RÉQUIEM PARA O PONTO DE CEM RÉIS, por Francisco Barreto

O urbanismo público, em João Pessoa, tem refletido a urgência e a incompetência produtivista de um “aleatório fazer público” atrelado aos ímpetos das vontades personalistas que resplandecem nos convescotes oficiais e deságuam nas propagandas institucionais e pessoais.

Decisões e projetos são gestados de forma precária à revelia da qualidade de vida urbana. Henri Lefebvre nos diz que o conceito mais profundo sobre o urbano inspira-se, em sua gênese, na cultura perpetuada pela história (daí a urbanidade) e, ainda, na escala humana dos espaços produzidos. Na urbis, o espaço deixou há muito de ser reservado às elites passando a ser sujeito e objeto do consumo coletivo.

A forma dos espaços produzidos ou reinventados deve se subordinar ao conteúdo. Na Carta de Atenas, em 1933, Le Corbusier nos ensinou que “a vida de uma cidade é um acontecimento contínuo manifestado através de séculos por obras materiais, traçados ou construções, que a dotam de personalidade própria e da qual vai emanando sua alma pouco a pouco”.

O pensamento de Le Corbusier nos leva a refletir sobre os impactos causados pela intervenção “urbanística” no Ponto de Cem Réis: o que restou da sua dimensão histórica, sentimental, estética e da solidariedade humana? O que significa esta celeridade produtivista, demagógica na recuperação de um espaço que teve no passado virtualidades plásticas compatíveis com elos de convivência humana? Qual o consumo coletivo possível neste espaço hoje avesso e árido à convivência popular?

A grande lápide que estenderam sobre o Ponto de Cem Réis garroteou e esterilizou definitivamente um lugar coletivo que, embora agonizante, ainda insistia em abrigar uma buliçosa e alegre alma popular. Sentenciaram de morte o Ponto de Cem Réis!

A morte, ainda segundo Le Corbusier, “não perdoa nenhum vivente, ataca também as obras dos homens”. O Ponto de Cem Réis de hoje é um zumbi que vagueia longe do passado desatrelado do presente.

O lugar das grandes manifestações públicas, dos alaridos das conversas prosaicas e jocosas, dos engraxates espiões da alma popular foi desertificado em definitivo. Logo aquele espaço que tanto contribuiu para formação histórica e urbana de João Pessoa.

Hoje, ali está um urbanismo sem alma, sem afeto, sem história, usaram e abusaram dos ângulos retos (tão execrados por Niemeyer). Impuseram uma aridez excessiva aliada a uma massa de cimento inerte, de estética abominável, que faria um geômetra corar de vergonha.

De que forma uma reconstituição fictícia e enganosa como esta do Ponto de Cem Réis poderá acolher a alma popular? Como um espaço frio e inerte poderá abrigar a convivência humana?

Se copiar o passado é uma mentira, o que dizer de um projeto cingido apenas a traços mal elaborados numa prancheta ou computador, escravizado por ordens superiores inspiradas no determinismo do posso e mando? Dói-nos a insensibilidade dos “urbanistas” oficiais de João Pessoa. Merecem um bom terapeuta freudiano.

O Ponto de Cem Réis de hoje é um simulacro grotesco de um “urbanismo desprovido de vida” que abortou o traço suave, estético, sedutor capaz de produzir espaço destinado a ser fruído pela vida coletiva da cidade.

Lamentável e insensível prancheta! Incapaz e insensível, e talvez não valha a pena avaliar, não houve a sensibilidade de repensar a vida no centro da Cidade.

A obra de cimento teve apenas um predicado: o de massagear o ego de quem a determinou, sacrificando o prazer e os desejos coletivos de fruição espontânea dos espaços urbanos. Prevaleceu apenas uma alegoria mal feita, grosseira, agressiva, consistente apenas com o urbanismo prepotente, quase fascista, ditado pelo paradigma do “meu espaço”, e não o dos outros.

Espaços coletivos sem alma são espaços natimortos brindados apenas com placas egocêntricas de quem se imagina ser o galo de Chantecler: “o sol só nasce porque eu canto”.

