Embora houvesse também um enorme mal estar entre os jovens do beau monde, estes usufruíam de uma sociedade opulenta, e tinham suas vidas em seus dias passados agradavelmente em leituras, aulas, estudos e conversas em cafés do Quartier Latin. Ao passo que, a 20 ou a 30 quilômetros do beau-monde parisiense, embora fossem seres constitutivamente iguais, era apenas uma juventude marginalizada, nascida de outra classe social. Segregada em periferias, em fábricas, em linhas de produção, voltando para casa à noite com a perspectiva de dias seguintes absolutamente iguais, até a derradeira decrepitude.
Os jovens trabalhadores, igual aos pais segregados, se concentravam nas banlieus parisienses: os subúrbios ou cidades dormitórios. A sua segregada localização no espaço urbano, a estrutura da jornada de trabalho e as clivagens socioculturais impediam o bem estar aos estudantes e operários. Aos imigrantes, mais grave, eram destinados afavelamentos chamados de “bidonvilles”. O chauvinismo xenofóbico mesclado de racismo é um traço brutal da sociedade francesa. Emannuel Mounier dizia que a França nunca foi capaz de suportar o extremado amor que o mundo tinha por ela.
Paris, durante o século 19, foi palco de grandes convulsões sociais com grandes repressões e trucidamentos das massas de populares. A Comuna de Paris de 1871 foi a mais sangrenta. Em seguida, entra cena o Barão de Haussmann que nas últimas décadas século 19 impõe em Paris um traçado urbanístico de grandes e esplêndidas avenues e boulevares que escoimassem e reprimissem os ímpetos revolucionários do populacho lumpen.
Reforma urbana que passou a permitir deslocamentos repressivos rápidos e asfixiantes das cavalarias e das infantarias. O cenário parisiense atual, afora o monumental e arquitetural imobiliário urbano, tem em sua gênese um urbanismo ideologicamente repressivo.
As lutas que se manifestaram em Maio de 1968 estavam inseridas ao contexto interno universitário, eram inicialmente intracorporis ao mundo acadêmico. Corporativistas, portanto. Tinham um viés, embora de natureza ideológica relativas ao âmbito restrito ao conteúdo do ensino, conhecimento transmitido e distante da realidade, submetido à uma pedagogia que não permitia relacionamento e cumplicidade entre professores/alunos.
O começo de tudo foi uma série de conflitos entre estudantes e autoridades da Universidade de Nanterre. Em 22 de março. No inicio de maio, a administração decidiu fechar a escola e ameaçou expulsar vários estudantes acusados de liderar o movimento contra a instituição.
Em 1968, além de ideológicos, ocorreram embates políticos abrangentes pelas categorias universitárias, que ao lado de outras camadas sociais mobilizaram-se em torno de objetivos políticos e humanos, tais como democratização, defesa das liberdades individuais ou coletivas, da expressão de liberdades sexuais, denúncia contra as guerras e a solidariedade internacional com o Tiers Monde.
As motivações afetivas, idílicas de um mundo libertário, de uma sociedade em que defendiam que todos deveriam ser felizes, longe das contradições de um mundo segregado entre o Capital e o Trabalho. Entre os poucos que compravam e os muitos que vendiam a sua força de trabalho.
A luta motivada pelas emoções e desejos libertários onde “en passant” os clichés com vieses existencialistas e pinceladas anarco-estudantis expressas pelo matiz “Interdit d´Interdire”. Estava muito longe de ser uma luta de classes.
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