No encerramento do Mês do Médico, o Conselho Regional de Medicina da Paraíba entregou a Comenda CRM-PB ao Doutor José Mário Espínola (foto). A cerimônia, realizada quinta-feira última (31 de outubro) na sede do órgão, em João Pessoa, marcou o reconhecimento da entidade à contribuição do respeitado cardiologista ao engrandecimento da classe médica paraibana.
A homenagem surpreendeu o homenageado, que dela só tomou conhecimento seis dias antes. Tempo suficiente para redigir agradecimento no qual reafirma seu amor à profissão e gratidão aos familiares, amigos e colegas que o ajudaram a se tornar o cidadão exemplar que é, além do médico querido por seus pacientes e dos mais conceituados entre seus pares.
Adiante, a íntegra do pronunciamento de José Mário Espínola, regular colaborador deste blog, autor de crônicas e artigos que maravilham leitores. As reações aos seus escritos decorrem tanto de leveza e humor como da contundência de críticas oportunas e percucientes que expõe em conteúdos generosamente cedidos à publicação neste espaço.
ASSIM FALOU ZÉ MÁRIO
Cumprimento os conselheiros aqui presentes na pessoa do presidente Bruno Leandro.
Cumprimento os médicos aqui presentes na pessoa de Dra. Ilma Espínola, alergologista e minha esposa, mola propulsora de minha carreira, parceira e sócia por toda a minha vida.
Cumprimento os meus parentes na pessoa de Ana Candida Espínola e Francisco Espínola Junior, meus irmãos.
Cumprimento os meus Ricardo e Ana Laura Espínola e Maria Ilma, meus filhos e minha neta aqui presentes.
Cumprimento os meus pacientes aqui presentes na pessoa da escritora professora Ângela Bezerra de Castro, Dra. Maria Auxiliadora Farias, José Francisco da Nóbrega e Marconi Formiga, aqui presentes.
Meus caros ouvintes,
Quero de saída agradecer a atitude do CRM, capitaneado por seu presidente, Dr. Bruno Leandro, de resgatar pessoas que de algum modo contribuíram para o engrandecimento da classe médica.
O patrono, Dr. Genival Guerra, foi um verdadeiro herói desbravador da medicina na nossa cidade. Nascido em Alagoa Grande, cidade que é um celeiro de bons profissionais médicos, Genival Guerra foi inicialmente um sargento do Parasar, batalhão de heróis da Força Aérea Brasileira, como conta o seu biógrafo e contemporâneo, o acadêmico Ricardo Maia.
Quando cursava o início do curso médico, na segunda metade da década de 1960, ele transpôs os limites da classe de aulas, e levou a Medicina para as ruas de João Pessoa. Nessa época o atendimento era precário, ao alcance apenas das classes mais abastadas. Os que não eram ricos ou não tinham acesso aos Institutos estatais, os chamados “indigentes,” morriam à mingua.
O Padre Zé Coutinho, em sua ampla obra de caridade (deve estar, no mínimo, no céu!), era quem os acolhia em sua igreja. Depois ele construiu um barracão no bairro do Roger. Um dia Genival Guerra visitou esse barracão e se inspirou para normatizar a assistência médica, até então precaríssima.
Genival combinou com o Padre Zé para ampliar as acomodações, separando adultos das crianças, separando, também, os tuberculosos. Criou a COPEAI, a qual passou a inscrever acadêmicos de medicina, para trabalhar no Barracão do Padre Zé como estagiários.
Ali perfilaram gerações de estudantes de medicina, desenvolvendo uma prática médica que se tornou muito útil na vida profissional. Ilma Epínola foi uma dessas acadêmicas.
Permitam-me agora voltar um pouco no tempo, para falar de minha formação profissional. Venho de uma família predominantemente jurídica: pai, avô, irmãos. Pode-se dizer que sou a “ovelha branca” da família!
Acho que comecei a me tornar um bom profissional com os exemplos familiares, pois aprendí com os meus pais a ter caráter, condição sine qua non para ser um bom profissional em qualquer área de atuação.
