento. Era um frouxo. Não tinha coragem de me abrir, chegar perto dela e dizer-lhe o que realmente eu sentia. Assim, não me achava confortável. Uma menina de quem tanto gostava, tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante de mim!

O fato é que terminei o curso primário, deixei a zona rural, fui estudar na cidade, e Marizete se tornou um sonho não concretizado.

Depois de mais de vinte anos sem nos vermos, encontrei-a por acaso numa festa, em João Pessoa. Conversamos, dançamos, ela falou sobre a sua vida, e eu sobre a minha. Nada mais aconteceu. Fui embora da festa e essa foi a última vez que nos encontramos.

Aos dezessete anos, conheci Ridete, uma adolescente de quatorze. Foi amor à primeira vista. Amor, não namoro. Apesar de já ser um rapaz, a timidez ainda não tinha saído de mim. Foi outro amor platônico!

Fazer o quê? Um rapaz como eu, já concluindo o ginásio, cheio de amor pra dar, mas sem coragem de me declarar às minhas pretendentes!

Eu vivia sempre a me perguntar: até quando iria perdurar esse estado de coisas? Até quando?

Em 1974, ingressei no magistério. E foi a partir daí que, gradativamente, fui perdendo a “vergonha”, quer dizer, a timidez. Afinal, o contato diário com os alunos foi um fator determinante para que eu mudasse o meu comportamento. Afinal de contas, o professor tem que ser, também, um comunicador. E, como tal, fui me “soltando”, me livrando das amarras da timidez. Como consequência, não tive mais receio de me enamorar de mais ninguém, quer tomando a iniciativa, quer sendo assediado.

Pois bem, foi nessa segunda fase de minha vida que conheci Genivete. Namoramos algum tempo. Porém não foi pra valer; conheci outras e mais outras, mas não planejava casar com nenhuma delas. Queria, sim, concluir meu curso superior, encontrar um emprego e depois pensar em casar. E foi o que efetivamente aconteceu:

Chegando à cidade de Floresta, Pernambuco, para trabalhar e morar, casei com a primeira namorada que encontrei. Seu nome: Gilvanete! Com ela tive três maravilhosas filhas.

Passados dez anos, o casamento se desfez. Uma vez desquitado, fui morar e trabalhar na cidade de Salgueiro, também de Pernambuco, onde voltei a nomorar, com a finalidade de encontrar uma nova companheira, só que, a princípio, não queria assumir compromisso sério com ninguém; queria, sim, me divertir um pouco, já que estava ‘livre para voar’! E, assim, passei mais de três anos namorando com diversas garotas.

Nesses namoros, por incrível que pareça, as etes foram, de novo, cruzando o meu caminho: Com Nadiete namorei uns quatro meses; já com Elisete tive apenas uns lampejos de namoro.

Bem, quando estava com quarenta anos, em 1992, e já “cansado” de namorar, resolvi por um termo nesses namoricos. Queria um alguém para levar um sério, e que se dispusesse a morar comigo por toda a vida. Foi aí que conheci a adolescente Sandra, de apenas dezessete anos. Assim, o ciclo das ETES, enfim, havia terminado!

Passados alguns meses, resolvemos morar juntos. E – pasmem! – depois de estarmos morando debaixo do mesmo teto, foi que ela veio me dizer que o seu nome verdadeiro não era Sandra. Era, na verdade, Sandraisete. Isso mesmo, Sandraisete!

Devo dizer, amigo leitor, que Sandraisete continua sendo a minha fiel companheira, com as graças do Todo-Poderoso.

Por fim, não poderia concluir este texto sem antes mencionar um detalhe por demais relevante para mim:

o nome de minha filha primogênita é … Anete!

ERRAR É HUMANO, por José Mário Espínola

Em texto recente nos debruçamos sobre ditados populares que vêm sendo submetidos à prova pelos políticos em evidência. A maioria desses provérbios vem confirmando a sabedoria popular. Porém alguns poucos não passaram na prova da aplicação prática.

No pleito para presidente de 2018, devido à ausência de opções densamente confiáveis no centro do espectro ideológico, o Brasil afunilou para a radicalização e a eleição se transformou numa lapinha de fim do ano: Cordão Azul contra Cordão Encarnado. Venceu o Cordão Azul.

Foi a eleição do Contra: os eleitores em sua maioria votaram contra este ou contra aquele candidato. Venceu aquele que foi menos rejeitado no segundo turno.

O resultado foi realmente atípico. Pois o candidato eleito apresentou um currículo muito pobre, de uma linha no máximo. A sua folha corrida exibia apenas 28 anos seguidos de mandato inexpressivo de deputado federal, quando os poucos minutos de fama que teve revelaram uma mente vazia dotada de uma personalidade pobre, que só aparecia por atitudes polêmicas por ele provocadas para ganhar os seus 15 minutos de fama e logo a seguir desaparecer no limbo da Câmara Federal.

