Cartaz de alunos de Medicina causa revolta nas redes sociais

Dopasmina (2)

Um cartaz atribuído a alunos de Medicina da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus de João Pessoa, tem provocado polêmica e indignação nas redes sociais desde ontem (16). Fotografado e disseminado em centenas de postagens na Internet, o cartaz usa o termo ‘Dopasmina’, um trocadilho com a substância dopamina, que tem a ver com movimentos, emoções e memória.

Para os movimentos sociais e entidades que reagiram ao cartaz e publicaram nota de repúdio aos pretensos autores da ofensa, o termo ou expressão ‘Dopasmina’ está claramente ligado ao machismo ao sugerir o ato de ‘dopar as minas’, que na gíria corrente refere-se a mulheres de modo geral.

O Coletivo Feminista Nise da Silveira, que encabeça a nota de repúdio, diz que os estudantes não levaram em consideração a insatisfação de colegas que se sentiram ofendidas pela escolha do termo. Segundo o Coletivo, ‘dopasmina’ é frequentemente utilizado em festas promovidas por cursos de medicina de todo o país. Confira a nota, na íntegra, a partir deste ponto.

NOTA DE REPÚDIO AO TERMO “DOPASMINA” ESCOLHIDO PELA TURMA 99 DO CURSO DE MEDICINA DA UFPB COMO SEU NOME DE TIME

Coletivo Nise da Silveira

O Coletivo Feminista Nise da Silveira (Medicina/UFPB) repudia, por meio desta, a escolha do termo “Dopasmina” como nome do time da turma 99 do curso de medicina da UFPB e, principalmente, as atitudes que os alunos tomaram no dia 16/08/2016 ao defender seu direito de escolha, não levando em consideração a quantidade de colegas ofendidas e desrespeitadas pelo termo escolhido e insistindo em utilizá-lo de forma ameaçadora. Além disso, repudiamos o trato da turma e de outros alunos presentes com o professor Luciano Bezerra Gomes (DPS/CCM-UFPB) que, ao se posicionar publicamente contra o termo e chamar atenção para o fato de que, mesmo toda a turma estando reunida para assistir uma partida de futebol feminino e ovacionando as jogadoras, não tinham respeito com as mulheres e promoviam a violência de gênero e apologia ao estupro, foi vaiado e impedido de continuar sua fala, atrapalhado por gritos e palmas.
O trocadilho dopasmina é um termo bastante utilizado pelos estudantes de medicina de todo o país ao nomear festas e eventos, onde ocorrem diversas tentativas e abusos sexuais às mulheres, a maioria realizada por futuros médicos e acobertada pela própria universidade e centros acadêmicos. É notável a falta de empatia da turma com diversas vítimas e também com as colegas que, mais uma vez, se encontram a mercê do machismo e da cultura do estupro, tendo que vivenciar atitudes como essa e serem vítimas de gaslighting e opressão de gênero fortíssima, que aparenta imperar dentro do curso médico. Além disso, atitudes de apologia ao estupro mancham o nome do curso e da Universidade a que a turma está vinculada, prejudicando diversos alunos de ambos os sexos e professores.
É importante ressaltar que, de acordo com o Artigo 287 do Código Penal (Decreto Lei 2848/40), é crime fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime, sob pena 3 a 6 meses de detenção. Não conseguimos achar outro motivo para a realização de tal apologia a não ser a ignorância, a conformidade e a aceitação da cultura do estupro e do machismo dentro da nossa sociedade, algo que buscamos quebrar e conscientizar acerca da necessidade da equidade de gênero.
Modificamos os cartazes expostos com o termo para “Respeitasmina” e “Juntasmina”, representando a necessidade de respeito e união dentro da sociedade e principalmente dentro do curso médico para que novas atitudes machistas e opressoras não se reproduzam ou se reinventem, destacando que não nos calaremos sob coerção ou ameaça e que estamos abertas para diálogo. Sabemos que as atitudes citadas nessa nota não contam com a anuência de todos os integrantes da turma 99.

Assinam:
– Coletivo Feminista Nise da Silveira (UFPB)
– Coletivo Feminista Geni (FMUSP)
– Liga Acadêmica de Medicina da Família e Comunidade da Paraíba
– Coletivo Contra Opressão (FPS)
– Direção Executiva dos Estudantes de Medicina (DENEM)
– Coletivo Cuidar é Lutar (UFPB)
– Coletivo de Mulheres da DENEM
– Coletivo de Mulheres da NE-2
– Projeto Partejar (UFPB)
– Coletivo pela Humanização do Parto e do Nascimento na Paraíba
– Coletivo de Mulheres da UFT
– Centro Acadêmico Rocha Lima (MEDICINA USP-RP)
– Centro Acadêmico de Fisioterapia – UFPB (Gestão “O Novo Sempre Vem”)
– Centro Acadêmico de Psicologia – UFPB
– Frente Feminista da UFPB
– CAUS/UFPE
– Coletivo de Mulheres da Medicina UERJ
– Coletivo de Medicina Estacio
– COFEM FMP/FASE
– Coletivo de Mulheres UFJF
– Centro Acadêmico de Terapia Ocupacional – UFPB
– Projeto Saúde, Direito e Diversidade UFPB
– CAMUP – UPE/Garanhuns
– Frente Paraibana Antimanicomial
– Centro Acadêmico de Educação Física – UFPB
– Levante Popular da Juventude
– Movimento Zoada – UFPE
– DADSF – Diretório Acadêmico de Direito da UFPE
– NESC – Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva
– Rede de Mulheres em Articulação da Paraiba
– Frente Paraibana Drogas e Direitos Humanos
– Grupo de Estudos Saúde Mental e Direitos Humanos UFPB
– Diretório Acadêmico de Fisioterapia – UFPE
– Coletivo Alvorada 196
– Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares

(Valéria Sinésio)

É BOM ESCLARECER
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