EM BUSCA DO MEU SANTO GRAAL NA ARGENTINA, por José Mário Espínola

Demorei um pouco para aceitar-me torcedor de um time de futebol. Tenho irmãos fanáticos por um time, como Humberto, torcedor do Vasco da Gama, e João Neto, fanático pelo Fluminense.

Paulo também era vascaíno, Silvino, botafoguense, e Francisco Júnior, também tricolor das Laranjeiras. Ambos torcedores um pouco mais comedidos, como meu pai, Francisco Espínola, que torcia pelo Botafogo.

Mas o fato é que até os 17 anos eu não ligava muito para times, apenas uma leve simpatia pelo Botafogo. Só naquela idade é que me decidí a acompanhar o Glorioso de General Severiano. E assim tornei-me alvinegro, talvez por influência de Papai e de Silvino, irmão mais próximo a mim, na idade.

Tenho três filhos. Henrique é torcedor do Fluminense, provavelmente por influência do avô materno, Dr. Walter Sarmento, que era tricolor. Ricardo torce intensamente pelo Botafogo carioca, e como eu também é um torcedor com os pés no chão. Já Ana Laura…

Ah! Aninha é terrivelmente fanática pelo Botafogo. É dessas torcedoras que se envolvem emocionalmente, a sua paixão é explícita, inequívoca. Morre pelo time, que ama apaixonadamente. Por ele faz qualquer sacrifício, como o que realizou agora. Conto já.

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Depois de uma campanha extraordinária, e esquisita, como a do ano passado, 2023, quando liderou o Campeonato Brasileiro por longo tempo e depois subitamente caiu, eis que o Botafogo volta a fazer a mesma campanha, dessa vez mais seguro, e chega ao final na liderança para arrebatar de vez e por mérito a taça do Brasileirão 2024.

 Entre 1995, quando se tornou campeão brasileiro com Túlio Maravilha e seus comandados, e o campeonato de 2023, quando deixou todo mundo encantado, o Botafogo teve altos e baixos. Mais baixos que altos, pois chegou a sofrer rebaixamento por duas vezes.

Depois que o time foi comprado por um milionário americano, John Textor, tudo mudou radicalmente. Desde o ano passado que o Glorioso surfa na crista da onda do futebol brasileiro. E no dia 30 de novembro último disputou o título de Campeão da Libertadores com a valorosa equipe do Atlético Mineiro, uma das melhores do país. E das Américas!

Para nossa preocupação o jogo foi marcado, pela Conmebol, para ser disputado no belíssimo Estádio Monumental de Nuñez, do River Plate, em Buenos Aires.

O panorama não estava bom para que eu me ausentasse de João Pessoa. Porém, sem que eu soubesse, a família se organizou e me despachou para a glória! Isso mesmo: meus irmãos Francisca Luiza, Humberto, Silvino, Ana Cândida e Francisco Júnior, com o apoio logístico de Mariana Ana Laura e Hugo Alexandre, assessorados por Germano e Paulo Francisco, tornaram possível para mim viver esse momento único em Buenos Aires!

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Ao longo da viagem conheci muitos torcedores, botafoguenses como eu, cada um com a sua história de vida. O voo Rio de Janeiro-Buenos Aires foi praticamente um voo fretado: dos 192 passageiros, 191 eram alvinegros!

As aeromoças me disseram que centenas de voos semelhantes estavam acontecendo nos últimos dias. Muitos torcedores, do Sul e Sudeste, realizaram mesmo foi um bate-e-volta!

O dr. Márcio Fernandes, por exemplo, promotor de justiça no norte do Rio de Janeiro, carregou a sua família para ter a oportunidade viver esse momento inédito e retornar à noite.

Dr. Roberto Sérgio e Luiz Carlos Soares, paraibanos, também carregaram a família. O fanático Valdir Assessórios  largou as autopeças por uns dias e partiu para a glória!

Muitos fizeram roteiros mais longos, adaptados às suas conveniências. Foi o caso de Ana Laura e boa parte da torcida pessoense.

