ERA FELIZ E NÃO SABIA, por Babyne Gouvêa

Eleito governador da Paraíba finalmente em 1994, Antônio Mariz viria a falecer em setembro de 1995, menos de nove meses após a sua posse (Foto: acervo Josélio Carneiro)

O ano era 1982, ano de alvíssaras. Afinal, o brasileiro ia às urnas depois de um longo tempo de proibições. Lampejos de esperança do retorno à democracia davam sinais com as eleições diretas para governador, interrompidas durante a ditadura militar.

A perspectiva de poder votar despertou na população anseio de participar efetivamente do pleito. Era um tempo bom de se envolver nas eleições.

Seguindo essa lógica foi relativamente fácil o engajamento na campanha do PMDB da Paraíba. Encerrado o horário do ofício partíamos para cidades próximas à capital para acompanhar a caravana dos nossos candidatos.

Numa dessas empreitadas partimos à noite para Pedras de Fogo, cidade paraibana que divide território com Itambé, cidade pernambucana.

Estranho entender a logística dos palanques, mas logo compreendida. De um lado o PMDB da PB reunido na boleia de um caminhão, muito usada para esse fim, à época. Do outro lado, em solo pernambucano, o PMDB discursava utilizando instalações semelhantes.

O ambiente entre os eleitores era civilizado, e o respeito ditava as normas entre adeptos e opositores. Esse clima proporcionava conforto à população pois não havia espaço para animosidades.

Santinhos, faixas e adesivos eram distribuídos e havia receptividade por parte de todos os presentes, independentemente de apoiar o PMDB ou PDS, principais partidos no páreo.

O cansaço, muitas vezes, batia e o jeito era dormir no caminhão, com risco de servir de obstáculo. Foi o que aconteceu. O candidato ao Senado de Pernambuco, Cid Sampaio, quis ser cordial com os colegas de partido do estado vizinho e tropeçou num corpo sonolento. Cheirou o chão do caminhão, literalmente.

A escada colocada para “alçar” o palanque enfrentava congestionamentos, num sobe e desce frenético. Esbarrão com o candidato ao governo da Paraíba, Antônio Mariz, era o desejo de todos os partidários. Orador simpático, talentoso e defensor dos humildes me fez deixar de lado a ética, como mesária naquele ano, para lhe dar um abraço. Os demais colegas de mesa seguiram o meu comportamento.

Naquela noite em Pedras de Fogo fomos prestigiados por presenciar o abraço da dupla peemedebista Antônio Mariz e Marcos Freire, candidato ao governo de Pernambuco, ambos com verve de estontear até o eleitor menos informado.

Os ânimos para as eleições convergiam para uma ansiedade coletiva, em face de uma longa espera imposta pelo regime militar. O estado emocional dos eleitores em nada comprometia a sua conduta de cidadão. Tudo ocorria em clima civilizatório.

Hoje, hostilidade impera contra eleitores. Insultos, mentiras, ódio são destilados intimidando os contrários à frente ditatorial. Neste cenário horrendo resta-me reconhecer que era feliz e não sabia.

É BOM ESCLARECER
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