Sobre o Ponto de Cem Réis, que agonizava há quase 50 anos, foi estendida uma lápide sepulcral, merecendo apenas um epitáfio final: Aqui Jaz o Ponto de Cem Réis e a Alma Popular – muito contra a sua vontade, sepultados pelo prepotente urbanismo oficial.

• (Imagem que ilustra este artigo foi copiada da Wikimedia Commons)

TRÊS FACES DE UMA MESMA MOEDA, por José Mário Espínola

Avenida Epitácio Pessoa, de João Pessoa, decorada para o Natal 2023 (Foto: José Mário Espínola)

1 – CARA

Como que provando que o homem ainda é capaz de admirar o belo, passados alguns meses e ainda nos lembramos da beleza da decoração de João Pessoa no último Natal. Nesse ano, 2023, a Prefeitura realizou a talvez mais bonita decoração natalina de rua. Após dois anos muito fracos, eis que fomos surpreendidos por ruas, praças, a Lagoa e a praia engalanadas com luzes brilhantes e coloridas, formando figuras lindas.

A Lagoa Parque Solon de Lucena e a Praça da Independência estavam exuberantes, com luzes de cores variadas, com vários formatos. A fonte luminosa central da Lagoa nunca havia “trabalhado” tanto e tão bem! Na Avenida Epitácio Pessoa, os troncos e os galhos das árvores foram envolvidos por luzinhas brancas que lhe deram formatos diversos. A avenida parece ter sido invadida por gigantes luminosos nas mais variadas atitudes.

Mas as figuras mais notáveis tinham formas humanas. Lembravam figuras ciclópicas soltas pela avenida.
Pareciam pessoas em atitudes diferentes: dançando soltas; namorados abraçados num enlevo sensual; segurando uma criança ou erguendo uma bola. Quanta beleza! Inesquecível! Extasiante! Esperamos que a prefeitura volte a nos presentear da mesma forma, no próximo Natal.

Lagoa do Parque Solon de Lucena, em João Pessoa, no Natal 2023 (Imagem: YouTube)

2 – COROA

Começou assim…

Infelizmente, aprendemos também que não se pode apenas elogiar. Há mais de ano, o trânsito ao longo da Avenida Ruy Carneiro, já muito lento e atribulado nos horários de pico, vem sendo agravado por uma obra interminável no canteiro central da via. Que já era estreito, com ciclo-faixa nos seus dois lados, mas recoberto por bonitas pedras portuguesas pretas e brancas.

Sem nada que justifique, até o momento, eis que as pedrinhas vêm sendo arrancadas e substituídas por… Cimento! Enfeando ainda mais o que era apenas bonitinho. O canteiro está sendo reduzido em mais ou menos 20 centímetros de cada lado, para se transformar em um quase meio-fio. Enquanto isso, nas redes sociais dizem que a “obra” é para alargar a “ciclovia” (?), que vai do antigo Largo da Gameleira ao nada, pois é descontinuada, interrompida, quando a Ruy Carneiro encontra a Epitácio Pessoa. 

Pergunto: essa ‘obra’ vai beneficiar mesmo quem? O trânsito da cidade, naquela área, seguramente não é, pois só piora o que já era ruim. Com um agravante: se por um lado as ciclovias (quando de verdade) são necessárias para quem utiliza bicicleta na prática de exercícios ou para se deslocar e trabalhar, por outro são fartamente utilizadas por motoqueiros irresponsáveis.

… para acabar assim

Como se fosse pouco, a Prefeitura de João Pessoa piora ainda mais a situação ao derrubar árvores da mesma avenida Ruy Carneiro, sob o pretexto de que serão plantadas 60 outras, nativas. Lembrando: na avenida Fernando Luiz Henrique, no Jardim Oceania, foram também derrubadas outras tantas árvores, sem nenhuma explicação. Por que de repente a PMJP decidiu adotar esse comportamento floricida?

… o que antes era assim, com árvores no canteiro central

3 – COROA B

Livres de punibilidade, eles infernizam a nossa cidade. Além de circularem soltos pelas ciclovias, fazem manobras proibidas à esquerda, à direita, correm na contramão, sobem nas calçadas e por elas circulam livremente. Surgem súbita e rapidamente à direita dos carros, depois se enfiam por entre os veículos de forma perigosa. Meses atrás, quase fui atropelado na calçada do prédio do meu consultório por uma moto pilotada por um desses motoqueiros irresponsáveis, que circulam pelo trânsito como maus elementos, andam em manadas e quando provocam um acidente caem ameaçadoramente em cima do motorista do carro envolvido.

