UM TOQUE DE COVARDIA, por José Mário Espínola

Lendária fotografia de rapaz jovem parando em frente a fila de tanques

Uma cena e uma fotografia para a história (Praça Tiananmen, Pequim, junho de 1989)

Nós temos acompanhado excelentes artigos do escritor Rui Leitão versando sobre as qualidades humanas, virtudes e defeitos. Iremos aqui tecer algumas considerações sobre uma virtude humana, mas que também encontra exemplos na Natureza: a Coragem.

Para mim o maior dos exemplos de coragem é a Mulher. Elas já nascem corajosas, parece até que faz parte do seu DNA. Com raras exceções são pessoas sinceras e decididas. E em muitas ocasiões são capazes de colocar a defesa de um filho ou de um ente querido acima do seu instinto de preservação. Essa atitude também assistimos muito acontecer no reino animal.

Na nossa família são célebres exemplos de coragem explícita: o nosso avô paterno João de Andrade Espínola e a nossa avó materna Salomé Cavalcanti Pedrosa. Mas isso é outra história.

Muito já se escreveu sobre esta virtude, fartos são os exemplos de atitudes corajosas. Pessoas que defendem os seus ideais, as suas doutrinas, quando confrontados ou ameaçados por aqueles que não os respeitam, mesmo que isso signifique risco de morte.

A Bíblia registra muitos exemplos de coragem. É o caso de Daniel, que teve a coragem de afirmar e defender a sua fé, o seu Deus, perante o rei dos medos e persas, Dario. E por isso foi lançado à cova dos leões, sobrevivendo graças a um anjo enviado por seu deus. Assim está registrado na Bíblia, no capítulo 6º do Livro de Daniel.

Ao longo da Era Cristã muitos daqueles que eram praticantes da sua doutrina sofreram intensa perseguição. Isso leva o nome de misocristia: a intolerância a Cristo e àqueles que praticam o cristianismo.

No início esse ódio partia dos judeus, depois do Império Romano e mais tarde por parte dos muçulmanos. Até que esta religião se afirmou e tornou-se uma potência, sendo praticada por bilhões de pessoas no Mundo.

A igreja católica é rica de mártires que deram a vida pela fé que praticavam. São Sebastião e Santa Isabel são dois exemplos. Aqui no Brasil temos muitos exemplos de coragem pessoal. Vou citar um.

Em junho de 1968, quatro anos do início da ditadura militar, o brigadeiro João Paulo Burnier e militares radicais teceram um plano para explodir o gasômetro e uma represa, do Rio de Janeiro. Esses atentados terroristas, que seriam executados à luz do dia, provocariam a morte de dezenas de milhares de pessoas. Seriam, então, atribuídos aos comunistas e às organizações de esquerda que combatiam a ditadura militar, o que justificaria o fechamento do regime e a perseguição aos adversários.

Foram impedidos pelo capitão Sérgio Carvalho de Miranda Ribeiro (que tinha o apelido de Sérgio Macaco), capitão do Serviço de Salvamento da Aeronáutica, ParaSar. Ele não apenas teve a coragem de se recusar a participar como denunciou o brigadeiro Burnier ao Comando da Aeronáutica. Evitou assim, com o seu gesto, a morte de milhares de pessoas. A partir daí ele passou a ser perseguido pelos militares da extrema-direita e no final daquele ano foi reformado pelo Ato institucional nº 5, o famigerado AI5. Perdeu a patente e o meio de vida.

No mundo contemporâneo temos o exemplo de coragem do Mahatma Gandhi, que enfrentou sem armas o Império Britânico, em defesa de sua causa, tendo conseguido unificar os indianos e emancipar a Índia.

Outro bom exemplo é o de Nelson Mandela, que em defesa de sua causa, a liberdade do povo da África do Sul, enfrentou o regime da separação racial, da opressão à maioria negra, tendo amargado a prisão por 27 anos. Nunca deixou, porém, de afirmar os seus ideais.

Em junho de 1989 o mundo assistiu estarrecido um professor chinês, portando apenas uma sacola de compras, tendo a coragem de enfrentar e fazer parar uma coluna de tanques de guerra que chegava à Paz Celestial, onde logo praticariam um massacre contra a população ali presente para protestar contra o regime totalitário da China.

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No extremo oposto da Coragem está o defeito da Covardia. Este é um dos piores que um ser humano pode ter. Porém não se pode afirmar que o amor-próprio, ou a timidez, por exemplo, venham a ser classificados como atos de covardia. Covardia é muito mais do que isso.

Nos tempos atuais temos assistido mais do que nunca ao exercício da covardia, praticado por aqueles que são adeptos do bolsonarismo como ideologia. Eles são brasileiros que têm uma ideologia nociva à sociedade, especialmente àqueles que são socialmente fracos ou indefesos. Que cultuam o pensamento antidemocrático, racista, totalitarista e intolerante. Mas, quando chamados à responsabilidade e confrontados com as suas respectivas realidades, negam mais do que Pedro negou Jesus. Nunca afirmam ou defendem o que pensam e pregam, pois sabem que é errado.

Muitos são os exemplos da covardia dessas pessoas. O deputado Daniel Silveira é um. Em abril passado foi preso após desfiar um rosário de ofensas e ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Ao ser preso, amarelou e negou tudo, demonstrando covardia.

O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, exibiu no Senado, durante exposição do ex-ministro Ernesto Araújo, um gesto que foi interpretado como revelando ser adepto do pensamento racista e medieval da supremacia branca. Ao ser confrontado, também amarelou e negou que o tivesse feito.

O ex-chanceler Ernesto Araújo foi outro que amarelou e também não teve coragem de defender o seu pensamento no Congresso.

Eles têm em comum o fato de serem adeptos do pensamento olavista e nazi-fascista do presidente da República, Jair Bolsonaro. Que por sua vez não é um bom exemplo de coragem.

Mas existem aqueles que, para fugir da responsabilidade dos seus atos, são capazes de inverter o que afirmaram no passado. Ou são até mesmo capazes de assumir o que nunca fizeram e até mesmo combateram. É o caso de Bolsonaro. Desde o início da pandemia ele vem atacando e dificultando a vacinação dos brasileiros e defendendo tratamentos esdrúxulos e inócuos, que podem até mesmo vir a causar danos aos pacientes que a eles se submeterem.

Ele fez todo o possível para atrasar a imunização coletiva, atitude que poderá ser responsabilizada pelo aumento estúpido do número de brasileiros mortos, que pela média diária de mortos poderá alcançar a metade de milhão ainda este mês.

Porém, agora confrontado ele nega com veemência o que fez, o que pregou, e que influenciou de forma deletéria os milhões de brasileiros que seguem cegamente a sua ideologia. E recentemente ele teve a cara-de-pau de vir à televisão fazer um pronunciamento assumindo a paternidade da vacinação do povo brasileiro.

Isso tudo nos permite concluir que os nazi-fascistas não têm coragem para assumir o que pensam e praticam. Ou que intimamente têm a consciência de que o que pensam, a sua ideologia, os seus ideais estejam errados e, portanto, não têm defesa.

Mais ainda, incapazes de defender ideais inconfessáveis às claras, à luz do dia, só o fazem quando estão em turma. Eles têm o mesmo comportamento e forma de pensar daquelas pessoas que participam de linchamentos: só têm coragem quando estão em rebanho. Depois negam qualquer autoria.

Só são capazes, portanto, de agir e expor seus pensamentos à socapa, à sorrelfa, pois não passam de covardes.

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