Transposição volta a ser interrompida e vazão não chega a 700 litros por segundos

Imagem do canal do Eixo Leste que rompeu no dia 10 de junho último

A informação é de Francisco Jácome Sarmento, Professor Doutor da UFPB, especialista em recursos hídricos. Ele monitorou o fornecimento de água do Eixo Leste para o açude de Boqueirão no período de 10 de junho último até esta quinta-feira (13). Concluiu que se a vazão permanecer nos níveis atuais o fim do racionamento em Campina Grande deve ser adiado para o final de setembro.

As observações, cálculos e estimativas do Professor Sarmento – transcritas adiante – foram repassadas hoje ao blog. No final de suas considerações, ele mostra porque Michel Temer inaugurou uma obra inconclusa quando esteve na Paraíba em 10 de maio deste ano.

Como prova do que afirma, Sarmento apresenta cópia de edital de licitação através da qual o governo pretende contratar empresa para concluir e corrigir defeitos das obras do Eixo Leste da Transposição. Que voltou a interromper seu fluxo de água rumo a Boqueirão no último dia 9.

O que diz Sarmento

Peguei os dados e fiz umas continhas bem simples que permitem saber quanto de água está entrando em Boqueirão, ainda que o valor obtido inclua águas do Eixo Leste e de uma ou outra chuvinha que cai na região. O período considerado foi apenas do dia da ruptura do Eixo Leste (10/06/2017) até hoje (13/07/2017). Na Tabela abaixo tem-se:

  • 1a. Coluna: a data;
  • 2a. Coluna: o volume acumulado em Boqueirão em metros cúbicos;
  • 3a. Coluna: o volume que entra diariamente no açude (transposição + uma outra água de chuva), já descontada a evaporação e a retirada de água para Campina Grande e outras cidades;
  • 4a. Coluna: trata-se dos volumes da 3a. coluna convertidos em vazão em litros por segundo.
DATAVolume Acumulado (m³)Volume que chega (m³)Vazão que chega (L/s)
10/jun/1725.133.000293.0003.391
11/jun/1725.427.000294.0003.403
12/jun/1725.672.000245.0002.836
13/jun/1725.867.000195.0002.257
14/jun/1726.063.000196.0002.269
15/jun/1726.283.000220.0002.546
16/jun/1726.512.000229.0002.650
17/jun/1726.683.000171.0001.979
18/jun/1726.797.000114.0001.319
19/jun/1726.854.00057.000660
20/jun/1726.911.00057.000660
21/jun/1726.910.00000
22/jun/1726.970.00000
23/jun/1726.970.00000
24/jun/1727.140.000170.0001.968
25/jun/1727.310.000170.0001.968
26/jun/1727.480.000170.0001.968
27/jun/1727.650.000170.0001.968
28/jun/1727.820.000170.0001.968
29/jun/1728.000.000180.0002.083
30/jun/1728.170.000170.0001.968
01/jul/1728.450.000280.0003.241
02/jul/1728.680.000230.0002.662
03/jul/1728.910.000230.0002.662
04/jul/1729.020.000110.0001.273
05/jul/1729.190.000170.0001.968
06/jul/1729.310.000120.0001.389
07/jul/1729.420.000110.0001.273
08/jul/1729.540.000120.0001.389
09/jul/1729.540.00000
10/jul/1729.650.000110.0001.273
11/jul/1729.710.00060.000694
12/jul/1729.760.00050.000579
13/jul/1729.820.00060.000694

A Tabela acima evidencia fatos concretos:

1) Os reflexos do rompimento do Eixo Leste ocorrido no dia 10/06/2017 somente apareceram em Boqueirão nos dias 21, 22 e 23 de junho, quando o volume fornecido é zero. 

2) A transposição nunca chegou a fornecer sequer 4.500 L/s (quatro mil e quinhentos litros por segundo), muito menos os tais prometidos 9.000 L/s (nove mil litros por segundo). Isso nem no período retratado na Tabela acima nem ao longo de toda a sua operação.

3) Semana passada, mais precisamente em 9 de julho, mais uma vez há uma interrupção no fornecimento de água da transposição. Chequei com meus amigos, mas eles estão proibidos de falar. Mas o mais provável é que os problemas que apontamos na obra tenham voltado a ficar fora de controle. Note no dia 10 de julho houve um esboço de reação – a vazão sobe para 1.273 L/s (um mil duzentos e setenta e três litros por segundo), mas nos dias seguintes, até hoje (13), não chega a 700 L/s (setecentos litros por segundo).