Por que eles agem assim? A resposta, muito simples, é essa mesmo que você está pensando: IMPUNIDADE! Eles sabem que nada lhes acontecerá, pois não existem oficiais de trânsito pelas ruas e esquinas da cidade que possam controlar o tráfego e MULTAR esses baderneiros do asfalto. Infelizmente, no nosso Brasil o mau cidadão só aprende pelo peso do prejuízo da multa no seu bolso. É o que está faltando à Prefeitura fazer. E ela já está muitíssimo atrasada para isso!

Os agentes da Semob em nossa cidade são como o Lombardi, do programa de Sílvio Santos: nós nunca os vemos. E só temos conhecimento de sua “presença” nas artérias da cidade quando recebemos uma multa por estacionamento feito inadvertidamente em local proibido.

***

Se por um lado as motocicletas popularizaram o transporte individual do brasileiro, sendo muito úteis para quem precisa trabalhar ou deslocar-se rápido, por outro geram prejuízos para a nação. Explico. As emergências de todo o Brasil estão repletas de acidentados e motocicletas. Isso eleva bastante o custo do atendimento de emergência em todo o país, com reflexos bastante negativos para o Ministério de Saúde, que tem que desviar recursos valiosos para pagar o atendimento de emergência. Assim como gera prejuízo para o INSS, que tem filas longas para conceder licença a esses acidentados.

Fico pensando como seria financiar toda a emergência do Brasil, acrescentando um imposto exclusivo para a aquisição de motocicletas, a ser pago na hora da compra? Seria algo como 2% pagos pelo fabricante; 2% pagos pelo vendedor; 2% pagos pelo comprador, num total de 6%, que seriam destinados exclusivamente para os serviços de urgência e emergência de todo o país. Acho que isso teria um bom reflexo, muito importante nas despesas do Ministério da Saúde e do INSS, financiando o atendimento de emergência. E, por que não, um bom reflexo sobre o trânsito de todo o país, quem sabe? A conferir.

  • José Mário Espínola, Médico e Cidadão

LÁGRIMAS DE NATAL, por José Mário Espínola

Na calçada do Grupamento de Engenharia, manifestante pede ‘socorro’ militar contra a democracia (Imagem: YouTube)

Até alguns anos atrás, a decoração de Natal dos logradouros de João Pessoa era destaque entre as capitais do Nordeste.

Predominantemente, as árvores das nossas principais avenidas, praças e parques, envoltas em listas de luzinhas brancas brilhantes, exibiam efeitos belíssimos e inusitados, como a aparência de casais de namorados abraçados nos canteiros.

Podiam ser vistos, também, os símbolos que tradicionalmente adornam as árvores de Natal de nossas casas: bolas, botinhas, pirulitos, trenós, renas, todos coloridos e pendurados nas árvores, deixando claro o sentido da época.

Por dois meses, a cidade entrava no clima da festa, para a alegria de todos aqueles que percorriam as nossas artérias.

Neste final de novembro, porém, percorremos a Avenida Epitácio Pessoa, cartão postal da cidade, e ficamos decepcionados com o que vimos.

A princípio, a decoração parece resumir-se a tiras de luzinhas brancas, cadentes, oferecendo um belo efeito de pingos caindo. E só. Espero que a administração nos surpreenda, mas até o agora é só o que tem para mostrar.

Passado o primeiro momento, começamos a pensar: com que se associa essa ornamentação? Pingos luminosos? O Natal não é associado a chuvas. É associado universalmente à neve, devido à sua origem no hemisfério norte.

Aqui no Brasil, a estação não é chuvosa: o verão é mais representado por calor, raios solares e praia, muita praia. Não por pingos de chuva caindo das árvores.

Foi quando, seguindo a Avenida Epitácio Pessoa, com tristeza descobrimos o verdadeiro significado da nova decoração natalina.

