À LUZ A PRIMOGÊNITA, por Babyne Gouvêa

Juliana, a primogênita da autora (Foto: álbum familiar)

No final de uma madrugada de maio, ela resolveu nascer. Com movimentos desordenados e envolta na placenta, sinalizou a ansiedade de brotar pressionando as costas da mãe, prevenindo a chegada próxima. O aviso se intensificou, deixando contraído o ventre que lhe servia de abrigo. Ameaçou despontar ainda no veículo que a conduzia à maternidade. Resolveu aguardar, enfim, cooperando com aquela que lhe rogava para ter um pouco mais de paciência, para ambas terem mais conforto no momento de nascer. Ficou atestado, ali, que a obediência seria uma regra de vida.

Uma vez na maternidade, sentindo o ambiente mais propício ao surgimento, começou a aparecer, mas sem causar incômodos à mãe. Apenas alongou-se, pedindo passagem para sair de sua protegida bolha. Inicialmente, evidenciou a parte alta da cabeça; logo em seguida, percebendo favorável a receptividade, optou por sair bem apressadinha para conhecer o mundo, proporcionando à sua criadora um estado de prazer incomensurável. Tão logo se viu num ambiente estranho chorou, mas se inclinou com a ajuda de terceiros e se aconchegou no peito da mãe, besuntando-a com resíduos da placenta. O odor exalado seduziu ambas e os olhares se cruzaram, firmando compromisso sublime de eterna cumplicidade.

Entendeu as lágrimas emocionadas daquela que lhe tinha nos braços e fez gestos com os lábios manifestando aprovação. Saiu dos braços da sua protetora para os primeiros hábitos de higiene, voltando em seguida para sugar o colostro que era só seu. Enquanto mamava, tentava abrir os olhinhos, mas com certa dificuldade. Quando conseguiu, o olhar concentrou-se naquela que lhe alimentava, uma mãe recém-saída da adolescência. E nesse enlevo adormeceram, juntinhas e exaustas, certas de que teriam um longo caminho de convivência a trilhar.

A mãe, aprendendo a acomodar a sua bebê nos braços – tudo para ela era novo e atraente -, pegou nas mãos, nos pés, em todo o corpinho, verificando detalhadamente toda a formação daquela mantida dentro dela durante nove meses. O sentimento era de poderio, tinha conseguido gerar um ser humano, como símbolo magnânimo de amor.

A disposição e satisfação da parturiente eram contagiantes, atraindo as atenções da equipe de enfermagem que, movida à curiosidade, visitava o quarto para observar a adolescente – era assim denominada – amamentando a sua menina, e ouvir os mimos evocados pela mãe nesse momento esplêndido. O orgulho da criadora era visível, por ter sido capaz de conceber um ente completo que, ainda recém-nascido, já manifestava sinais de energia e sagacidade, sinais de um futuro próspero.

Com ânimo suficiente para voltar à sua casa, a genitora só pensava em apresentar o novo lar à sua filha. Acolhida em sua nova morada, as duas trocaram olhares coniventes, consolidando um vínculo de sentimento incondicional e infinito de pura amorosidade. De tão promissora, essa bela e pura experiência sequenciou e concluiu uma linhagem com mais três gestações, contemplando todas as expectativas de uma mãe plenamente realizada.

É BOM ESCLARECER
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Uma resposta para À LUZ A PRIMOGÊNITA, por Babyne Gouvêa

  1. Lindo texto! Tão bem descrito que quase dá para sentir as dores.
    Parabens, Bayne Gouvea!