4) Se a situação identificada no item 3) acima perdurar, o racionamento em Campina Grande somente poderá ser suspenso em 74 dias a contar de amanhã. Pois, conforme a Cagepa (e eles estão certos), o fim do racionamento somente ocorrerá quando Boqueirão chagar na casa do 34 milhões de m³. Hoje está com 29.820.000 m³ (tabela acima). Faltam portanto pouco mais de quatro milhões de m³. Se perdurarem os valores de fornecimento de água mostrado na Tabela acima para os últimos três dias o racionamento somente terminará em 74 dias, ou seja, 25 de setembro de 2017. Bom, antes tarde do que nunca.

5) A oscilação na vazão (ou no volume) fornecida, mostrada na tabela acima, é prova da precariedade da operação do projeto, que não consegue oferecer uma vazão firme e confiável.

Por fim, meu caro Rubens, veja abaixo mais uma confissão do próprio governo federal de que Temer inaugurou uma obra inconclusa. Trata-se de um Edital do Ministério da Integração licitando a pré-operação da transposição entre outros serviços. Ou seja, somente no dia 25 de julho serão abertas as propostas para contratação de uma empresa para realizar, não a operação do projeto, mas sim a pré-operação. É nessa chamada pré-operação que se cataloga todos os problemas para depois, resolvê-los, mediante ou não mais contratações. 

Não admira que a vazão fornecida oscile tanto e haja tanta fragilidade a ponto de interromper totalmente o fluxo de água

Saudações.

Francisco Sarmento

É BOM ESCLARECER
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8 Respostas para Transposição volta a ser interrompida e vazão não chega a 700 litros por segundos

  1. Akira D. Kobayashi escreveu:

    Trágico demais o que acontece no eixo leste atualmente. Um descaso gigantesco com povo que vem sofrendo com racionamento durante tanto tempo.

    É de impressionar como a gestão de um recurso tão importante pra Paraíba seja tratada dessa forma (com a maior incompetência que se consiga). Faz uns quatro meses que o Professor Sarmento alertou sobre as fragilidades do sistema, e rapidamente algumas “almas vendidas” tiveram a coragem (cara de pau) de falar que era alarmismo.

    No dia 22 de junho de 2017, numa entrevista ao “Bom Dia Paraíba”, o Presidente da Aesa afirmou que o racionamento acabaria no final de julho, ainda falou que um dia antes dessa entrevista, ele mesmo tinha constatado uma vazão de chegada em Monteiro de 5,8 m3/s.

    Agora, levando em consideração a vazão constatada pelo caríssimo Presidente da Aesa no dia 21 de junho, as informações de vazões repassadas pelo Professor (informações da própria Aesa) e que o tempo de resposta em Boqueirão para essa vazão medida em Monteiro seja próximo de 10, 15 ou 20 dias, chega-se a conclusão de que ou Presidente da Aesa se enganou muito ou existe uma perda no sistema de no mínimo 50 %.
    Realmente, é muito preocupante a situação da gestão dos recursos hídricos na Paraíba.

  2. Hermógenes Torres escreveu:

    Foi esse professor que desafiou o governo do estado a acabar com o racionamento em março, já que diziam que a obra estava pronta e sem problemas. Agora tai, a turma da Cagepa concordando com ele….

  3. Marcela Freitas escreveu:

    Se constata, mais uma vez, a irresponsabilidade por parte dos órgãos competentes e do governo em inaugurar uma obra tão esperada, e de tamanha importância, com tantas falhas e problemas. As constatações realizadas pelo professor Sarmento provam que o governo está mais preocupado em melhorar sua imagem, através de uma obra incompleta, do que realmente atender a necessidade da população, que continua sofrendo com o racionamento hídrico.

  4. Caio Abreu escreveu:

    Até setembro !!??!?? Ninguém merece um negócio desse…. Li agora que a Aesa tá dizendo que nem sabe quando vai acabar. Como é que pode isso? Quando esse professor dizia que não dava pra confiar nessa obra num era pra menos. E esses caras do governo do estado ainda criticaram o professor, que apontou todos os problemas.

  5. roberto escreveu:

    Cade a AESA???

  6. Carlos Veloso escreveu:

    Mas, vem cá, essa cara não vem dizendo isso desde a inauguração. Depois disseram que iriam concertar tudo que tava errado. Pelo que to vendo não concertaram foi nada. O negócio já estourou uma vez. Agora parece que de novo. E essa turma de ricardo Coutinho num tava dizendo que tava tudo bem???? Um tal João da Aesa???

  7. Alberto Morais escreveu:

    Isso é um absurdo. Esse professor já havia alertado pra esses problemas desde que inauguraram a obra. Até quando teremos que viver nesse racionamento???

  8. Alberto Morais escreveu:

    É lamentável que o professor tenha alertado para a precariedade dessa obra inaugurada pelos golpistas desde março e só agora parece que caíram na real.