Pois ao longo da avenida, à altura do bairro de Tambauzinho, estão acampadas centenas de homens e mulheres, enrolados em bandeiras do Brasil, vestindo trajes verde e amarelo, ocupando as calçadas do quartel do I Grupamento de Engenharia e das lojas, farmácias e clínicas dos arredores do quartel.

Até butiques especializadas em patriota chic podem ser encontradas nas calçadas, muito disputadas, naquele trecho da Epitácio.

Lá, manifestantes passam a noite fazendo apelos patéticos aos militares, choramingando por cima dos muros do quartel, pedindo socorro para que os salvem de ameaças anacrônicas e surrealistas.

Desesperadas, essas pessoas chegam a enviar com os seus ricos celulares apelos delirantes para eventuais marcianos que estejam passando sobre o local.

Exibem também faixas com apelos para que as Forças Armadas tomem a atitude criminosa de violentar a Constituição, persigam e prendam autoridades,  quem eles acham que não é verdadeiro patriota e acabem com a liberdade daqueles cidadãos que não apoiam o quase ex-presidente derrotado na última eleição, apesar de ter usado de tudo o que foi expediente desonesto para comprar votos.

Ele desviou criminosamente verbas da Saúde e da Educação, além de outros órgãos federais, para serem torradas no nefasto orçamento secreto, comprando escancaradamente o apoio dos deputados do Centrão e respectivas carteiras de votos. Não colou!

Em consequência, universidades e institutos superiores federais tiveram suas verbas bloqueadas e desviadas. Desse modo, não têm como pagar água, luz e telefone; internet, limpeza e segurança. Não têm, portanto, nenhuma condição de funcionamento.

Já as verbas desviadas da Saúde, com a cumplicidade das altas autoridades da área, estão deixando UPAs, PSFs e hospitais sem dinheiro para comprar medicamentos, soro, analgésico, esparadrapo.

Os hospitais também não conseguem realizar exames nem higienizar enfermarias nem leitos. Cirurgias estão suspensas, atendimento ambulatorial também.

As Farmácias Populares não têm medicamentos para oferecer aos milhões de hipertensos, diabéticos, doentes renais e oncológicos. As consequências são a cronificação de doenças e até mesmo a morte por falta de remédios. A expressão “morrer à míngua” está em moda.

Do seu lado, as escolas não têm material escolar para oferecer aos seus alunos, a quase totalidade carente. Nem as refeições que os atraiam para as escolas estão sendo distribuídas. Muitas vezes nem mesmo lanches. As creches estão fechando, com prejuízo para as mães, que não podem trabalhar porque não têm com quem deixar os seus bebês.

O resultado é que estamos assistindo a uma evasão escolar em massa. Esses meninos e meninas passaram a engrossar o Bloco dos Famintos nas ruas e nos sinais das cidades.

***

Está explicado o verdadeiro sentido da nova decoração natalina de João Pessoa. Ela não simboliza pingos de chuva. Na realidade, são lágrimas derramadas pela natureza, triste com o surto de insanidade que grassa na elite da nossa sociedade e de várias cidades do Brasil. Sem que ainda existam vacinas para essa doença.

É inevitável recordar uma paródia da última estrofe da marcha Rancho da Goiabada (que me perdoem João Bosco e Aldir Blanc!), adaptada para o momento:

São patriotas, são pastores, são fascistas
Aristocratas, fazendeiros, elitistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados
Dançando dormindo de olhos abertos à sombra
Da alegoria dos faraós embalsamados

Chora, Brasil…

ELOGIAR É PRECISO, por Babyne Gouvêa

Parque Parahyba (imagem copiada de MGA Construções)

Nada melhor do que sair por aí sem compromisso, olhando o que a cidade tem a oferecer. Andar sem lenço, sem documento e sem horário marcado, imaginem! Foi o que fiz, depois de dois anos enfurnada. Circulei pelos bairros do litoral de João Pessoa e de Cabedelo e, no primeiro momento, o visual me pareceu pouco familiar diante de tanta novidade.

Presenciei ruas pavimentadas e sinalizadas, uniformização de calçadas – melhoria da acessibilidade ao pedestre, principalmente a do deficiente físico -, construções erguidas e em andamento, restaurantes, lanchonetes e bares a perder de vista. À medida que via o que até então desconhecia a vibração tomava conta de mim. Podia ser uma admiração provinciana, mas com elixir de contentamento.