Capitaniados pelo incansável André, voaram até Foz do Iguaçú, cruzaram a fronteira a pé, uns para Puerto Iguazu, na Argentina, outros para Ciudad del Leste e depois Assunção, no Paraguai, e de lá tomaram outro avião de uma companhia local, até Buenos Aires. Para voltar, seguiram o mesmo trajeto, na ordem inversa.

Alguns desses aparelhos eram tão usados que eles tiveram a impressão de que batiam as asas para levantar voo!

Muitos dos que escolheram viajar usando o Paraguai esbarraram num problema inusitado: a necessidade de comprovar a vacinação contra febre amarela, pois no Paraguai ainda existe a doença. Que aventuras!

José Mário e a filha Ana Laura no Monumental, em Buenos Aires

E assim, ao som do bandonion de Astor Piazzola, na voz inconfundivelmente dramática de Carlos Gardel, quase na hora do jogo, pisei em solo argentino, onde Ana Laura esperava ansiosa para me levar ao estádio. Ela e a turma do Ricão já tinham tomado conhecimento de tudo o que fosse bom na cidade.

Depois de uma viajem péssima, cheia de etapas demoradas e cansativas, cheguei tarde e exausto em Buenos Aires, em cima da hora do jogo e consequentemente no estádio, onde não conseguimos lugar para sentar.

Na arquibancada não se tem acesso às informações, o que não acontecia nos tempos do radinho de pilha. Pra você ter uma idéia, só depois do jogo é que ficamos sabendo que o Botafogo jogou com 10 desde o 1º minuto, devido à expulsão de Gregore!

O meu setor estava superlotado. Eu e Ana Laura conseguimos um ângulo junto a uma grade que nos separava do setor da imprensa internacional.

Mas só víamos metade do campo. Não vimos, por exemplo, os dois primeiros gols, acontecidos no primeiro tempo. A nossa sorte é que ao fundo, sobre o setor da torcida do Atlético Mineiro, havia um imenso telão.

A alegria era geral, porém. E contagiante: todos os seguranças e funcionários do estádio nos trataram bem demais, facilitando sempre que podiam.

Em torno de nós, as mesmas manifestações de fanatismo que costumamos ver nas nossas torcidas aqui em João Pessoa e no resto do Brasil, com destaque para a JPFogo e a Torcida do Ricão.

Depois do apito final do juiz, o estádio, ou melhor, a nossa torcida explodiu! Ana Laura era um choro só, registrando como podia o momento que estávamos vivendo.

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A grande comemoração foi em Porto Madero, onde estavam presentes alguns ídolos. Como o inesquecível Túlio Maravilha, herói do título de campeão brasileiro de 1995. Também outros torcedores ilustres, como Hélio de La Peña, grande humorista.

Lá, sob a proteção de Renan, seu amigo de infância, e dos baianos Teddy Gonçalves e sua filha Laura, dois botafoguenses maravilhosos que vieram enriquecer a torcida paraibana, Ana Laura se divertiu bastante, até que no meio da madrugada a polícia encerrou a brincadeira, botando todo mundo pra dormir!A cidade de Buenos Aires acolheu muito bem as duas torcidas alvinegras. O acolhimento dos argentinos foi realmente comovente: eles nos trataram bem demais!

A cidade oferecendo um ar de segurança, não aconteceu nada de grave, enquanto estivemos lá. Mais de 70 mil torcedores, pertencentes às duas torcidas estrangeiras, 50 mil dos quais botafoguenses, tomaram conta da capital argentina, mas não ocorreu nenhum incidente! A imprensa argentina era só elogios aos torcedores brasileños.

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Muitos argentinos estão satisfeitos com o novo governo, principalmente devido ao controle da inflação estúpida que estava assolando o país. Mas estão perdendo direitos conquistados ao longo da vida, como a aposentadoria. E tudo está estupidamente mais caro do que um ano atrás.

Observamos cenas preocupantes, como pessoas com aspecto de classe média revolvendo lixo, à procura do que comer. Em Buenos Aires os preços de tudo estão muito mais elevados. E dentro do estádio estava muito pior do que fora.

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Dias depois voltei para casa exausto, porém feliz. Esse título foi o meu cálice sagrado, que fui buscar na Argentina. Um troféu em blanco, negro y plata!

E olha que é só o começo!