UM DIA PARA NÃO ESQUECER

por Barack Fernandes

“A gente não tem como esquecer (…) É uma data dolorosa, lembro da amiga, da líder sindical, da mulher que lutou em prol dos direitos das trabalhadoras(es) rurais”. O depoimento é de Maria da Soledade, amiga de Margarida Maria Alves, que há 35 anos (no dia 12 de agosto de 1983) foi assassinada covardemente por um pistoleiro, a mando dos usineiros do brejo paraibano.

Marcha das Margaridas em 2017 (Foto: Fetag/Contag)

O crime tinha um único objetivo: silenciar a voz da mulher que reivindicava direitos para os trabalhadores na agricultura do Brejo paraibano concentrados no município de Alagoa Grande, onde ela presidia o Sindicato de Trabalhadores Rurais, em nome do qual moveu mais de 73 ações contra as usinas de cana de açúcar da região.

Maria Soledade (Foto: Fetag/Contag)

Soledade conheceu Margarida em Alagoa Grande em 1975, quando se associou ao Sindicato. A partir daquele momento, lutaram juntas pelos mesmos direitos e na militância sindical. Lembra que estava no município de Cuité (PB), quando soube do assassinato através do rádio. Emocionada, compartilha trecho de um poema que escreveu quando soube da morte da amiga.

  • Dia 12 de agosto nasceu um sol diferente
  • Um aspecto de tristeza, o sol frio em vez de quente
  • Era Deus dando o sinal da morte de uma inocente (…)
  • Jesus Cristo deu a vida pra redimir os pecados
  • Tiradentes pela pátria foi morto e esquartejado
  • Margarida, na defesa dos pobres e necessitados

Nesses 35 anos após o seu assassinato, Margarida Alves empresta seu nome e seu exemplo para a maior ação de massa das mulheres brasileiras: a Marcha das Margaridas. Realizada pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais) e várias organizações parceiras, a Marcha das Margaridas se afirma como espaço de luta protagonizado pelos trabalhadores do campo, florestas e águas, por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência.

“Agosto é um mês simbólico, de afirmação da nossa luta inspirada na vida militante de Margarida Alves. O caminhar de Margarida nos impulsiona a continuarmos mobilizadas, em resistência e com muita força para construirmos nossa 6ª edição da Marcha. Tiraram sua vida, mas deixaram espalhadas sementes de Margaridas pelo Brasil que têm certeza que vale a pena lutar pelos direitos dos povos do meio rural”, afirma Mazé Morais, secretária de Mulheres da Contag e coordenadora geral da Marcha das Margaridas.

Mazé Morais (Foto: Fetag/Contag)

Ela chama ainda a atenção para o papel da Justiça brasileira, que segundo Mazé “sempre fica do lado da classe alta e em defesa dos seus benefícios próprios”. E complementa: “Nesse dia penso nas mortes de Margarida Alves, de Pedro Teixeira, de Padre Josimo, entre outros mártires que lutaram por uma vida mais digna no campo brasileiro. Penso na ‘Justiça’ quase sempre injusta com os menos favorecidos, que mantém preso sem provas o ex-presidente Lula, o presidente que mais promoveu inclusão social no Brasil. Juízes que defendem um salário de 39 mil para magistrados, enquanto no País aumenta para 12 milhões o número de pessoas passando fome. Contra todas as formas de injustiças que pesam principalmente contra a vida das mulheres, seguiremos em Marcha”.

A Marcha das Margaridas ocorreu pela primeira vez em 2000 e segue com seu caráter de denúncia e resistência.

Viva à luta de Margarida!

Somos todas Margaridas!

#RumoaMarchadasMargaridas2019

  • Texto de Barack Fernandes, da Comunicação Contag
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