E os hotéis e pousadas distribuídos em todos os lugares por onde transitei? Pensei: “Não estou na minha cidade”. E sem falar no número crescente de supermercados nos respectivos bairros.

Estamos abastecidos com praças e parques bem estruturados com brinquedos infantis, pistas de corrida, ciclovias, quadras de esportes, aparelhos de ginástica e muito mais. Sonhava com essas condições para a saúde física e mental da população e elas foram instaladas.

Pois bem, foi com esse espírito de satisfação que tomei um banho de mar reconfortante. As águas da praia de Camboinha são capazes de extrair qualquer mazela do indivíduo. Têm o dom de deixar em paz todo o nosso corpo. E assim me senti, leve como uma pluma. Saltitante ao léu fiz um brinde ao retorno à vida!

Pode parecer ao leitor que estou fazendo propaganda. Sim, de fato estou propagando o que vale a pena ser destacado. Atentei ao que é favorável ao bem estar do cidadão, nativo ou turista. Os municípios de João Pessoa e Cabedelo, no que tange à parte visitada por mim, merecem elogios.

A propósito, interrogo aos leitores: já observaram como é difícil elogiar? Quem enfrenta esta dificuldade comumente qualifica uma pessoa bonita como engraçadinha, o competente como esforçado e o idoso de aspecto jovial, conservado. E assim se sucedem as substituições com um toque ou um quê de inveja, dor de cotovelo…

No final do passeio, ziguezagueando entre os bairros, ainda me diverti ao observar a pluralidade de farmácias em visível concorrência. Situação hilária, mas benéfica ao bolso do consumidor.

Finalizei o tour feliz da vida, com desejo de aplaudir o desenvolvimento urbano dos dois municípios. Convicta, concluí que elogiar também é preciso!

Cassino da Lagoa precisa de salvação e investimento

Cassino da Lagoa, o mais tradicional restaurante do centro de João Pessoa (Foto: Rubens Nóbrega)

Quatro anos depois de quase fechar por falta de estacionamento para clientes, o Cassino da Lagoa estaria agora na dependência de aparecer alguém disposto a investir em manter aberto e funcionando o mais tradicional restaurante do centro de João Pessoa.

Estive lá ontem (17) para almoçar com a Professora Madriana, minha companheira. “Vão lá dar uma força, pois é uma tristeza ver ambiente tão agradável, onde servem comida tão boa, tão sem gente na hora do almoço”, pediu uma amiga. Atendemos.

Salão do restaurante (Foto: Tripadvisor)

Realmente… Pra quem frequentou o Cassino nos bons tempos, dá um aperto no coração ver o seu salão vazio. Como vi nessa terça, quando apenas três mesas a mais se formaram após a nossa chegada, ao meio-dia. Ficamos até mais ou menos uma e meia da tarde.

Saímos satisfeitos e fartos com o sempre delicioso Frango na Chapa, mas preocupados com o destino do Cassino. Pelo que entendi de rápida conversa com o garçom que nos atendeu, a arrendatária do prédio estaria firmemente decidida a ‘passar o ponto’.

Quem assumir o Cassino muito provavelmente terá que recuperar instalações, mobiliário e equipamentos, adequar cardápio e preços, conseguir da Prefeitura ampliação do estacionamento, abrir para o jantar e oferecer outros atrativos além de comes e bebes.

Que tal, então, música ao vivo (voz e violão suaves, por exemplo), lançamentos de livro, vernissages e comemorações diversas, incluindo aniversários e casamentos que podem ocupar a varanda externa (uso também a ser negociado com a Prefeitura)?

Essas e outras são variantes de uma operação de resgate do brilho do Cassino como ponto de encontro, convergências e divergências de diversos segmentos políticos ou empresariais, categorias profissionais e expoentes da boemia intelectualizada da cidade.

A Prefeitura bem que poderia entrar nessa história, firmar parcerias e deflagrar um processo mais amplo, efetivo e consistente que reintegre todo o nosso Centro Histórico – Cassino incluído – à movimentação cultural que fugiu de lá e – pelo visto – se perdeu na praia.