O fato é que ele nunca apresentou ao longo da campanha um plano de governo que justificasse um voto sequer. Na realidade, ele só divulgou promessas… Promessa de acabar “com isso tudo que está aí”, com “a velha política do toma-lá-dá-cá”, com o “aparelhamento do PT”, com “a mamata no governo”, com “a corrupção da esquerda”, com o funcionalismo público.

Ele disse ser contra o desarmamento, os radares de estrada, contra os limites de bom senso no trânsito representados pela pontuação da habilitação e contra a Lei Rouanet, o que significa ser contra a cultura brasileira. E por aí foi.

Ele nunca participou de um debate para expor as suas idéias (?), como torná-las realidade ao assumir o governo. Pois fora esfaqueado por um doido e foi se beneficiando por seguidos atestados médicos, igual ao que fazem os maus funcionários públicos tão criticados por ele.

Na ausência de coisa que considerasse melhor, boa parte do eleitorado, cansada de alguns exageros dos governos populares, em declínio após dois mandatos exitosos do ponto de vista econômico, administrativo, de conquistas sociais, de erradicação da pobreza, de conquista do respeito das nações do mundo, esses eleitores despejaram seus votos e suas esperanças nesse candidato, apesar da mediocridade explícita, acreditando que ele mudaria o país para o seu ideal de melhoria.

Após 5 anos de muita agitação social, alimentada pela grande imprensa e pelas chamadas mídias sociais, esperavam finalmente alcançar a paz tão ansiada. Mas não foi o que aconteceu: até hoje os brasileiros não sabem o que é paz.

Assim que assumiu, o presidente eleito não parou de disseminar o ódio contra tudo e contra todos. Exceto contra os seus filhos, que ele protege com unhas e dentes. Puro instinto: mesmo as aves de rapina, mesmo as feras são capazes de fazê-lo. Os jacarés escondem na boca. No caso em tela, a proteção vale mesmo que estejam errados. E como estão!

Pois é, assim que assumiu a presidência, ele assumiu, também, o cargo de Líder da Oposição ao seu governo, revelando uma forte tendência suicida. Sem querer revela outra faceta: a incapacidade de enfrentar adversidades. Como nunca tem uma resposta lógica para um problema, ele cria um caso, uma confusão.

É este clima de ódio crescente, de tragédia iminente, que está dominando o país. E assustando a maioria de pessoas simples que compõe o eleitorado do Brasil, avessas à política, e que decidiram o seu voto na última eleição justamente para acabar com tudo o que estão lamentavelmente assistindo.

Mas o tempo, implacável, está aí para mostrar que cometeram um erro. É claro que em sua grande maioria não tinham a mínima intenção de dar a sua chancela para os desacertos que vêm seguidamente se revelando. Mas não deixam de ter algum grau de responsabilidade, pois fizeram a escolha que acharam mais acertada.

No curso do atual mandato, muitos estão na prática tomando conhecimento do que construíram com os seu votos. E sentindo os efeitos terríveis de tal escolha dentro de casa, no cotidiano de quem vive, no Brasil, um filme de horror, um pesadelo do qual têm a chance de despertar em 2022.

Despertar e consertar. Afinal, é como diz o sábio ditado: “Errar é humano; repetir o erro, coisa do demônio!”

LENDO NO BUSÚ, por Ana Lia Almeida

Foto copiada de meuestilo.r7.com

Ao lado de Rita, um rapaz se divertia lendo um livro. Volta e meia dava umas risadinhas discretas ou parava um pouco para olhar pela janela do ônibus, pensando em algo que acabara de ler. Era um livrinho pequeno, de capa colorida, e Rita espiava com o rabo do olho para tentar alcançar um pouquinho daquilo que o rapaz parecia achar tão bom.

O moço já tinha percebido o interesse de Rita, mas fingia que não para deixá-la à vontade. Até aproximava o livro um tiquinho mais para perto dela, entre um sacolejo e outro, para que ela pudesse bisbilhotar melhor. Era um rapaz alto, bonito, cheiroso, e Rita, além do livro, também estava bastante interessada em estar perto de alguém assim.

Vinham nessa interação dissimulada há umas cinco paradas quando uma freada brusca os interrompeu. O livro, que estava nas mãos do rapaz sentado à janela do ônibus, atravessou o colo de Rita e foi parar no corredor. Ela prontamente o apanhou, passou a mão sobre a capa num gesto de zelo e, ao devolvê-lo para o dono, aproveitou para observar melhor o título: Curtinhas da Quarentena.

A senhora gosta de ler?

