A banalização da morte já vem sendo constatada à medida que os tempos modernos vêm sendo instalados e adotados. Isso é fato. No passado, quando o luto era fortemente respeitado e aparentemente sentido e adotado, os indivíduos manifestavam de forma contundente a dor de sua perda, usando indumentária negra ou uma fita preta na roupa, designado ‘fumo’, sinalizando o pesar.
Os lares, à noite, ficavam na penumbra, enquanto a voz dos moradores soava em tom baixo, sem esboço de sorrisos, e o nome do finado sendo enaltecido. Os comerciantes ostentavam bandeiras pretas simbolizando a perda de alguém de sua estima, enquanto os clientes e transeuntes se cumprimentavam com gestos sérios e reservados.
Na sexta-feira da Paixão, dia em que se celebra a morte de Jesus Cristo, as recomendações proibitivas eram cumpridas, inclusive por famílias não adeptas ao catolicismo. O respeito ao luto estabelecido pela Igreja Católica era plenamente obedecido, enquanto as rádios tocavam músicas eruditas para os seus ouvintes, durante todo o dia, sem intervalos para as propagandas, como estímulo às reflexões.
O número de viúvos(as), de outrora, que permanecia sem companheiros(as) até o final da vida, era bem maior do que o atual. O cenário foi mudando gradativamente e o matrimônio, atualmente, ocorre quantas vezes haja viuvez, exceto casos excepcionais. Percebe-se uma mudança dos costumes e das tradições, num ritmo acelerado, muitas vezes dando margens a especulações sobre a veracidade de sentimentos.
Sem fazer juízo de valor, talvez a diversidade de entretenimentos nos dias atuais contribua para dispersar e amenizar a tristeza das perdas. Um estudo antropológico, entre outros, poderá explicar as transformações do comportamento do indivíduo na sociedade.
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Hoje, a pandemia apresenta um número significativo de mortes, com muitos conhecidos entre as vítimas do vírus letal. As notícias sinistras e tristes são constantes e, mal se veicula o falecimento de uma pessoa, outra perda é anunciada e a consternação vai se acumulando, tornando-se crescente e coletiva.
Essas observações fazem parte do senso comum do indivíduo normal, isto é, aquele que tem espírito humano, com sensibilidade para padecer a cada finamento informado. A nação tem enfrentado essas dores e ao mesmo tempo o desprezo arrogante de certos dirigentes, que insistem em subestimar o número alarmante de mortes, em total desrespeito aos concidadãos. A perda vai tomando proporções mais dolorosas à medida que o poder público manifesta o seu desdém, sem perspectivas de redenção.
Vê-se um comportamento anômalo de quem deveria assumir o comando de uma força-tarefa para derrotar o vírus e proteger o seu povo. Não é isso o que ocorre. Parece que banalizar o luto é o caminho mais cômodo para quem quer se perpetuar no poder. Nesse caso, um estudo psiquiátrico será bem oportuno e elucidativo.
- Babyne Gouvêa é Biblioteconomista
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