Técnico mostra o que Cartaxo fez e deixou para Cícero Lucena fazer

A Lagoa (Centro de João Pessoa) antes da reforma em foto de Luís Prado (tudodeviagem.com)

Economista, há 31 anos funcionário da Caixa Econômica Federal, instituição na qual ingressou por concurso em 1989, José Rivaldo Lopes coordenou a equipe encarregada pela Prefeitura da Capital de gerir o Programa João Pessoa Sustentável (PJPS) entre janeiro de 2019 e o final do ano passado.

Procurei Rivaldo para que ele pudesse se manifestar sobre propalados atrasos de execução no PJPS que teriam ameaçado seriamente paralisar investimento bilionário na melhoria da infraestrutura da cidade. Orçado em R$ 1,1 bi, metade do qual financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o programa é objeto de contrato firmado em 2018 entre a instituição financeira e a Prefeitura de João Pessoa.

Em resposta ao blog, Rivaldo forneceu planilha das licitações abertas em 2020 e respectivos andamentos, além de um resumo do que foi planejado para consecução dos objetivos do programa. Enviou também relato que pode explicar, em tese, o que já foi divulgado como atraso de execução. Ponto a ponto, vamos ao que diz o ex-coordenador.

1. O PJPS é “o maior e mais complexo programa já contratado junto ao BID no Brasil, ou seja, nenhum estado ou capital contratou programa de tal monta e nível de complexidade”;

2. As licitações do programa são regidas por legislação internacional e observam duas etapas: a primeira, com duração de 90 dias, “é a Manifestação de Interesse (MI) das empresas interessadas em participar do certame; a segunda etapa, com 150 dias de duração, corresponde à licitação propriamente dita”;

3. “Das 27 ações previstas no Programa, 12 foram contratadas e/ou estão em fase de licitação internacional”;

4. “Os dois primeiros anos do programa são destinados a planejamento das ações, preparação dos projetos e lançamento das licitações”;

5. “A equipe sob minha coordenação encaminhou ao BID o Plano Plurianual para execução/desembolsos, conforme abaixo:

a) 2021 – executar 15% das ações/recursos;
b) 2022 – executar 45% das ações/recursos;
c) 2023 – executar 22% das ações/recursos, e
d) 2024 – executar 17%.

Totalizando a execução completa de todas as ações do Programa em junho de 2024″.

ALÉM DISSO…

“Os dois anos que passei na Coordenação-Geral do Programa João Pessoa Sustentável foram intensos, de alta performance e de resultados, pois destravar um programa dessa magnitude e deixar todas as ações estruturantes com os projetos elaborados e prontos, em fase de licitação, foi um grande feito que será executado com tranquilidade nos próximos 4 anos”, acrescentou Rivaldo.

Ele disse ainda que sua equipe deixou prontos os projetos de Modernização da Gestão Pública Municipal, “que vão permitir que a população de João Pessoa tenha todas as informações de demandas públicas municipais na palma da mão, através do Sistema e-Ciga, que está licitado e pronto para ser colocado em prática”.

AS LICITAÇÕES

E O BID?

Também procurado, o BID informou através de Clementine Tribouillard, chefe da equipe do banco no João Pessoa Sustentável, que por conta da pandemia atrasos ocorreram em todos os projetos que financia em todo o mundo, mas nada que pudesse comprometer o cronograma de execução previsto em contrato, no caso da capital paraibana. E negou veementemente que o contrato com a PMJP tenha sido cancelado, garantindo ainda que nenhuma atividade do programa foi interrompida.

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AMANHÃ

Gestão Cícero Lucena mantém que sob o governo de Luciano Cartaxo o Programa João Pessoa Sustentável foi seriamente ameaçado por descumprimento de prazos contratuais 

O BIG BROTHER DE JOÃO PESSOA

Vid8 GME

(Imagem meramente ilustrativa. Crédito: Vid8)

A capital da Paraíba terá dentro de um ano, no máximo, um Big Brother pra chamar de seu. Trata-se, na verdade, de moderno sistema de monitoramento que vai funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana, a partir de abril do ano que vem.

Até lá, serão instaladas mais de 700 câmeras em pontos estratégicos para ‘vigiar’ ruas, avenidas e áreas críticas de João Pessoa, de onde transmitirão imagens em tempo real para o Centro de Cooperação da Cidade, o ‘cérebro’ desse ‘Grande Irmão’ municipal que começa a ser construído em abril próximo.

