Aldo Pagotto, o controverso

Dom Aldo foi ativo participante das manifestações pelo impeachment de Dilma

Dom Aldo, que condenava ‘os padres na política’, sempre atuou politicamente e foi às ruas defender o ‘Fora Dilma’ (foto do Blog de Suetoni)

No artigo que publicou há dois dias no Paraibaonline do jornalista José Arimatéa, Dom Aldo Pagotto adverte desde o título para os ‘Valores controversos’ que poderiam desviar as novas gerações do país de um futuro de paz, “de trabalho honrado, sem corrupção”. Para combater esse perigo, o agora arcebispo emérito da Paraíba convoca os políticos dispostos a enfrentarem “as ideologias adversas aos valores humanitários e cristãos”.

Fácil deduzir que as ‘ideologias’ condenadas por Dom Aldo remete a pessoas e partidos de esquerda em geral e ao PT e movimentos sociais em particular. Fácil para quem acompanha a trajetória dele, as polêmicas e brigas que protagonizou ou das quais participou apoiando esse ou aquele lado envolvido na luta pela permanência ou conquista do poder. Por essas e outras, o arcebispo renunciante jamais pode ser acusado de ‘ficar em cima do muro’, da mesma forma como não lhe cabe o epíteto de incoerente: é e sempre foi avesso aos valores, causas e conceitos que identificam a chamada Igreja Progressista e sua “opção preferencial pelos pobres”.

Na mesma linha de argumentação ou dedução, pode-se dizer ainda – ou principalmente – que  Dom Aldo é, antes de tudo, um controverso. Porque controvérsia é marca de sua trajetória como prelado da Igreja Católica, muito antes de sua nomeação como Arcebispo Metropolitano da Paraíba. Como prova o episódio em que se envolveu ainda quando bispo de Sobral (CE), onde foi denunciado por supostamente proteger um padre que acabou preso sob acusação de assédio e abuso sexual contra adolescentes numa paróquia da diocese instalada naquele município cearense. O então bispo diocesano teria pressionado algumas das pretensas vítimas do acusado para que retirassem queixas prestadas numa delegacia local ou mudassem seus depoimentos no desenrolar do processo criminal na Justiça.

Mas aqui na Paraíba Dom Aldo levou ao extremo sua tendência (ou seria paixão?) pela controvérsia. Começando por seu début a Arquidiocese paraibana, em 2004. Chegou chegando e prometendo acabar com a impontualidade e a suntuosidade dos casamentos dos filhos e filhas dos ricos e novos ricos do Estado. Sua determinação não vingou, especialmente na Igreja do Carmo, a preferida dos patrocinadores de cerimônias suntuosas dos ‘enlaces matrimoniais’ celebrados no templo vizinho à Cúria, centro de João Pessoa, onde os arcebispos cumprem expediente diário de caráter administrativo.

Nos anos seguintes, envolver-se-ia em diversas brigas com os padres e pastorais de ‘doutrinação marxista’ e também com representantes de outras igrejas, especialmente as neo-pentecostais da linha da Universal de Edir Macedo. Alguns desses embates ganharam repercussão nacional e os mais impactantes estão relacionados no tópico a seguir.

Algumas ‘brigas’ célebres de Dom Aldo

Com a Universal – Quando da inauguração do novo templo da Igreja Universal do Reino de Deus em João Pessoa, na Epitácio Pessoa, em junho de 2007, Dom Aldo divulgou nota intitulada ‘A fé mercantilizada’ na qual criticava a ‘suntuosidade’ da matriz macediana e a forma como a ‘concorrência’ prosperava à custa de coletas e contribuições generosas de fiéis ditos incautos. Em resposta, a IURD relembrou em sua página na Internet o envolvimento do arcebispo “com denúncias de proteger frei acusado de estupro em 2002″. Na tréplica, Dom Aldo declarou que naquele caso limitou-se a “oferecer apoio às meninas e aquilo foi distorcido”, informando em seguida que tal processo fora totalmente arquivado e ele “absolutamente inocentado”.

Com Luiz Couto – Em fevereiro de 2009, Dom Aldo suspendeu o padre Luiz Couto (deputado federal pelo PT) das funções eclesiásticas. Motivo: o sacerdote e parlamentar disse em entrevista ser contra o celibato e a discriminação de homossexuais e a favor do uso de preservativos nas relações sexuais. Em agosto de 2015, nova suspensão. Desta vez, porque Couto elogiou na Câmara dos Deputados as posições do pastor Henrique Vieira, batista filiado ao PSOL de Niterói (RJ), que em artigo publicado na imprensa carioca defendeu – dos ataques de ‘fundamentalistas’ escandalizados – uma transexual que desfilou crucificada em Parada do Orgulho LGBT realizada em São Paulo, capital, ano passado.

Com a Pastoral Carcerária – Em março de 2014, Dom Aldo ordenou o afastamento do padre Bosco Nascimento e da assistente social Guianny Campos da Pastoral Carcerária da Paraíba, sob a alegação de que os afastados aplicavam orientação marxista ao trabalho da entidade junto aos presídios do Estado. Em meio à polêmica com aqueles militantes, o arcebispo confirmou publicamente, através da coluna deste blogueiro no Jornal da Paraíba impresso, que era a favor da revista íntima de mulheres que visitavam companheiros reclusos no sistema penitenciário estadual.  Considerada vexatória por todas as entidades de Direitos Humanos, promotores e procuradores de Justiça do país, a revista, segundo o arcebispo, inibia “o aliciamento de mulheres para entrar nas unidades prisionais com drogas e equipamentos, como aparelhos celulares e carregadores dentro do corpo, colocando em risco a própria vida”.

Com os oposicionistas – Dom Aldo inaugurou sua militância política na Paraíba em 2005 confortando, no xadrez da Polícia Federal, o então secretário de Planejamento do Estado Cícero Lucena (PSDB), que acabara de ser preso na Operação Confraria da PF sob acusação de desvio de recursos públicos em obras da Prefeitura de João Pessoa. Dois anos depois, colocou-se publicamente a favor de Cássio Cunha Lima quando o então governador tucano foi deposto do cargo pela Justiça Eleitoral. Entre 2009 e 2010, postou-se discretamente ao lado de José Maranhão (PMDB), que retornava ao Palácio da Redenção após conseguir cassar o adversário que, apoiado pelo arcebispo, derrotara o peemedebista em 2006. Entronizado em 2011, Ricardo Coutinho, apesar de sua origem esquerdista, passou a contar imediata e incondicionalmente com um combativo defensor chamado Aldo Pagotto.

Com os padres divergentes – Esses não aparecem publicamente, mas estariam por trás das denúncias contra Dom Aldo que vieram a público, à Polícia e à Justiça ano passado, acusando-o de envolvimento com pessoas que explorariam sexualmente ou abusavam de menores de idade. Por conta de tais acusações, que incluem um suposto relacionamento afetivo e sexual do próprio arcebispo com um jovem de 18 anos, ele foi suspenso pelo Vaticano de funções eclesiásticas como ordenação de padres e diáconos. Após a suspensão, o Alto Clero católico instaurou uma sindicância para apurar o pretenso escândalo. Não se tem notícia sobre possível desfecho do procedimento. Os fatos também estão sendo investigados em inquérito policial.

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