Rita, surpresa e acanhada, demorou uns instantes para encontrar a resposta. Ela não sabia. Contou que já tinha lido dois ou três livros quando era mocinha, antes de largar a escola para trabalhar em casa de família. O primeiro tinha bastante figura e poucas letras, então foi o que ela entendeu mais. Os outros eram grandes, por isso ela não conseguia ler de uma vez só e demorou várias semanas, às vezes se perdendo na história e tendo que voltar as páginas, o que só atrasava mais o tempo de terminar.

Isso me aperreava um pouquinho, mas, quando eu conseguia demorar mais tempo lendo, tipo meia hora direto, eu começava a gostar e não queria parar. Mas aí tinha que ajudar minha mãe na cozinha, na faxina, dar banho nos meus irmãos… E o livro ia ficando para mais tarde, quando eu já estava com muito sono e acabava dormindo de uma linha para outra. Depois que parava era difícil voltar.

E a senhora tem vontade de tentar ler de novo?

Se fosse um livrinho pequeno e fácil como esse, eu queria, porque as histórias são curtinhas e dá para ir lendo de pouquinho em pouquinho sem se perder.

Então tome esse para a senhora.

UM PRIMEIRO AMOR, por Babyne Gouvêa

Como lidar com o namoro dos filhos na adolescência

O local não podia ser mais propício para o início de uma paixão adolescente – um parque de diversões. A paisagem conduzida pelas rodas-gigantes, ostentando grandeza e um coletivo de cores e luzes, embalava os sonhos de uma menina-moça que se deliciava em receber em sua face o frescor de encantos inocentes.

Nessa paisagem lírica cruzou olhares com um jovem que parecia lhe procurar entre tantos outros rostos desconhecidos. Sentiu o seu coração disparar e enfrentou diversos sentimentos simultâneos, de prazer e de receios que nem ela sabia identificar.

Retornando à sua casa, não conseguiu dissimular o grau de contentamento estampado no semblante. A mãe, perspicaz em identificar sentimentos juvenis, procurou arrebatar-lhe confidências e com o seu jeitinho sedutor conseguiu ouvir da filha a evidência prevista.

Preocupações viriam, contudo. Vieram nas reações do pai e dos enciumados irmãos, que não admitiam a ideia da sua pequena – concepção assumida por eles – ter atingido a adolescência. Ameaças não intimidaram a jovem, resolvida a afrontar os desafios dando continuidade aos seus desejos, sem nada temer. Afinal, tinha a mãe aliada e confidente.

Foi difícil, mas foi possível retornar ao parque tentando rever aquele que lhe descobriu. As rodas-gigantes estavam ali servindo de testemunhas do encontro reluzente que sucederia.

A mocinha estava movida a expectativa e procurou entretenimentos tipicamente infantis, demarcando o seu limite infanto-juvenil. Enquanto sentia o vigor da alegria no alto de um dos brinquedos, visualizou aquele responsável por seus impulsos irrequietos.

Naquele instante, nada mais interessava a ela, apenas a certeza do olhar dele servia de motivação para a sua permanência ali. Desceu do brinquedo, mas não reencontrou quem tanto queria. Voltou desolada para casa. Tentou adormecer rapidamente para esquecer mais rápido ainda a enorme frustração que sentia.

Durante a noite, porém, uma suave música entoada por um violonista a despertou, num misto de sonho e realidade. Levantou-se um tanto trôpega de sono e, sorrateiramente, seguiu em direção ao som para se certificar sobre quem estava fazendo a serenata.

Identificou, entre as venezianas de uma janela da sala, o perfil moreno daquele que tinha lhe conquistado. Era ele regendo uma melodia para a sua pretensa namorada. De imediato ocorreu-lhe uma indagação: “Como ele soube onde moro?”. A ingenuidade não permitira, até então, perceber o interesse do rapaz nela, mesmo antes de ela saber.

No dia seguinte, a adolescente retorna ao parque com a graciosidade que lhe era natural e volta a circular exultante entre as dezenas de diversões, vestindo uma saia esvoaçante, fazendo movimentos suaves, imaturos, sem largar por um segundo sequer o pensamento fixo em encontrar aquele que seria o seu primeiro amor.

Entre um divertimento e outro, sem conter a ansiedade as mãos da mocinha começaram a suar, os pés gelaram – sinais de uma premonição – de que um cheiro amadeirado se acercava. Nesse momento, deu-se uma troca de pensamentos e vontades. Ela virou o rosto lateralmente e, de coração acelerado, viu-se na mira daqueles olhos negros que a seduziram de modo fulminante.

Ela e ele se aproximaram e com gestos tímidos de ambas as partes estranhas e novas palavras foram trocadas, enquanto o sentimento de atração brotava entre os dois. Sensações ardorosas de imediato tomaram conta dos enamorados.

Todo o entorno ganhou uma beleza exclusiva captada apenas pelos jovens protagonistas do romance que ali se instalava em suas vidas, marcando o começo de um namoro que de tão puro e encantador se fez único, belo e inesquecível.