Carrões estacionados na porta da garagem das supermáquinas, ontem à noite em Manaíra

Reza a lenda que a revendedora dos luxuosos carros da marca Land Rover de Natal (RN) resolveu abrir uma loja em João Pessoa após descobrir, ao analisar o perfil de seus clientes, que metade ou um pouco mais das pessoas com as quais fechava negócio provinha do Estado vizinho ao sul. Resultado: menos de dois anos depois de instalada na Estrada de Cabedelo, a filial paraibana teria se transformado numa das mais rentáveis do país.

Essa história serve para tentar ilustrar ou encontrar uma explicação para tantos carrões daquela e de outras grifes famosas desfilando nas vias de asfalto ruim ou pavimentação meia boca da Paraíba. Onde se evidencia que não há capital circulante na mesma proporção das joias motorizadas caríssimas que circulam por aí. Mas o fato é que vez por outra a ‘plebe ignara’ toma susto nas calçadas quando o rico ou o novo rico exibido pisa mais fundo o acelerador de sua Ferrari, Lamborghini ou Porsche Cayenne, especialmente na Vila das Neves ou de Vila Nova da Rainha.

Segundo explicou-me ontem um rapaz que já frequentou o meio e hoje está ‘meio quebrado’, Land Rover é segundo ou terceiro escalão na escala dos ferraristas e assemelhados. Inclusive porque entre os jipões de alto luxo da Land produzidos na Inglaterra os mais caros chegariam, quando muito, a um terço do preço de uma ‘Lambo’. É verdade. Quem quiser comprar uma máquina dessas da linha Gallardo Superleggera, por exemplo, tem que puxar pelo menos R$ 1,4 milhão de dentro do ‘bisaco’.

Ferrari, então, é coisa que vai de R$ 1,3 milhão (a Califórnia, ‘básica’) até R$ 2,6 milhões (a Fiorano F1, ‘top dos tops’). De qualquer sorte, teríamos rodando entre o comum dos mortais tabajarinos pelo menos nove exemplares da preciosidade criada pelo Comendador Enzo. Além de meia dúzia de Lambos, outro tanto de Porsches e até um outro Maserati (R$ 750 mil, na média) que, confesso, jamais vi na vida. Mas, tal e qual os demais do mesmo porte, a presença dessas fortunas sobre rodas entre nós seriam como as bruxas. A gente não crê na existência delas, mas que elas existem existem.

Tanto existem que foi criado um Clube das Supermáquinas em João Pessoa. Fundado no ano (2015) em que mais se falou em crise no Brasil, o clube já passa dos 30 associados. Mas seus próprios fundadores e demais frequentadores, que por motivos óbvios preferem se manter no anonimato, não pretendem expandir o quadro para além de meia centena. Até por que, quanto todos se reúnem em algum lugar da cidade, chamam muito a atenção. De quem vê, tem inveja ou quer saber “porque tantos assim”.

“Geralmente, a galera se junta em determinado dia da semana, combinado pelas redes sociais, numa concorrida cervejaria de Tambaú. Agora, eles têm um novo ponto de encontro, com a inauguração de uma garagem-locadora de carros de alto luxo em Manaíra”, adiantou-me nesta sexta-feira (1º) o cara que anda ‘meio quebrado’. Ele certamente não tem roupa para ir pra essa festa. “No clube só entra quem tem carro de R$ 500 mil pra cima”, informou, sem esconder a tristeza e a conjuntura que não lhe permitem participar de uma turma “tão selecionada”, como diriam lá em Bananeiras.