Todo mundo tem uma história com Carlos Roberto

Carlos Roberto de Oliveira (Foto: Arquivo/Messina Palmeira)

Carlos Roberto era assim a maior parte do tempo (Foto: Arquivo/Messina Palmeira)

Difícil encontrar algum profissional da imprensa paraibana que não tenha em algum momento dos últimos 50 anos se relacionado fraternalmente, intelectualmente ou profissionalmente com Carlos Roberto de Oliveira. A começar pelo fato de ele ter sido Secretário de Comunicação do Estado entre 1979 e 80, se não me trai a memória pouca ou confusa.

O cargo, o primeiro que exerceu na vida pública, a convite do então governador Tarcísio Burity, ainda hoje introduz o exercente em praticamente todos os afazeres, haveres e deveres da imprensa paraibana, dado o grau de dependência, identidade ou antagonismo político que se alternam nas relações entre empresas do ramo e governos da hora.

Não tive qualquer proximidade ou convívio com o secretário Carlos Roberto. Tive com o Carlos Roberto publicitário e marqueteiro político, dono da Chroma, agência de propaganda e produtora de tevê. A ele devo meu primeira frila. Convidou-me para fazer textos e editar matérias do programa de televisão da campanha de Wilson Braga a governador em 1990.

Surpreendente convite. Pelo menos para este escrevinhador, à época carregando na testa o carimbo de ‘Rubens do Correio’, por ter sido editor do jornal nos 80, quando Paulo Brandão, diretor do diário fundado por Teotônio Neto, foi assassinado por encomenda do então governador Wilson Braga, segundo a Polícia Federal.

O Correio, que já vinha ‘se estranhando’ com o governo Braga (1983-86) desde a posse, declarou guerra de vez depois da morte de Paulo. No outro lado do front estava Carlos Roberto, que o governador escolhera para dirigir a PBtur e era um dos alvos estratégicos do jornal por ter iniciado um polêmico processo de privatização dos hotéis do Estado.

Pois bem, quando me vi fora do jornal, ‘Carrin’ foi o primeiro a me oferecer chance de recompor o orçamento doméstico, extremamente abalado com a perda do pró-labore do Correio. E me chamou logo pra campanha do ‘inimigo’, que na passagem do primeiro para o segundo turno contra Ronaldo Cunha Lima tentou se descartar daquele que uns xirimbabas do candidato diziam ser um espião infiltrado na Chroma.

Teriam pedido minha cabeça abertamente, em reunião do comando de campanha. Pedido supostamente endossado pelo candidato e por Dona Lúcia Braga, a primeira-dama mais poderosa que já passou pela Granja Santana. Carlos Roberto não titubeou. “Ele fica. Ele não trabalha pra vocês. Trabalha pra mim”, peitou. Fiquei.

Não soube do episódio pelo protagonista do gesto de altivez movida a dignidade, integridade, caráter, enfim. Soube por um colega que entrara na sala onde os bacanas estavam reunidos. Fora dar um recado a Carlos Roberto e teve que aguardar o meu acusador terminar o libelo. Valeu a pena a espera, disse, porque logo em seguida ouviu e vibrou com a taxativa resposta do meu contratante.

Tudo o mais que possa dizer já deve ter sido dito ou escrito por muitos amigos e colegas desde ontem (30). Desde quando anunciaram a morte de Carlos Roberto no Hospital Unimed de João Pessoa. Dizer o quê? Que ele “não era inteligente normal, não”, como dizem os jovens de agora? Ah, isso todo mundo sabe

Como sabe também que Carlos Roberto de Oliveira, além do intelecto privilegiado, era dono de uma criatividade extraordinária, de uma fantástica e por vezes corrosiva espirituosidade, piadista de primeira e, principalmente, cristão no sentido mais estrito da palavra. Pela solidariedade e apreço que devotava a quem dele precisasse, como um dia precisei e com ele pude contar sem precisar pedir.

É BOM ESCLARECER
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2 Respostas para Todo mundo tem uma história com Carlos Roberto

  1. Danúbio de Melo escreveu:

    O título dessa matéria diz a extrema verdade em Relação ao Carlos Roberto, certamente nos que tivemos o privilégio de conhece-lo, temos sim, uma ou mais histórias pra contar, sorte de quem pelo menos ouviu uma de suas histórias, pois como disse um amigo que muito conviveu ao seu lado e o definiu em uma só palavra: Gênio.

  2. Maria de Lourdes Luna escreveu:

    Rubens: `a cerca de um ano reaproximei-me de Carlos Roberto, quando ele me procurou para fazer uma plaquete sobre José Américo, dentro do programa da PATMOS – Primeira leitura. Porém, ele demorou a publicar e tive de discutir com ele sobre a demora. As brigas, porém, não nos afastaram e a cada novo lançamento ele me convidava para assistir. Ontem ao abrir o computador encontrei a triste noticia que me deixou desolada. Tem a vida muitos mistérios…e se nos fosse dado conhecê-los seria bom para nós ou um desespero incontrolável se soubéssemos por antecipação nosso fim. Deus o tenha na sua gloria.