A sexualidade sempre foi (e será) um dos maiores fascínios para o homem. Função básica da propagação da espécie, tabu para a Igreja, somente na segunda metade do século XX veio a ser encarada com a necessária naturalidade pela sociedade.
Foi no século passado que surgiu a figura do Sexólogo, especialista médico que passou a estudar, pesquisar e se dedicar aos mistérios do sexo, suas doenças e tratamentos.
E dentre nós se destacou, à época, o Dr. Teodorico Rabay. Muito cedo se preparou para ser um sexólogo. Ainda adolescente leu de tudo: os livros de Adelaide Carraro; Giselle, a espiã nua que abalou Paris, de Brigitte Montfort; Nélson Rodrigues; Carlos Zéfiro. E todos os autores de então.
Leu todas as revistas suecas que aqui chegaram pelo porto de Cabedelo, de contrabando junto com as calças Lee e os perfumes Lancaster. Frequentou o cineclube da Sessão das Dez, do Cinema Brasil, onde assistiu Os Cafajestes e Engraçadinha, entre outros clássicos.
Ainda secundarista do Colégio Pio X, prestou internato na Universidade Maciel Pinheiro, o bas-fond local, concluindo com louvor. Resolveu ser médico, e curar os males daqueles que padeciam dos distúrbios do sexo.
Mestre da ereção, Dr. Teodorico foi brilhante, tanto no curso médico como (e principalmente) na Residência Médica, quando tornou-se famoso por haver conseguido curar o senador Brochado da Costa, que padecia de mal que até então era considerado congênito.
Ampliou seus conhecimentos e sua erudição. Traduziu do original a trilogia Sexus, Plexus e Nexus, além de Trópico de Câncer, todos de Henry Miller, o mais consagrado autor internacional da literatura de safadeza.
Leu também Os Amantes de Lady Chatterley, de D. H. Lawrence, A Pele, de Cúzio Malaparte, e o Kama Sutra, clássicos do erotismo universal.
Fez pós-graduação em Roma, a Cidade do Amor Invertido. Participou de vários congressos científicos no famoso Hedonism Resort, do Caribe.
De volta à Parahyba, tornou-se o Dr. Teodorico um sucesso profissional. Seu primeiro consultório, por coincidência (ou não?) situado na Rua Maciel Pinheiro, passou a ser o mais procurado da Capital. E para lá se dirigiu, um dia, o casal Batista e Menininha.
Apesar do nome, Menininha era uma mulher enorme, tinha o dobro da altura do marido. Personalidade difícil, dominadora, era muito mandona, coitado do Batista.
Batista, por sua vez, nos idos mais jovens tinha sido um verdadeiro fauno, e posteriormente um sátiro, apesar de toda a vigilância e marcação cerrada da esposa. Adorava uma safadeza (com as outras!). Mas já estava aposentado, não dava mais nada. O que ela não admitia.
Dona Menininha resolveu, então, procurar o Dr. Teodorico. Este a ouviu pacientemente (só quem falava era ela), fez as necessárias perguntas, examinou a pistola e chegou a um diagnóstico: Disfunção Erétil. E das brabas! Mas tinha solução.
A partir daí, elaborou um tratamento, que incluía posições, estímulos visuais (para criar o clima) e um coquetel medicamentoso de Cialis®️ com Viagra®️ e Levita®️, ¾ de champanhe, 1 medida de vodca, 8 gotas de Amaretto, ¼ de catuaba e gelo a gosto. Agitar 26 vezes em sentido horário, e 17 vezes anti-horário, numa coqueteleira, e servir meia hora antes. Se não funcionasse, nada mais resolveria.
E agora, o mais importante: tinham que se ater ao momento exato (que os pedantes chamam de timing), pois senão, não teriam outra chance. E liberou o casal, após marcar o retorno.
***
De volta o casal ao consultório do Dr. Teodorico, a esposa (mais zangada que o habitual) foi logo dizendo, com o marido:
– Senta aí, inútil paisagem! Cale a boca!
– Qué qui houve, Dona Menininha? – quis saber o médico.
– Doutor, fizemos tudo do jeito que o senhor orientou. Compramos as revistas Playboy, o pasquim vagabundo Já, os filminhos que eu anotei (quanta sujeira!), os remédios caros…
Antes que o Doutor Teodorico perguntasse pelas prescrições complementares, ela se adiantou:
– Não esqueci nada, Doutor: o champanhe, a meia-luz, a música (foi difícil encontrar Je t’aime), telefone e TV desligados, tudo, enfim. Nem as epístolas de Paulo nós lemos nessa noite, para não esfriar o clima.
– Faltou nada, então… – atalhou o sexólogo, mas Dona Menininha não concedeu aparte e arrematou:
– E na hora agá, quando tudo parecia que ia dar certo, este molusco, esta lesma, esta pereba parou e perguntou: “VOCÊ PAGOU A CONTA DA LUZ?”. Eu juro que vou matar este verme, Doutor!
José Mário Espínola
Voyeur amateur
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