Falta de medicamento e incompetência colocam em risco vida de transplantados na Paraíba

(Foto: Arquivo/Jornal da Paraíba)

Transplantados em geral dependem do uso contínuo de determinados remédios que inibem a rejeição ao órgão que recebem, mas na Paraíba a incompetência coloca a vida dessas pessoas em risco diante da falta do medicamento que precisam tomar após os transplantes.

Um dos pacientes ameaçados por essa falta de medicamento associada à falta de planejamento e de previsibilidade é José Fernando, 54 anos, de João Pessoa. Nesta terça-feira (17), em entrevista à rádio CBN João Pessoa, ele relatou o drama que lhe afeta a saúde e ameaça a sua vida.

Fernando fez transplante de rim em dezembro de 2015 e meses depois o corpo dele deu sinais de rejeição ao novo órgão. Ao abordar publicamente o seu problema, deu ao ouvinte da emissora uma ideia bastante aproximada do sofrimento que é depender de remédios de  distribuição obrigatória por Estado e prefeituras.

Para reverter o quadro, Fernando teria que tomar seis comprimidos por dia do imunossupressor Tracolimo 1 mg, em falta há mais de uma semana no Centro de Distribuição de Medicamentos Excepcionais (Cedmex).

“Isso está preocupando todas as pessoas transplantadas em João Pessoa. A gente corre ‘risco de vida’ pelo processo de rejeição ao órgão, ou então, numa hipótese menos prejudicial, voltar a fazer hemodiálise três, quatro vezes por semana”, declarou.

Agravante

O drama dos pacientes transplantadas em situação semelhante a de Fernando não para por aí. O medicamento não é vendido em farmácias. Ou seja, mesmo que a pessoa tenha o dinheiro para comprar, o remédio é exclusivo do Sistema Único de Saúde (SUS).

Outro remédio em falta é o Prednisona, corticoide sintético que teria sumido das prateleiras do Centro de Distribuição de Medicamentos da Prefeitura da Capital. Em consequência, Fernando tem que pagar do próprio bolso.

Cada caixa de Prednisona custa, em média, R$ 20. “Essa medicação está faltando há mais de seis meses. A gente, há muito tempo, está comprando. Graças a Deus esse a gente encontra na farmácia”, afirmou.

Uma loteria

Também entrevistado pela CBN sobre o problema, ao ter conhecimento da situação dos pacientes transplantados o médico nefrologista Luiz Almeida disse que o uso dos remédios de forma contínua é essencial para manter a saúde do paciente e do órgão recebido. E criticou duramente as falhas de fornecimento de Estado e Prefeitura.

“O transplante é uma loteria, mas quando o paciente não toma o remédio é como se não tivesse recebendo o prêmio que ganhou. Os governos estadual e municipal colocam pessoas que não têm a competência devida para serem secretários de Saúde. Secretário que deixa faltar medicamento imunossupressor está praticando um crime de irresponsabilidade total. Levando um paciente que clamou por um rim, um coração, um fígado, a perder essa loteria que acertou anos atrás”, criticou.

O outro lado

À CBN, a coordenação da Cedmex explicou que o Tracolimo 1mg é distribuído pelo Ministério da Saúde. Diz que notificou o MS por meio de ofício e em resposta foi informado que 128 mil unidades do medicamento foram liberadas desde 20 de dezembro passado e deveriam estar disponíveis desde o dia 12 de janeiro último, mas o laboratório responsável pela fabricação não fez a entrega. Na segunda-feira (16), o MS fez um pedido de esclarecimento ao laboratório, que deve resolver o problema nos próximos dias.

Já a Gerência de Medicamentos e Assistência em Farmácias, da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa, informou que não há desabastecimento do Prednisona nas farmácias do município. O que houve, na verdade, segundo o órgão, foi uma redefinição na distribuição de alguns medicamentos da Atenção Básica e Especializadas. Com isso, o Prednisona passou a ser distribuído pelos Centros de Atenção Integral à Saúde (Cais). Para tirar dúvidas e pedir esclarecimentos sobre essa mudança, a população deve ligar para o número (83) 3214-7722.

  • Valéria Sinésio com reportagem de Marcelo Andrade para a CBN João Pessoa
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