por Rubens Pinto Lyra
Antes de detalhar as características do protofascismo vale a pena lembrar que o nazismo, na Alemanha, o fascismo, na Itália e o protofascismo alimentado pelo governo de extrema direita no Brasil somente se tornaram realidade em virtude do apoio decisivo – inicialmente reticente, depois entusiástico – que receberam do capital financeiro e dos políticos que representam os seus interesses, com o respaldo dos militares.
Nos três casos, esse apoio foi conquistado numa conjuntura de radicalização político-ideológica sem precedentes, quando as elites econômicas e políticas desses países entenderam que os partidos “tradicionais” (liberais de centro e de direita) poderiam não ter força suficiente para evitar o triunfo das esquerdas.
Leandro Konder, em seu livro Introdução ao Fascismo expõe a “íntima vinculação” do nazismo com o capital industrial e financeiro. E, também, o apoio por eles dado a Mussolini, preferindo a sua ditadura a um governo centrista (KONDER:1977, p.18-20).
Essa íntima vinculação, com relação ao nazismo, também foi detalhada por Wiliam Shirer, no seu clássico Ascensão e Queda do Terceiro Reich (SHIRER:1965, p.183).
No Brasil, já durante a campanha eleitoral para a Presidência da Republica, as diferentes facções ligadas do grande capital não escondiam a sua simpatia pelo candidato defensor da ditadura militar brasileira (1964-1985). Durante essa campanha, na FIESP, a “Elite da indústria brasileira aplaude Bolsonaro e vaia Ciro por criticar reforma trabalhista” (BENITES, 2018).
Esse apoio ganhou ainda mais força durante o governo Bolsonaro, conforme foi demonstrado na calorosa acolhida oferecida, na mesma FIESP, ao Ministro da Economia desse governo, Paulo Guedes, aplaudido de pé pelos empresários, que o qualificaram de “herói” (VENAGLIA, 2019).
O apoio consciente dado pelo grande empresariado a um governo cujo chefe já deixou claro o seu autoritarismo visceral nos remete às conclusões de Hannah Arendt sobre a inexistência de uma suposta “lavagem de cérebro” no apoio massivo dado ao hitlerismo.
Com efeito, não se pode simplesmente atribuí-lo, na Itália, na Alemanha e no Brasil, ao desconhecimento do que representam (ou representaram) os respectivos salvadores da pátria, além de que foram investidos conforme o rito legal nos seus respectivos cargos, legitimados pelo voto popular.
Sem dúvida, na Itália e na Alemanha, os governos foram fortemente pressionados pelas mobilizações nazifascistas, mas poderiam ter resistido e não se pode dizer que se ignorava seus métodos, objetivos e estratégia.
Nas palavras de Arendt: “Cela n’a nullement affaibli le soutien apporté par les masses au totalitarisme qui ne s’explique ni par ignorance,ni par lavage de cerveau” (ARENDT: 1992, p. 95).
Acrescente-se ainda que, para Hannah Arendt, o fascismo não é, como o nazismo, um sistema totalitário. Nas suas palavras: “La domination totalitaire est um type de regime qui n’existe qu’en détruisant le domaine politique de la vie. Elle se fonde sur la désolation, sur l’expérience des individus d’absolue non appartenance au monde, qui est une des expériences le plus radicales et les plus desesperes de l’homme” (1972, p.226).
- REFERÊNCIAS
AREDENT, Hannah. Le système totalitaire. Paris: Editions du Seuil, 1972.
BENITES, Afonso. Elite da indústria aplaude Bolsonaro e vaia Ciro por criticar reforma trabalhista. Folha de São Paulo, São Paulo, 5. Jul.2018.
KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. Rio de Janeiro: Graal,1977.
SHIRER, William. Le Troisième Reich: des origines à la chute. Paris: Stock, 1965.
VENAGLIA, Guilherme. Elite da indústria aplaude de pé o Ministro Paulo Guedes. Folha de São Paulo, São Paulo, 26.6.2019. - • Rubens Pinto Lyra é Doutor em Ciência Política, Professor Emérito da UFPB
- • Contato com o autor: [email protected]
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