Ao fazer a opção pela carreira de médico, o fiz com plena liberdade de escolha. Para me tornar um profissional médico, aprendí nas salas da Faculdade de Medicina, nas enfermarias do Hospital Santa Isabel, nos centros cirúrgicos e nos pronto-socorros. Tive os melhores professores da minha época, verdadeiros mestres.
Mas foi na prática diária com os pacientes, já na vida profissional, que me tornei um verdadeiro médico, na acepção da palavra. Considero que todos os pacientes tambem foram meus mestres, pois na prática diária, aprendí com eles algo importante da profissão. E, principalmente, aprendí a como tratá-los.
Ao dar-lhes a devida atenção, seja na anamnese, seja no exame físico, fui evoluindo, burilando, aplicando-lhes a ciência aprendida nos bancos da faculdade. Quando os exames chegavam, complementavam um diagnóstico já praticamente formado. Assim foi a minha Medicina.
Na trajetória de minha vida profissional, cheguei ao CRM pelas mãos do colega e amigo João Modesto Filho. Os postos que aqui galguei devo principalmente a ele e a José Eymard Moraes Medeiros, de quem tenho muitas saudades.
Mas eis que chega a Medicina Moderna. De saída, a anamnese e o exame físico aos poucos vêm sendo substituídos pelos exames laboratoriais, que deixaram de ser complementares e passaram a ditar o diagnóstico. As imensas contribuições da ciência evoluem numa velocidade vertiginosa. E rapidamente aproxima-se a Inteligência Artificial. A princípio uma valiosa promessa de ferramenta para auxiliar o médico, já dá sinais de que, na realidade, está vindo para substitui-lo!
Paralelo a tudo isso, e contrastando absurdamente com a modernização da medicina, a humanidade dá sinais de que está evoluindo para uma nova Era. E são sinais preocupantes: a humanidade parece na realidade involuir para uma nova Idade das Trevas! São muitos e ameaçadores os sinais desta involução. Guerras em pleno século XXI. Intolerância em seu grau máximo, gerando mais do que nunca conflitos. entre nações e dentro delas.
Uma das responsáveis por essa involução é a adesão ao negacionismo por boa parcela da população mundial, sem nada que justifique, difundido por pessoas ignorantes ou mal-intencionadas, tornando as pessoas presas indefesas e fáceis de serem dominadas.
Estamos entrando numa era moderníssima, porém ao mesmo tempo que é muito iluminada, é tambem sombria, cujas luzes, frias e artificiais são tornadas brilhantes apenas para pegar as ingênuas mariposas modernas.
Por seu lado, contrastando com as conquistas tecnológicas, principalmente a internet, médicos parecem retornar à alquimia, ao negarem os avanços positivos da Ciência.
A minha esperança está em saber que nada, repito: nada substituirá a presença humana do médico junto ao paciente! Pois a máquina conseguirá ampliar o diagnóstico, porém jamais substituirá o tratamento, que é exclusivamente humano!
Encerro oferecendo para vocês a seguir uma imagem que me veio à mente, ao me preocupar com o domínio da máquina. Ela reflete um pouco a minha preocupação com o domínio da Inteligencia Artificial, e foi inspirada pelo livro Eu, Robot, obra prima de Isaac Asimov: imaginem este Conselho de Medicina composto por 42 autômatos?!
Deixo com vocês.
Obrigado!
BREVE CURRÍCULO
José Mário Espínola – CRM 2503 PB
Médico cardiologista
Ex-Presidente do CRM da Paraíba
Ex-Corregedor do CRM PB
Foi Auditor da Unimed João Pessoa
Foi Conselheiro do Conselho Fiscal da Unimed João Pessoa
Foi Secretário da Sociedade Paraibana de Cardiologia
Foi Diretor Técnico do Hospital General Edson Ramalho
Enxadrista, cronista, cinéfilo e alvinegro
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