ENTRE AMIGOS, por Babyne Gouvêa

(Imagem meramente ilustrativa copiada de Campo Grande News)

Dois companheiros de bar voltam a se encontrar e dessa vez escolhem mesa afastada das poucas existentes no recinto. Fazem um trato estilo ‘beba com moderação’ para a lucidez fluir.

Lédio e Ariza costumam discutir política em seus encontros, mas  resolvem introduzir a saúde mental na pauta. Iniciam a conversa com as lamúrias de Lédio pedindo auxílio ao amigo, insistindo em dizer que está perdendo o juízo.

– Que despropósito é esse, camarada?

– A coisa é meio complicada. Escute só… Votei em 2018 no candidato que venceu a eleição, mas ele continua em campanha e se comporta feito doido. Ou sou eu que estou doido?

– Fique tranquilo. Doido que é doido não admite ser doido. Não é o seu caso. Portanto…

– Semanalmente, ele está aglomerando em algum lugar do país. Estimula a população a não usar máscara em plena pandemia e, mesmo não sendo médico, passa remédio inútil contra a Covid.

– Pois é, amigo, diante de coisas assim fico aqui pensando como você se sente vendo ele debochar dos doentes de covid sofrendo com falta de ar.

Lédio fica sem ter o que dizer. Ariza não dá trégua e emenda:

– Outra curiosidade minha é saber se você e outros eleitores dele ainda acreditam sinceramente que as rachadinhas começaram com os filhos e não com o pai?

Sem responder, Lédio pede uma pausa a Ariza e um aperitivo ao garçom. É atendido. Não pelo velho companheiro, que prossegue:

– E aí, meu, o homem ainda é um mito ou você já percebeu que ele mente tão sinceramente que acredita no que mente?

Lédio bebeu seu drinque de um gole. Olhou Ariza nos olhos, apertou-lhe o braço e fez menção de se levantar.

– Vá não, rapaz – apelou Ariza.

– Amigo, você não faz ideia do quanto me arrependo e me envergonho. E fico me perguntando se não estava louco quando dei meu voto e defendi tanto esse… E você falando nessas coisas, assim, desse jeito, aí é que eu fico mal.

– Tudo bem, amigo, tudo bem. Fique. Vamos falar de outra coisa. Vamos falar de futebol, então.

– Bem, nesse caso…

– Assistiu ao jogo da Seleção contra o Equador? Viu? Sei não…esse time chinfrim está a cara do Brasil nessa Copa América. Quer dizer, essa Cova América que seu presidente trouxe pra cá no pico da pandemia.

Lédio levantou-se bruscamente. Tirou uma nota de 20 reais do bolso, jogou sobre a mesa e saiu do bar.

Ligeiro, bufando pelos sete buracos da cabeça.

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