Quando migrei de Bananeiras para João Pessoa, em fins de 1971, uma lenda urbana em torno de suposto criminoso aterrorizava ou já não apavorava mais as ‘famílias de bem’ e de bens da Capital. A lenda atendia pelo nome de Pedro Corredor, “o maior tarado de todos os tempos da Paraíba”.
Dele já contei um pouco neste espaço. Contei porque o famoso bandido muito provavelmente teve a ver com Juarez Félix, de quem tratei no capítulo anterior e ainda cuido neste. Cuido porque mantenho o Velho Jura na galeria das pessoas mais interessantes e intrigantes que conheci no meu primeiro tempo em O Norte (1974-77).
Juarez possui todos os elementos de um bom personagem de novela, conto, romance… Bem mais, desculpem, do que os icônicos jornalistas com os quais tive o privilégio de conviver nesses quatro decênios e meio que me propus resumir em letra de forma. Sobre essas estrelas já temos literatura e informações com fartura. Portanto…
Voltando a Pedro Corredor…
Pode ter existido ou não. Tudo leva a crer que tenha sido obra de ficção de Juarez Félix. O monstro, como descrito por vítimas reais ou imaginárias, pode muito ter nascido de causos ou casos que Juarez apanhou no anedotário popular e trouxe para os leitores de jornal, criando um mito que ficou ainda maior, dizem até hoje, graças também ao igualmente lendário radialista Enoque Pelágio.
Não tenho dúvida de que qualquer estupro ou qualquer outro tipo de agressão e ameaça de algum desconhecido a mulheres, então, botavam na conta de Pedro Corredor. Assim, se existiu uma “crônica policial” na imprensa paraibana, o seu cronista maior foi sem dúvida Juarez Félix. No mesmo período, anos 70, Enoque era o Juarez – o mais destacado cronista – da “crônica policial” do rádio paraibano.
Já disse o quanto me impressionava Juarez encher uma página de jornal inteirinha de notícias mesmo quando bastante reduzida a produção de José de Souza e Marconi Edson, o Chapéu de Couro, repórteres da Editoria de Polícia de O Norte. Compreensível, todavia, o desempenho do velho colega de batente. Quando iniciei no jornalismo, Juarez já dominava o ofício há pelo menos dez anos.
Sabia, por exemplo, como transformar em manchete qualquer fato violento – mesmo o mais comum – ocorrido na região metropolitana da Capital ou no interior do Estado. Daí não se admirem se tiver saído da cabeça criativa de Juarez e de sua capacidade de impactar leitores muitos dos estupros creditados a Pedro Corredor, de quem desde sempre ponho em dúvida a existência material em razão mesmo de tantos crimes a ele atribuídos.
Além do mais, para completar a pior bizarria agregada à lenda urbana protagonizada por Pedro Corredor, em privado Juarez e outros colegas gostavam de destacar a “folha corrida” do tarado real ou imaginário. “A ficha do homem é enorme, do tamanho de sua tira de bolo”, diziam veteranos do meio.
A coisa seria de tal proporção que Pedro gerou histórias inverossímeis até mesmo após sua duvidosa morte. Uma delas é particularmente impressionante. Contam que o corpo, jamais reclamado por qualquer parente, foi cedido pelo antigo IML (Instituto Médico-Legal) a pesquisadores pretensamente interessados em descobrir se Corredor era mesmo capaz de cometer barbaridades em série.
Propagadores da possível lorota argumentavam que a doação do cadáver possibilitaria à ciência esclarecer como o ‘monstro’ conseguia fazer funcionar a monstruosidade que tinha entre as pernas. Afinal, seria necessário concentrar quantidade de sangue tão incrível na genitália que todo o resto do corpo – coração, principalmente – ficaria desguarnecido. Daí…
Não sei em que deu a pesquisa, mas se foi real é bem capaz de ter mostrado que Pedro Corredor muito provavelmente foi protagonista de crimes impossíveis. Tanto por impossibilidade fisiológica quanto autoral. Digo assim lastreado também em depoimento do jornalista Wellington Farias.
Há 20 anos ou mais, WF entrevistou o Professor Genival Veloso de França, o mais aclamado cientista da Medicina Legal que a Paraíba legou ao mundo. Pois bem, médico perito do IML no apogeu da lenda Pedro Corredor, Genival necropsiou o cadáver de um bem dotado que a boataria em torno do morto tratou de espalhar ligeiro que aquele era o corpo do mais temido tarado da cidade.
“Bem, meu caro repórter, se aquele era o tal Pedro Corredor eu não sei. Só sei que com aquela impressionante fimose que chamou a minha atenção e de outros companheiros de trabalho aquele homem não conseguiria estuprar sequer uma barra de margarina desembrulhada”, disse Doutor Genival ao colega que, entre outros predicados, é dos mais competentes entrevistadores da imprensa paraibana.
- • Foto que ilustra a matéria foi copiada de pautaextra.com.br
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