“Quando eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo”
(‘Emoções’, Roberto Carlos)
São tantas as emoções, que haja coração! Uma semana depois de ser campeão da Taça Libertadores, voltamos a erguer outra taça! Pois eis que o grande dia chegou: após três décadas sem um título importante, a nossa estrela solitária voltou a brilhar: o Botafogo de Futebol e Regatas voltou a ser campeão brasileiro! Dentro desse período não posso esquecer a Copa CONMEBOL de 1993. Mas não chega à importância de uma Libertadores.
Já o Campeonato Brasileiro, a última vez que isso aconteceu foi com o time maravilhoso liderado pelo irreverente Túlio Maravilha, e dirigido por Paulo Autuori, em 1995. Ao longo desse caminho, o tempo de uma nova geração, nós torcedores alvinegros amargamos muitas decepções, como três rebaixamentos para a segunda divisão.
Em 2007 chegamos perto, com um time que era uma verdadeira seleção, comandado por Cuca, e tendo como astro maior Dodô, o Artilheiro dos gols bonitos. Esse time jogava por arte!
Ano passado quase chegamos lá, com um time que tinha um futebol encantador, repleto de jogadores paraibanos. Porém a equipe subitamente desabou, vítima das “forças ocultas.” Tenho forte convicção que foram essas tais de BET, praga que invadiu o Brasil em 2023. Mas este ano ninguém segurou o Glorioso, e fomos campeões do Brasil, apenas uma semana após termos conquistado o título da Taça Libertadores, em Buenos Aires!
São tantas emoções, me sinto em estado de graça, flutuando 10 centímetros acima do solo! Sou capaz de atravessar uma piscina sem molhar os pés!
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Tanta glória de repente, deve-se muito ao fato de que o time foi comprado por um megaempresário americano, John Textor, que é proprietário de vários times pelo mundo. Ele lembra (no bom sentido, claro) o bicheiro Emil Pinheiro, que em 1989 investiu no Botafogo, e tirou o time do longo jejum de 21 anos sem título.
Retornando à 1ª Divisão do futebol brasileiro, após passar o ano de 2020 na Segundona, em 2022 o time tornou-se Sociedade Anônima de Futebol – SAF, que permite que uma equipe brasileira se torne uma empresa. Já no ano seguinte, 2023, apresentou um futebol encantador, graças aos jogadores adquiridos pela SAF, e ao técnico português Luiz Castro, que abandonou o clube, seguindo para as Arábias. Mas não logrou êxito.
Este ano, com outro técnico português, o excelente Artur Jorge, finalmente conquistamos os dois grandes títulos!
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A superstição do torcedor do Botafogo é proverbial. Quando o time perde não admite que jogou mal. Sempre para ele tem por trás alguma causa extrafutebol: o goleiro não se benzeu ao entrar no campo; o atacante pisou no campo com o pé esquerdo; o meião veio de cor trocada… E por aí vai.
Existem histórias deliciosas que ilustram essa superstição. Um dos maiores torcedores do Botafogo que eu conheci, João José Moreira Neto, era também o mais supersticioso.
No dia 21 de junho de 1989 o Botafogo estava disputando o campeonato carioca com o poderoso Flamengo. Estava há 21 anos sem título, e todos nós estávamos muito nervosos. Moreira assistia ao jogo em seu gabinete privado, na sua casa, quando Zico foi cobrar uma falta perigosa. Era tão perto da área que, para Zico, era como se fosse um pênalti.
Para não ver o gol do Flamengo, Moreira aproveitou e entrou no banheiro. Quando estava lá dentro, Zico errou a falta, o goleiro Ricardo Cruz jogou a bola para Carlos Alberto, que correu e lançou para Mazolinha. Este lançou para Maurício, que entrando na área do Flamengo fez o gol do título.
Pois bem, Moreira não quis mais voltar para o gabinete: tinha medo de sair do banheiro e o Flamengo empatar! Assistiu o resto do jogo de dentro do banheiro, através de um jogo de espelho que Lena, sua esposa, proporcionou, usando a penteadeira!
A seu convite, costumávamos assistir ao jogo em sua casa: eu, meu irmão Silvino, o engenheiro Fernando Dias e o grande Soutinho. Certa vez, numa tarde de domingo fomos assistir um jogo do Botafogo contra o Vasco.
Nessa tarde Soutinho, vaidoso, chegou exibindo a sua nova camisa do Botafogo. Começou o primeiro tempo, e só dava Botafogo. Atacava, atacava, e a bola não entrava. Aí o Vasco fez um gol: 1 a 0!
Percebi que Moreira passou a olhar de viés para Soutinho. No intervalo descemos para apreciar um dos deliciosos pudins que Lena fazia. Mas Moreira não acompanhou. Logo mais ele chegou com uma camisa polo sua e atirou para Soutinho, dizendo: “Troca. Você nunca assistiu jogo aqui com camisa nova!”
