PROFESSOR DE MATEMÁTICA, por Aderson Machado

Imagem meramente ilustrativa copiada de agendaa.com.br

Quando estudante universitário, fui professor. Comecei a ensinar no Colégio Regina Coeli, pertencente à rede particular de ensino. Esse educandário era situado na Rua General Osório, em João Pessoa, e pertencia ao sr. Odésio Medeiros. Fazia o 2º ano do curso de Engenharia Civil quando comecei a ensinar pela primeira vez.

Sabia que o salário não era lá essas coisas, mas, como precisava, ensinava com bastante entusiasmo, entusiasmo esse que não percebia por parte da maioria dos alunos, no sentido de quererem aprender. E isso era muito ruim. Era como se o professor fosse um bom cozinheiro, cozinhando para uma plateia sem apetite, em sua maioria.

Esses alunos sem apetite para aprender queriam tão-somente passar de ano, já que estudavam num colégio particular. Mas com relação a mim, que ensinava Matemática, havia um problema. Aliás, um grande problema. É que a maioria dos discentes não gostava ou tinha dificuldade na disciplina. Mesmo assim, não prestavam atenção nas explanações, prejudicando por tabela os demais alunos que efetivamente queriam aprender.

Na verdade, eu também me sentia prejudicado na medida em que tinha que endurecer o jogo, o que acarretava, dentre outras coisas, expulsão de alunos da sala de aula, o que me proporcionava um desgaste emocional inevitável. Uma outra consequência eram as notas baixíssimas no final do mês. E daí mais aborrecimentos, com pedidos de revisão de provas.  Nesse caso eu tinha uma boa saída, quando fazia ver aos pupilos que aquelas notas já continham um ponto de bonificação. Se fosse para retificar as notas, teria que tirar um ponto de cada aluno!

Nesse caso, eu forçava os alunos a estudarem mais, a prestarem mais atenção nas aulas e, dessa forma, consegui o controle da turma, isso mais em função da complexidade da disciplina do que qualquer outra coisa.

Na Matemática, como sabemos, o grau de dificuldade em aprendê-la é bem maior em relação às demais disciplinas, em especial nos ensinos fundamental e médio. Essa dificuldade é estendida ao professor, uma vez que ele tem que dar o máximo no sentido de se fazer entender. E, nesse caso, não adianta apenas impor os seus conhecimentos, mas, sobretudo, expor com certa dose de criatividade, inovação. Enfim, necessário se faz que o professor saia da mesmice, do contrário o seu ensino não terá conseguido os objetivos colimados.

No meu caso, tive problemas sérios com alguns alunos, que teimavam em não prestar atenção nas aulas e, no entanto, queriam passar de ano a todo preço, literalmente, sob o pretexto de que estudavam em colégio particular, e, porque pagavam, achavam que tinham o direito de passar de ano de qualquer maneira.

Como era um professor intransigente, apesar de novo na profissão, não admitia esse estado de coisas. A propósito, certa feita recebi uma ameaça de um aluno pelo fato de ele ter tirado nota 1! Isso mesmo. Como não transigi ante a sua ameaça, fiquei à espera de que ele pudesse perpetrar algo nocivo contra minha integridade física, o que, felizmente, não aconteceu. Entre mortos e feridos, digamos assim, escaparam todos! Entrementes, não deixei o caso ficar impune. Levei ao conhecimento da Diretoria o ocorrido, a fim de que alguma providência fosse tomada.

Em função do posto e exposto, fica evidente quão difícil é a missão de um professor, além de seu baixo salário, às vezes carga excessiva e péssimas condições de trabalho, o que tem acarretado um sem-número de greves, mormente nas universidades públicas. É lamentável, sobremaneira, essa dura realidade, porquanto a educação, não só no Brasil, mas em qualquer país de mundo, deveria ser uma prioridade de governo, mas infelizmente não o é, e, pior, não vislumbramos nenhuma luz no fim do túnel no sentido de que um dia tenhamos um sistema educacional de qualidade.

  • Aderson Machado é Engenheiro Civil e Bacharel em Letras
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