Os brasileiros se têm habituado a declarações de políticos caracterizadas pelo auto engano, pelo escárnio e pela impostura, que se tornaram banais na nossa política. Mesmo assim, nada se compara ao farto material produzido por Jair Bolsonaro e seus asseclas a esse respeito.
Não é mais possível justificar tais gestos e atitudes pelo calor da campanha eleitoral. São, agora “de caso pensado”.
Ultrapassando tudo que se possa imaginar, o fanático de extrema-direita Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, esposa uma tese tida como absurda e desonesta por diplomatas, acadêmicos e historiadores europeus especializados no tema: a de que o nazismo foi um movimento de esquerda.
O problema é que ideia tão estapafúrdia é defendida com toda empáfia pelo representante número um do Brasil no concerto das nações, causando indignação, vexame e descrédito.
Para se compreender a gravidade da ofensa basta lembrar que o nazismo é uma ideologia respaldada na crença em uma raça superior (a ariana) e em raças inferiores que eram consideradas por Hitler sub-humanas, escória da humanidade. Por isso, achava normal submetê-las a trabalhos forçados ou tentar exterminá-las, como ocorreu com os judeus.
Guiado pela doutrina nazista, Hitler, que sempre considerou legítimo o recurso à violência contra outros povos, invadiu e ocupou nações e destruiu estados, buscando ampliar seu domínio territorial e político com a ocupação de “espaços vitais” para atingir seu objetivo: a expansão e o triunfo da “raça superior” alemã.
Tudo isso consta do seu livro Minha Luta. Muitos que apoiaram, como um mal menor, a ascensão de Hitler à Chancelaria do Reich para evitar o “perigo comunista” não deram importância ao que ele pregava, achando que eram ideias extravagantes que nunca seriam aplicadas.
Qualquer semelhança com o Brasil de hoje, nesse aspecto, não é mera coincidência.
O preço a pagar pelo nazismo, como sabemos, foi elevadíssimo: uma guerra mundial com 50 milhões de mortos – a maior carnificina da história da humanidade.
Como se vê, os objetivos do nazismo e os métodos que lhe são intrínsecos nada têm a ver com socialistas nem com nenhuma de suas distintas correntes. Elas têm como objetivo comum a realização de uma sociedade igualitária, livre de todas as opressões e, por natureza, hostil a quaisquer ideologias discriminatórias, como a racista.
Mas se a tese delirante de Araújo expressa, sem dúvida, visão primária e maniqueista, parece estar sendo utilizada para que não se preste atenção às semelhanças – a despeito de diferenças essenciais – entre nazi-fascismo e bolsonarismo.
Com efeito, ambos acreditam que seus líderes foram chamados pela Providência para salvar a pátria da desesperança e do caos; ambos foram apoiados pela fina flor das classes dominantes, recompensadas com todas as benesses, o que as levaram a renunciar às suas veleidades democráticas, enquanto aos trabalhadores se negam os mais elementares direitos.
Um e outro elegeram um inimigo comum – os “comunistas”, sempre estigmatizados, assim chamados os opositores do que eles defendem. No Brasil, fabricou-se outro suposto inimigo: a “corrupção”.
Compartilham, como se vê, um maniqueismo entranhado, pois entendem que só os que comungam com os seus ideais querem o bem do país.
Os socialistas foram os que mais derramaram sangue e sacrificaram vidas, na Europa, na luta contra o nazi-fascismo, recebendo reconhecimento de todos pelo seu elevado grau de bravura e patriotismo.
O escárnio perpetrado por Araújo precisa ser repudiado, mas também tornar-se objeto de debate, para que nunca mais os brasileiros optem pelo obscurantismo como política de governo.
- Rubens Pinto Lyra é Doutor em Direito Público e Ciência Política. Professor Emérito da UFPB
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Uma resposta para ULTRAJE, por Rubens Pinto Lyra
Caro Rubens, receba meus pêsames pelo falecimento do se pai e meu amigo Vicente Nóbrega. Estou em Mossoró, motivo pelo qual não compareci sepultamento.