A construção, já licitada, com empresa contratada e tudo o mais, representa investimento superior a R$ 11 milhões em um edifício planejado para dominar 1.800 metros quadrados do terreno da sede administrativa da Prefeitura de João Pessoa, no bairro de Água Fria.

O Centro de Cooperação da Cidade integrará e poderá acionar toda e qualquer secretaria ou autarquia do município para resolver problemas da população. De acidente a congestionamento no trânsito, de queda de barreira a inundação, de chamar Samu ou Zoonose… Tá valendo!

Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, entre outros serviços estaduais e federais, também poderão ser chamados para atender às demandas do Centro de Cooperação, que é parte do Programa João Pessoa Sustentável, largo e multifacetado projeto de melhoria da infraestrutura urbana.

O programa está orçado em mais de um bilhão de reais, com metade dessa dinheirama assegurada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A outra metade virá de recursos próprios do município. Tudo nos conformes acertados com a instituição internacional pela gestão passada da PMJP.

Mas execução ficou, claro, a cargo do governo empossado em janeiro deste ano. Que vai ter quatro anos para dar conta de todas as metas e prioridades combinadas com o BID, que abarcam desde intervenções em comunidades vulneráveis à transformação do antigo Lixão do Róger em parque de lazer e esportes.

Depois conto mais. 

A LINGERIE VOLTOU! por José Mário Espínola

(Imagem copiada do ParlamentoPB)

E eis que passeando pela nossa cidade volto a encontrar as nossas árvores cobertas pela ornamentação luminosa, luzinhas brilhantes que trazem de volta a deliciosa lembrança de casais abraçados, numa imagem tão bela que chega a ser sensual.

Desde o último dezembro que esta cena vem sensibilizando os olhares mais atentos, enchendo de graça e alegria as nossas praças, parques, ruas e avenidas principais, no período natalino. Com destaque para as avenidas Epitácio Pessoa e Beira-Rio, a Lagoa e a Praça da Independência.

Logo, logo, virão se unir às árvores-de-natal elétricas aqueles ipês que, por enquanto, ainda não floresceram. Estes sim, para mim são as verdadeiras árvores natalinas de nossa João Pessoa, haja vista que só florescem no mês de dezembro, cobrindo com um tapete dourado as nossas artérias e praças e, principalmente, o Parque Solon de Lucena, mais conhecido pelo nome de A Lagoa.

Os ipês amarelos, por esta época, marcam a nossa paisagem com o seu amarelo característico. Percorrendo nossas vias urbanas, assim como as rodovias que nos servem de ligação com o litoral norte e as praias do sul, é uma alegria identificá-los no horizonte próximo.

Chegando da vizinha capital de Natal, ou indo para Recife ou Campina Grande, visualizamos os ipês amarelos florescidos. Mas, para minha tristeza, esse deleite visual está sendo cada vez mais difícil de se ver. Pois o desmatamento programado para fazer plantações, ao mesmo tempo em que nos beneficia com o aumento da oferta de alimentos, está cobrando caro da natureza, à custa da sua beleza.

O mesmo acontece com os ipês urbanos, assim como as nossas outras árvores, que vêm sendo ceifadas para dar lugar a loteamentos, a projetos de urbanização da cidade. É, sinais dos tempos…

Para as gerações mais velhas, como a minha, é muito triste ver a nossa cidade ir se despindo, ano-a-ano, da sua beleza natural, que está sendo substituída pelas luzes e os plásticos.

Claro que vem sendo incorporado à ornamentação da cidade figuras belíssimas, cobertas de cores harmoniosas e luzes coloridas. Porém, enquanto não acontecer totalmente a perda da decoração natural, vamos continuar desfrutando todo fim de ano dessas figuras humanas sugeridas pelaS luzinhas que delineiam as curvas das árvores, e da presença dos ipês floridos. Juntos, esses elementos parecem vestir a cidade com uma linda lingerie dourada.

Todos esses elementos – ipês dourados, árvores que parecem gente e árvores de natal luminosas – juntam-se para saudar a mais bela das nossas datas: o Natal!

FELIZ NATAL A TODOS!