(Ilustração: surubimnews)

Do aboio de um vaqueiro ainda resta muito pouco. Saudades de Gonzagão. Aquele que fez o seu reinado cantando as coisas daqui. Há muito tempo ele cantava, em ‘Serrote Agudo’:

Só se vê porta fechada
Não se vê mais vaquejada
Não reina mais alegria

Era o canto triste do vaqueiro, que armado de chapéu de couro, gibão e sanfona chorava a dor de ver acabando as vaquejadas que, como ele definiu, era a alegria para o povo, era a festa do nordestino!

Esta semana, vimos a vaquejada sofrer mais um golpe. Na quinta-feira (6), o STF entendeu ser uma prática ilegal por seis votos a cinco. Seria mesmo difícil esperar que uma Corte, distante quilômetros daqui, compreendesse o significado da cultura de nosso povo. E os rodeios serão proibidos?

Somos nordestinos. Temos a nossa cultura e ela deve ser preservada como a de todos os povos. Temos o nosso jeito e aprendemos a vaquejar a vida montados num pangaré chamado destino.

Os nossos braços são fortes, meu doutor! Eles têm força para arrastar bovinos pesados como o desprezo que a gente tá acostumado a levar. Os nossos pés têm esporas. Elas são afiadas como espinho de graveto seco que a seca faz furar dentro da gente pelo esquecimento dos engravatados.

A luva de um vaqueiro não cobre nem encobre as suas mãos. A sua impureza vem do estrume, não do germe da corrupção. Nossas mãos são bem mais limpas que tantas que continuam a correr no pátio da impunidade. As nossas digitais não precisam ser escondidas. Vaqueiro nunca foi bandido e vaquejada não é crime não! “Zero boi!”

Talvez os doutores não saibam o que isso signifique e por isso mesmo julguem sem saber ao certo o que estão julgando. Chora o vaqueiro… Morre um pouco da gente. Gonzaga estava certo: “Não reina mais alegria!”

Mas daqui ou de uma beira de cerca qualquer, ecoará o grito do vaqueiro, o desportista sem medalha: Derrubaram a vaquejada! Mas, mesmo em pista vazia, ali ficarão corações emparelhados… Batendo esteira pra saudade, em busca do eco perdido na história a dizer: “Valeu boi!”

Fabiano Moura de Moura
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