Não tinha esse negócio de tempo ruim com Martins Neto, o Quati. Gozador em tempo integral, nenhum colega de Redação escapava do humor, das tiradas e dos apelidos que ele botava e, geralmente, pegava.
Enquanto convivemos n’O Norte, jamais me chamou pelo nome. Fui rebatizado por Quati. Virei Rubináceo, alcunha que ele pronunciava alto e bom som, vibrando a primeira sílaba como se fosse Galvão Bueno.
“Ruuuuubináceo”, gritava ao me ter no seu campo de visão. Como se fosse narrador de futebol feliz por passar ao ouvinte ou telespectador “aquilo que gostaria de estar vendo em campo”, como diria Millôr.
Não sei e jamais perguntei porque o chamavam de Quati. Talvez por ter um nariz um tanto comprido, que me lembrava mais Costinha, o humorista, do que o bicho de focinho pontudo.
O importante era e é saber que fui contemporâneo de Martins Neto n’O Norte, onde ele editava Esportes e formou imbatível e impagável dupla com Antônio Hilberto, o não menos espirituoso Toinho Negão.
A julgar pelas lendas que o tinham como personagem, Quati não era apenas engraçado. Dava conta direitinho das suas páginas, mas, na vida privada, entre os mais chegados, carregava fama de estroina.
Quando jovem, teria protagonizado episódios dignos de um filho pródigo, mas sem o arrependimento bíblico narrado por Lucas, tamanho o desapego de Quati por dinheiro e bens de modo geral.
O causo emblemático do jeito Quati de ser me foi contado anos depois por Toinho, que acumulava as funções de repórter, redator e subeditor de Esportes quando trabalhamos juntos em O Norte.
“Teve um ano aí, anterior ao nosso tempo de jornal, que ele recebeu uma indenização trabalhista das grandes. Torrou tudo em menos de uma semana. Caiu na gandaia, comeu e bebeu todas”, disse-me Toinho.
Antecipando-se aos detalhes que eu certamente pediria sobre o epílogo da história, adiantou: “Quando voltou pra casa, Quati chegou num táxi, mas sem um tostão no bolso. A mãe dele teve que quebrar um mealheiro pra pagar a corrida”.
- • Imagem ilustrativa copiada de g6comunicacao.com
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