Depois disso o Botafogo virou o jogo, e venceu por 3 a 1! Moreira falou: “Eu num disse?!”
Esse era o Grande João José Moreira Neto, que deve ter assistido as nossas recentes conquistas na TV lá do céu. O nosso amigo comum, também torcedor José William Montenegro, que o conhecia muito bem, imagina Moreira irrequieto, vibrando, dando trabalho a São Pedro:
“Moreira, fique quieto! Moreira, silêncio! Moreira, olha o respeito!”
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Nós temos duas grandes torcidas alvinegras, aqui na cidade: a JPFogo, mais antiga, liderada por Joca Peixoto, e a Torcida do Ricão.
Ricardo Jorge, ou simplesmente Ricão, o líder e presidente da torcida que leva o seu nome, fez em sua casa um, digamos, “segmento” de estádio. Até arquibancada tem!
As mesas e cadeiras dão para uma parede que é o imenso telão. A sensação de que você está num estádio é tão grande que, quando a bola passa raspando a trave, você ouve: “Uuuuhhhh!”
Lá costumamos assistir as partidas. Além do próprio Ricão, algumas figuras se destacam, como o Professor Valdir; o irreverente Doutô, com sua boca solta; Beto Dodô, o analista; o irrequieto Chumbinho; Bombinha, que no intervalo proporciona um show de Sidney Magal; Joca, uma verdadeira enciclopédia do futebol; os irmãos Nelson e Nemésio; Luciano Cartaxo; Jerônimo; Markus Norat; José Ronaldo.
Também tem o grande André, torcedor muito prático, que zela por Ricão e pela torcida, proporcionando acesso às melhores viagens; o fanático Almiro; o psiquiatra Dinarte, que tem na Torcida do Ricão uma potencial e infindável clientela; os gêmeos Anibal e Alfredo; Rô, a musa da Torcida do Ricão; Jair, o Homem da Cobra; meus filhos Ricardo e Ana Laura; o bom-baiano Teddy.
Quando às vezes Ricão, observando os presentes antes de iniciar a partida, desconfia que tem algum flamenguista infiltrado no público. Então, quando o jogo começa ele baixa o som da TV, pega o microfone e faz o seguinte “apelo”:
– Aqui é uma torcida exclusiva de botafoguenses. Se você que está me ouvindo num for alvinegro, por gentileza, pague a sua conta e retire-se discretamente!”. Dificilmente fica um!
Lá, os torcedores se adoram. Todos se tratam carinhosamente por “misera”, “carbúnculo”, e outras palavras tão amáveis!
O decano da torcida é Seu Edgar, que não passa um bom momento, às vésperas do seu centenário.
A superstição da torcida pode levar a conclusões hilárias. Quando o Botafogo perde, a culpa nunca é porque o time jogou mal. Sempre tem uma causa externa. Algumas das desculpas são hilárias:
– Não devia ter trocado a velha cueca!
– Ih! Logo hoje, que minha esposa lavou a cueca!
– Ih! Entrei aqui pisando com o pé esquerdo!
– Não devia ter assistido pela TV Globo: a Globo dá azar ao nosso time!
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Em dias de jogo é comum encontramos uma figura inusitada no corredor de entrada: o Picolezeiro, que lá se instala com o seu carrinho, faturando algum dinheiro.
Pois não é que na derrota do time na final de um dos campeonatos cariocas, quiseram por culpa do insucesso justamente no pobre?!? Chegaram a exigir a cabeça dele. Mas Ricão investigou, e concluiu que o pé-frio pertencia a outra figura que por lá frequentava, em dias de jogo.
QUEM?! QUEM?! O MUDINHO!!
Pois é, lá também aparecia o Mudinho, figura esquisita, lembrando muito um duende medieval. Pois não é que alguém flagrou o Mudinho rindo, justo no momento em que o Botafogo levava um gol?!
Ah, num prestou não! O Mudinho quase apanha. Depois descobriram que o Mudinho é torcedor do Vasco da Gama. Cabra-de-peia! E assim salvou-se o Picolezeiro. Ainda bem que não deram ao Mudinho o novo endereço da Torcida!
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Pois é, querido leitor, torcedor de qualquer time, esse é o Botafogo que eu gosto, esse é o Botafogo que eu mereço… ÊPA! Essa música é um dos hinos da nossa Torcida, cantado por Beth Carvalho!
Mas, como estava dizendo, caro leitor, estamos vivendo momentos de júbilo, de uma alegria como muitos de nós há muito tempo não tínhamos. E que os outros torcedores mais jovens nunca tiveram o prazer de sentir.
Salve o Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas, campeão dos campeões!
• Fotos: Acervo Torcida do Ricão
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