PODERES, A QUEDA LIVRE E O RÉS-DO-CHÃO, por Francisco Barreto

“Independência ou Morte’, quadro de Pedro Américo

O Brasil de hoje iletrado, inculto e desprovido de educação e consciência politica relega os seus heróis e heroínas ao mais injusto esquecimento de sua história.

Homens como José Bonifácio, Frei Caneca e formidáveis mulheres do populacho como Joana Angélica, Maria Quitéria, Barbara Heliodora e a Princesa D. Leopoldina, cada um ao seu modo e lutas, foram artífices da Independência do Brasil. Em 1822, foram construtores do ato da Independência perpetrado pelo Príncipe Pedro I, vacilante e envolvido em incursões amorosas com D. Domitila de Castro, expondo escandalosamente seus rompantes libidinosos que por pouco não fraturaram a sua autoridade de Regente.

Diante das hesitações do imperador, entra em cena o Senado, no inicio de 1822. Foi edificado o Clube da Resistência, em cuja gênese estava a Loja Maçônica “Comércio e Artes”, encabeçada por Gonçalves Ledo e José Clemente Pereira, então presidente do Senado, que de início pugnou pelo Fico. Ato contínuo, pressionado pelo Senado e a Maçonaria, o regente Pedro de Alcântara, em 9 de Janeiro daquele ano, convencido de seu papel histórico, secundado por valorosos patriotas maçons e profanos, deu um grande abraço ao Brasil.

A Inglaterra patrocinou a independência com os dispêndios de dois milhões de libras esterlinas.

Em agosto dos ainda 1822, por unanimidade o Senado, via Clube da Resistência, coadjuvado pela valente Maçonaria, foi instado a proclamar a Independência e a realeza constitucional do Brasil.

Assim, na tarde de 7 de setembro de 1822, D. Pedro limitou-se, com seu gesto, apenas a promulgar o que já fora resolvido a 20 de agosto no Grande Oriente do Brasil.

Com os registros da crônica histórica e social, findou a dominação colonial com enorme protagonismo do Senado de textura maçônica, impedindo este que o regente não deslizasse em queda livre para o rés-do-chão da história.

História que prossegue para o advento da República diante do estarrecimento nacional debruçado sobre a incapacidade da monarquia de atender aos interesses e demandas da sociedade brasileira.

Homens como Aristides Lobo, Benjamin Constant, Rui Barbosa, Quintino Bocaiuva, José do Patrocínio e muitos outros membros do Congresso Nacional, aliados ao insatisfeito Exercito Nacional, tendo à frente Deodoro da Fonseca, rumaram à edificação da República tão prenunciada pelos ideais federalistas do Manifesto Republicano de 1870.

Nas crises intestinas da Monarquia e da República, exceto nos episódios ditatoriais, os congressistas sempre tiveram a ousadia e o senso patriótico ao enfrentar as crises que devastaram o país. Hoje, os passos dados pelo Congresso Nacional, diante da avassaladora crise pandêmica, o Parlamento brasileiro, coadjuvado pela enorme contestação que assoma à Nação, traz à tona o valente histórico exercício da representação popular.

Ninguém neste país é capaz de desvendar os fatos que se seguirão. Mas a conduta congressual começa a indicar que irá se postar nas trincheiras de luta pela salvação nacional diante da brutal incapacidade do Poder e do Governo Central de bloquear a inaceitável perda de vidas que se somam aos milhares, e que partiram sem terem tido a suprema oportunidade de uma profilaxia vacinal ou terapêutica tão necessária e urgente à continuidade da vida.

O Poder Central, renitentemente imobilizado por amarras incompreensíveis e inaceitáveis, transita no submundo da incompetência e da incúria públicas.

Os recentes e decididos gestos e atos movidos pelo estarrecimento e a indignação nacional talvez logrem impedir que em breve tempo possa evitar a celeridade e o avanço desumano ao ir além de 300 mil mortes. Os sofrimentos dos que perderam os seus se somam aos milhões. Há que se estancar essa mortandade infame.

Sabemos que da tristeza nasce a esperança. Em nenhum momento histórico nacional, as crises da sociedade brasileira conviveram com tamanha insanidade. O Congresso Nacional tem o formidável desafio restituir a dignidade humana e assegurar a perenidade da vida das pessoas.

Neste lampejo de extraordinária esperança, conduzido pelo Parlamento brasileiro, só Deus o sabe se será estancada a perda de vidas e se finalmente veremos que os nossos eleitos não irão também se esparramar no rés-do-chão da história.

Estamos todos em queda livre num despenhadeiro em que faltam mãos fraternas para nos segurar.

Não temos alternativas. No momento temos apenas a morte e a morte. Não há um só dia em que, sobressaltados, acordamos sob o pesadelo buscando saber quem serão as próximas vitimas. A luz que nos ilumina já não é a mesma.

Esperemos que haja a ressureição do espírito dos nossos heróis do passado. E que estes, longe do maniqueísmo e das perversidades sociopatas e ideológicas, souberam ser caminhantes de olhos abertos e nos conduziram pelas veredas da paz e da democracia nacional.

Hoje, como ontem, os representantes do povo têm uma histórica missão: não permitir com suprema coragem que o nosso destino seja o rés-do-chão tão próximo do silêncio sepulcral.

Inspiram-nos os exemplos do passado nacional. Independência e vida, sim; intendência, não.

É BOM ESCLARECER
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