HOMOFOBIA ESTRUTURAL NO BRASIL, por Palmari Lucena

Em pleno Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho no Brasil, Leo Nunes, um jovem de 24 anos, nutria a esperança de um novo começo. Habitante de São Paulo, ele havia passado dias trocando mensagens com alguém que conhecera no Hornet, um aplicativo de namoro gay popular entre a comunidade LGBT. O encontro estava marcado para o bairro de Sacomã, um cenário típico da classe média paulistana. No entanto, o que deveria ser o início de algo promissor, transformou-se em uma tragédia.

O desenrolar dos acontecimentos, capturado por uma câmera de segurança, revelou o horror: dois homens em uma motocicleta abordaram Nunes no beco onde ele esperava. Em um piscar de olhos, roubaram seu telefone e silenciaram sua vida com um disparo. A brutalidade do ato deixou marcas profundas, não apenas na família, que compartilhou detalhes da investigação, mas também na comunidade LGBT do país.

A polícia de São Paulo investiga o caso como um roubo seguido de homicídio, mas o silêncio em torno dos detalhes ecoa uma sensação de insegurança e impotência. Leo Nunes não foi uma exceção, mas parte de uma triste sequência de crimes que vêm assolando a comunidade gay no Brasil. Desde março de 2024, pelo menos cinco homens gays foram assassinados após encontros marcados via aplicativos de namoro. Além disso, inúmeros relatos nas redes sociais descrevem roubos à mão armada, todos seguindo um padrão cruel: perfis falsos que atraem vítimas para armadilhas fatais.

Esses crimes não apenas abalam a segurança individual, mas escancaram a vulnerabilidade imposta pela homofobia estrutural à comunidade LGBT. Como destacou Wanderley Montanholi, advogado de Heleno Veggi Dumba, outro jovem gay morto em circunstâncias semelhantes: “Os criminosos sabem que as pessoas LGBT são vulneráveis. Sabem que serão mais facilmente intimidadas.”

O caso de Nunes se soma a uma estatística alarmante: crimes de ódio contra a comunidade LGBT no Brasil, um país onde a resistência em categorizar tais atos como homofobia ainda é flagrante. Embora o Supremo Tribunal Federal tenha codificado a homofobia como crime em 2019, a realidade nas delegacias e tribunais segue outra lógica. A relutância em reconhecer a natureza homofóbica desses crimes impede que muitos busquem justiça, aprisionados no medo de que a denúncia possa trazer mais danos do que soluções.

Ainda mais cruel é a constatação de que, mesmo em uma metrópole como São Paulo, que abriga a maior parada do orgulho LGBT do mundo, a segurança para essa comunidade permanece frágil. Leo Nunes, que havia deixado a pequena Cambuquira em busca de um futuro promissor na capital, viu seus sonhos interrompidos. Ele desejava ser psicoterapeuta, ajudar aqueles que lutam contra a falta de moradia e o vício. Em vez disso, tornou-se mais um nome na lista de vítimas de uma sociedade que ainda precisa evoluir.

A morte de Nunes, assim como a de tantos outros, não deveria ser apenas mais um número. Ela é um clamor por justiça, por reconhecimento e, acima de tudo, por mudança. A resistência em categorizar esses crimes pelo que realmente são – atos de ódio motivados por preconceito – só perpetua o ciclo de violência. O medo de denunciar e a vergonha que impede as vítimas de buscarem ajuda são reflexos de uma sociedade que ainda precisa confrontar seus próprios demônios.

Enquanto a família de Leo Nunes lamenta a perda irreparável, agarrando-se à memória do jovem que desejava ajudar os outros, cabe à sociedade brasileira refletir sobre os caminhos que precisa trilhar para garantir que vidas como a dele não sejam perdidas em vão. O futuro de uma nação inclusiva e segura depende de como escolhemos agir diante dessas tragédias. É preciso mais do que palavras, é preciso mudança.

• Reproduzido de palmarinaestrada.com.br 

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